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Enviada em 21 de julho de 2025
O Fim da Picada – Saci, Exu e Satanistas - Crítica

O terceiro mundo explodiu!

Antes de aparecerem os caracteres com o nome do longa-metragem na tela, o filme já se apresenta diferente da concepção que a maioria das pessoas tem de cinema, principalmente na abertura que vai direto para a ação, com ritual satânico, orgia e necrofilia.

O protagonista Macário (Ricardo Vuono) bebe vinho com Satã e pede a maligna entidade em forma de mulher levá-lo para São Paulo. A câmera participa desse lisérgico encontro, como um corpo quando sofre os efeitos do excesso do álcool, ela treme e desfoca. Numa espécie de pacto com o diabo, Macário, fuma um cachimbo que o translucifera.

(O Fim da Picada – Saci, Exu e Satanistas - Brasil, 2008, 80 min. 35mm) é o primeiro longa-metragem de Christian Saghaard, diretor de cinco filmes curta-metragem, como Demônios (1999) e Isabel e o Cachorro Flautista (2002). O Fim da Picada representa uma continuidade na escola do chamado Cinema Marginal, iniciada no final da década de 60. Livremente inspirado na obra Macário (1852), do escritor Álvares de Azevedo (1831-1852), o filme utiliza elementos da estética experimental do crítico e diretor Jairo Ferreira (1945-2003).

Não é por acaso, mas sim em forma de homenagem que observamos pontas no filme de diversos cineastas que construíram essa corrente cinematográfica, intitulada também como Cinema de Invenção. Ivan Cardoso vende cachorro-quente, José Mojica Marins contracena com Macário; Hermano Penna, Aloysio Raulino e Carlos Reichenbach estão reunidos num bar perto da Boca do Lixo. Essa foi uma região de São Paulo, que ficou conhecida por ser o local desses cineastas marginais e Reichenbach com a sua voz aterrorizante, diz “Antigamente o diabo procurava os homens, hoje em dia os homens é que vão atrás do diabo”.

Só a coragem de um cineasta da atual geração do cinema brasileiro em fazer uma obra com essas referências experimentais, nos tempos atuais é motivo de admiração. Mas, Christian tem seu lado autoral, trabalha muito bem a relação com o non-sense e o fantástico. Por exemplo, na cena que Macário surge vestido com uma roupa e capacete de dedetizador. Ele anda na rua cambaleando de tanto beber, lembra um astronauta perdido no espaço, ao som de Assim Falou Zaratrusta, de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968).

Além da direção, o roteiro também é de Saghaard, que inter-relaciona de forma primorosa personagens aparentemente desconexos um do outro. Um garoto cheira cola, a mulher rica com filho no carro, uma mulher que tem um cachorro, homens que bebem num bar, o caos etc.

Uma outra homenagem, porém mais indireta é para o clássico do genial Rogério Sganzerla, O Bandido da Luz Vermelha (1968), pois o terceiro mundo novamente explodiu!

Ousadias cinematográficas, críticas sociais, simbologias religiosas, referências pops que se misturam com folclore fazem, O Fim da Picada, um grande filme.

Texto publicado originalmente em 2009

Sergio Batisteli é jornalista, criador de conteúdo do 'Blog do Sergio Batisteli - CineConecta'
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