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    Para Sempre Teu Caio F.
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Para Sempre Teu Caio F.

    Filme de marca

    por Bruno Carmelo

    O documentário de Candé Salles pretende homenagear o grande escritor Caio Fernando Abreu, autor de dezenas de contos, romances, poemas e peças de teatro. A ideia é combinar aspectos de sua vida pessoal (um homem elegante, místico, homossexual, metódico) com a repercussão pública de suas obras e a importância destas para a cultura nacional. O mecanismo em cena é tradicional, alternando depoimentos com material de arquivo, além de encenações de textos do autor.

    A singularidade de Para Sempre Teu Caio F. tem sido orgulhosamente apresentada pelo diretor em pré-estreias e conversas com a imprensa: no caso, o fato de ter nada menos que 76 pessoas participando do filme, incluindo cerca de 20 atores globais (Camila Pitanga, Thiago Lacerda, Caco Ciocler, Regina Duarte, Paolla Oliveira, Cauã Reymond, Mariana Ximenes etc.), grandes personalidades do mundo literário (Marcelo Rubens Paiva, Lya Luft) e artístico de modo geral (Adriana Calcanhotto, diretores de teatro).

    É louvável que todas essas personalidades participem do projeto, algo que contribui a atribuir valor comercial e publicitário ao filme. Infelizmente, o uso feito do grande “elenco” é no mínimo decepcionante: cada estrela aparece em tela durante poucos segundos, e muitos atores proferem uma ou duas frases de autoria de Caio Fernando Abreu, antes de desaparecerem das telas. Preferindo quantidade a qualidade, o filme não faz uso de seus talentos, contentando-se em explorar a marca de seus nomes. Mesmo os trechos mais longos (de Thiago Lacerda ou Caco Ciocler, por exemplo) são prejudicados pela fraca montagem e captação de som deficiente.

    O aspecto técnico, aliás, constitui o grande revés deste projeto. Não adianta a boa vontade de tantas pessoas envolvidas diante da fotografia superexposta e desleixada, da fraquíssima captação de som direto, da edição de som compondo uma qualidade heterogênea entre os depoimentos. A montagem prefere condensar as falas por tema, condensando micro frases de três ou quatro segundos ao invés de deixar as pessoas se expressarem livremente. O resultado é uma narrativa truncada, cheia de cortes abruptos. De modo geral, o diretor apoia-se demais no conteúdo dos depoimentos, e faz pouco esforço para construir uma imagem que seja interessante por si mesma.

    Pode-se destacar como aspecto positivo a vontade de Salles em criar o contexto político e cultural da época, citando o exílio político durante a ditadura, as experiências underground pós 1968 e o choque com a descoberta do HIV uma década mais tarde. Essa energia é transmitida em alguns depoimentos, que evitam o sensacionalismo ou o sentimentalismo excessivos. A homossexualidade, o uso de drogas, o sexo e a descoberta da AIDS na vida de Caio Fernando Abreu são tratados de maneira simples, pudica. Percebe-se o respeito do diretor, que evita a hagiografia, mas também não explora as contradições ou as polêmicas envolvendo o escritor.

    Para Sempre Teu Caio F. permanece um documentário simples em seu discurso, mantendo uma distância quase temerosa em relação ao seu tema de estudo, embora consiga tocar em questões importantes da época. Mesmo com aspectos técnicos no limite do amadorismo, surpreende ao tentar se projetar como um filme de grife, pelas presenças ilustres e passageiras que pouco contribuem ao resultado final.

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