O cinema, sabemos, é poliglota. Mas, cedendo à velha máxima de que filme brasileiro é ruim de roteiro, de som, de interpretações gerais, deixamos passar filmes importantes. Preconceito é algo que se debela com muita perseverança. Penso que, se o tive com produções nacionais, já o venci há tempos. Há filmes brasileiros de grande valor, verdadeiras obras-primas. Este O OUTRO LADO DO PARAÍSO não chega a tanto, mas vale a atenção que puder ser dada a ele. Seu enfoque é o sonho e, em contraposição, o desmonte de um ao ser relacionado à construção de um possível Eldorado. Assim é a construção de Brasília para o pai do personagem central. A importância do filme vai além das personagens-pessoas, sendo que a capital federal também é uma personagem que pode ser cruel, dependendo de que lado se está. Seria muito bom se todos os que pedem a volta da ditadura pudessem ver o filme, mesmo sendo o golpe militar contado sob a ótica de uma criança. Boas interpretações, cenografia e imagens de arquivo inseridas na narrativa trazem ao filme um diferencial em relação às produções mal cuidadas que vemos por aí. Só achei dispensável a figura do narrador, A boa narrativa já falaria por si. Até Eduardo Moscovis, um ator tão repetidamente inexpressivo, consegue dar veracidade à personagem do pai sonhador. Um bom filme.