É de um esfregão que você precisa...
Quando você era criança, você tinha a mania de inventar coisas? Fazia daquele mundo de fantasia doce da infância uma imaginação inspiradora para o seu futuro? A maioria das crianças é assim, sonha assim, e só poucas delas levam esse estímulo para a fase adulta. Eu, quando pequeno, tinha uma imaginação pra lá de fértil. Aos 10 anos, fazia um jornalzinho e vendia de porta em porta na minha cidade, me achando o editor/jornaleiro. Minha irmã mais velha, Ana Paula, conta toda prosa que tinha um amigo imaginário, que lhe ajudava nas brincadeiras e criações. E minha sobrinha mais nova, Isabela, de 4 anos, capricorniana como ela só, se mostra a cópia idêntica dessa minha irmã, e é nítido como ela tem um mundo fantástico dentro de sua cabecinha... Isso é lindo, puro, verdadeiro, e deve ser pra sempre estimulado.
A personagem principal de “Joy – O Nome do Sucesso”, vivida pela queridinha de Hollywood Jennifer Lawrence – incrivelmente indicada pela quarta vez ao Oscar deste ano - era assim também: sonhadora, desde pequena fazia invenções e acreditava que todos os seus desenhos, montagens e ideias iriam se tornar realidade um dia. A avó dela, vivida pela atriz Diane Ladd, sempre foi a sua maior incentivadora numa família em que o caos reina por completo em sua fase adulta – tudo levando a crer que esse sucesso nunca chegaria. A mãe (Virginia Madsen) vive num conto de fadas e, isolada no quarto, assiste o tempo todo a novelas dramáticas que mais se parecem com a sua vida. O ex-marido (Édgar Ramírez) não seguiu seu rumo e continua morando no porão da casa dela, assim como o pai (Robert de Niro), outro desquitado, que também vai viver no porão e brigar infinitamente com o ex-genro, trazendo ainda mais baderna à cansativa rotina da batalhadora heroína. Aquele mundo de sonhos da infância se perdeu no horizonte como o sol que se põe longínquo e inalcançável. Mas, assim como esse espetáculo da natureza, a ideias insistem em voltar diariamente, na busca incessante por uma saída para aquele transtorno sem fim.
Joy, enfim, consegue levar adiante a invenção de um esfregão mágico e inovador, mas, assim como qualquer caminho persistente de sucesso, ainda há de aparecer muito sofrimento e espinhos no filme do diretor David O. Russell – que já tinha dirigido Lawrence e Bradley Cooper (também no elenco do filme) em “O Lado Bom da Vida” (2012) e “Trapaça” (2013). Mas Joy não desiste. Mesmo quase pirando com dívidas e problemas familiares que se multiplicam com o passar dos dias e dos anos, ela insiste como quem só tem um caminho a trilhar, o que nada se parece com o conformismo ou o comodismo.
Falando nisso, em um certo momento do filme, a avó narradora faz uma reflexão: às vezes, sem rumo ou por acomodação, nos escondemos dos outros, do mundo de uma forma geral, mas esquecemos que, dessa forma, estamos é nos escondendo de nós mesmos. Dentre tantas dificuldades, era mais fácil para Joy se enfiar em seu casulo e esperar o fim do poço chegar traiçoeiro e devastador. Mas não. Assim como você, ela não tem esse perfil. Não precisa nem ir até o final do filme pra saber que ela se tornou uma das empresárias mais bem-sucedidas da história dos Estados Unidos. Você, assim como eu, também pode chegar no alto da colina. Os sonhos estão aí para serem alimentados, galgados, construídos... Se a vontade de ir pro casulo aparecer, lembre que Joy enriqueceu com um esfregão. Às vezes, é mesmo de um esfregão que você precisa pra sair dessa inércia e solidão.