O Hobbit é um livro que possui, em média, 350 páginas. É mais alegre, poético e infantil que a trilogia Senhor dos Anéis, possuindo um tom bem diferente do seu sucessor na cronologia, acompanhando um grupo de anões e um jovem Hobbit em busca de uma aventura, cheia de cenários lúdicos.
Com isso, 2 filmes baseados no livro já pareciam uma ideia exagerada de Peter Jackson, meio fora da realidade do livro. Quando foi anunciado que seriam três filmes, muitas pessoas se perguntaram que tipo de coisas seriam usadas para preencher as, em média, três horas de filme que o diretor tanto gosta de fazer.
A resposta, dada em O Hobbit – A Batalha dos Cinco Exércitos, é claríssima: nada.
O filme funciona em pouquíssimos momentos. Por ter boa parte de sua duração com batalhas, ele falha em contar qualquer história. O desfecho da batalha de Gandalf (Ian McKellen, um dos poucos pontos bons do filme) em Dol-guldur é ótimo, mas dura pouquíssimo tempo. A trama de Legolas (Orlando Bloom dispensável aqui) é extremamente pífia, vazia e sem sentido nenhum neste filme, tornando o personagem em um desperdício de tempo (o final então, nem se fale). E nem mesmo a trama principal, a dos anões e Bilbo (Martin Freeman também bom em seus momentos), traz algo remotamente profundo. Thorin está extremamente exagerado neste filme, com Richard Armitage nos entregando uma atuação cheia de caras e bocas fracas e exageradas (principalmente em seus momentos loucos), auxiliadas por uma câmera deslocada em relação aos outros filmes da trilogia, cheia de zooms em elementos ou faces desnecessárias.
Não bastasse a falta de foco na história principal, o filme nos entrega uma importância exagerada em personagens extremamente sem importância. Alfrid (um personagem terrível com uma atuação terrível de Ryan Gage) é um desses, sempre estando central a algum acontecimento durante a luta, sempre repetindo praticamente a mesma ação, praticamente insultando a inteligência do espectador. O mesmo pode se dizer de Azog, exagerado em seus momentos de luta, e vazio de qualquer força para torná-lo um vilão remotamente interessante (além do visual mais falso). E não existem palavras para descrever toda a trama envolvendo Kili (Aidan Turner), Tauriel (Evangeline Lilly) e Legolas. O que já havia sido ruim em A Desolação de Smaug apenas piorou aqui, nos entregando momentos dignos de novelas mexicanas, cheios de clichês divergentes com toda a proposta dos filmes passados e do próprio livro.
Não feliz com o fraquíssimo roteiro, o filme despenca em algo que Peter Jackson sempre acertou: direção de arte e fotografia. São vários os momentos em que a ação perde o sentido com um 3D fraco, ou com uma finalização de imagem extremamente falha (há alguns momentos envolvendo Legolas que chegam a ser risíveis devido ao exagero e falta de finalização das cenas). O cenário também parece apagado, sem a grandiosidade que vimos em outros momentos dessa nova trilogia da Terra Média e, principalmente, da trilogia do anel.
Ironicamente, as poucas partes boas do filme são aquelas que temos no livro. Os momentos entre Bilbo e Gandalf são os melhores entre personagens, além de alguns momentos envolvendo Bard (Luke Evans), Thranduil (Lee Pace) e sua busca pelas riquezas prometidas por Thorin. Alguns poucos momentos da guerra (que deveria ser a maior batalha de todas) também animam mais, especialmente envolvendo os anões em sua luta, algo que não havíamos visto até agora, além de algumas cenas de ação com elfos como Elrond (Hugo Weaving), Thandruil e Saruman (Christopher Lee), por exemplo.
No fim, O Hobbit – A Batalha dos Cinco Exércitos não entregou praticamente nada do que prometia. Os personagens são todos absurdamente superficiais e carentes de afetividade. Os acontecimentos ao final da guerra não afetam em nada o espectador, que não consegue se relacionar minimamente com boa parte dos anões, que se tornam descartáveis. O mesmo pode se dizer da grandiosa guerra, que deixa a desejar até mesmo se comparada a outras batalhas que tivemos nos filmes anteriores, como a batalha na caverna dos goblins ou a dos barris. Um desfecho triste para uma história que tinha tanto potencial.
Peter Jackson foi tomado pela ganância e cegueira, seguindo o caminho de outro grande nome para a cultura pop, George Lucas. Efeitos visuais e a vontade cega de criar novas histórias estragaram a lembrança que havia de velhos filmes, com uma trilogia nova totalmente dispensável e esquecível.
Agora vamos torcer para que Silmarillion nunca caia nas mãos erradas…