Uma Noite em 67 - Crítica
Uma noite de transformação
Na tela vemos Edu Lobo cantar a música “Ponteio” ao vivo. Preto e branco, péssima qualidade de som para os dias de hoje, porém, com o melhor da tecnologia que existia na época, nos conduzem em sensações e situa o clima cinematográfico para uma viagem no tempo.
(Uma Noite em 67 - Brasil, 2010, 93 min.) relembra como foi a final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Em de 21 de outubro de 1967, no Teatro Paramount, centro de São Paulo.
Os diretores Renato Terra e Ricardo Calil estreiam muito bem o primeiro longa-metragem de suas carreiras. Utilizam uma maneira extremamente simples, mas bastante eficaz de fazer um documentário musical. Mostram trechos dos músicos apresentando-se no festival e intercalam entrevistas com os artistas felizmente todos vivos 43 anos depois. Roberto Carlos que gostava de cantar músicas de Chet Baker revela não ter escolhido a música “Maria, Carnaval e Cinzas (Luiz Carlos Paraná)” para cantar no festival, que ficou em 5º lugar. Caetano Veloso não consegue relembrar de sua canção “Alegria, Alegria”, 4º lugar ao tocar no violão novamente. “Tínhamos que conquistar o público na primeira audição”, declara Chico Buarque. Ele apagou completamente da memória sua música “Roda Viva”, que ficou com o 3º lugar. Com a proposta de transformar e revolucionar a Música Popular Brasileira, Gilberto Gil entra no palco ao lado dos Mutantes e levaram “Domingo no Parque” ao 2º lugar. Os intérpretes Edu Lobo, Marília Medalha e Quarteto Novo, dividiram o palco para trazerem a bela canção “Ponteio (Edu Lobo e Capinam)” ao 1º lugar do III Festival da Record.
Também são entrevistadas personalidades que fizeram o festival acontecer, como Solano Ribeiro, Zuza Homem de Mello, Sergio Cabral, Nelson Motta, entre outros. Os movimentos de câmera são basicamente close, plano médio e super close.
A noite histórica de 67 traz imagens inéditas, desvenda através de entrevistas feitas nos bastidores da TV Record como a cobertura jornalística do evento era opinativa, mesmo vivendo o período da ditadura militar no país. O cantor Sergio Ricardo, famoso por arremessar um violão contra a plateia, esclarece os motivos de ter feito isso.
Uma Noite em 67 faz parte dos documentários necessários de serem feitos e vistos. Pois trata diretamente da memória musical, comportamental e política do Brasil.
Texto publicado originalmente em 2010
Sergio Batisteli é jornalista, criador de conteúdo do 'Blog do Sergio Batisteli - CineConecta'