Após assistir todos os filmes anteriores e adiar muito, finalmente assisti, ontem, ao Resident Evil 5 – Retribuição, o último até então (oremos!) da renomada saga. E fiquei surpreso em como o diretor e roteirista Paul W. S. Anderson conseguiu transformar algo bom em lixo descartável e não-reciclável...
O filme não tem uma boa história e apresenta cenas de ação mais ridículas do que aquela famosa do Matrix, quando o carinha de óculos abaixa e se desvia da bala. Todas as personagens parecem estar revestidas de pele à prova de balas, pois permanecem de pé sem proteção alguma em meio a tiroteios. Além de tudo isso, o longa-metragem apresenta falhas grotescas no enredo. Em muitas cenas, faltou um ingrediente "bem mínimo" chamado LÓGICA.
Isso pôde ser facilmente percebido quando a personagem principal, a agente Alice, encontra uma menina que faz parte de um cenário holográfico. A criança ilusória (afinal, não chegava a ser um humano de fato), devido à manipulação mental, acredita que Alice é sua mãe e a agente surpreendentemente aparenta retribuir o carinho como se realmente fosse sua mão.
Pior do que isso, após uns 10 minutos, a criança é capturada por um monstro quadrúpede gigante enviado pela Umbrella Corporation para assassinar Alice e sua equipe. Ele literalmente agarra a menina com a língua e some entre os encanamentos. Quando, sem mais nem menos, a protagonista resolve seguir o rastro do bicho para recuperar sua “filha”, decisão que vai na contramão de sua missão e desagrada sua própria equipe.
O que me leva a duas perguntas: Por que diabos ela sentiria amor pela criança sabendo que a mesma não é real? E a dúvida que não quer calar: De onde vem a certeza de que a menina ainda estava viva? Ela foi capturada por um monstro faminto enviado para matar! Para piorar ainda mais, a garota realmente estava viva, dentro de uma espécie de casulo, como se o monstro tivesse guardado o lanchinho para mais tarde!!! Sei que há animais que realmente fazem isso na vida real, mas, veja bem, eles não aparecem com a missão de assassinar pessoas...
Entre as milhares de bizarrices, destaco outra cena ridícula: um dos integrantes da equipe de Alice acaba sozinho em um tiroteio e, sob chantagem, é obrigado a sair de tas da pilastra que o protegia das balas. Assim que sai, é metralhado dos pés à cabeça e sua arma é arremessada para o alto enquanto seu corpo cai. Até aí, a cena estava ótima.
Mas eis que Paul Anderson resolve “inovar”. Após a arma dele parar de subir e começar a cair, obedecendo as leis de Newton (pelo menos isso, né, Paul?), o rapaz baleado levanta do nada, agarra seu revólver no ar e atira mais uma vez antes de ser alvejado novamente e enfim morrer. Convenhamos que este último ato poderia ter sido evitado no maior clima de “poderia ter ido dormir sem essa”.
Como se não bastasse tanta bobagem que fez com que eu e minha namorada sentíssemos vontade de dar STOP com 20 minutos de filme, o enredo em si não faz o menor sentido. Paul fez o vilão das edições anteriores, Wesker, ficar “bonzinho” no quinto filme sem muitas explicações. A justificativa apresentada pelo antagonista é de que a raça humana corria sério risco de extinção. Mas, cá entre nós, tal risco já existia bem antes devido a atitudes do próprio Wesker e nem por isso ele perdeu o sono ou demonstrou algum sinal de preocupação. Isso sem contar o ódio repentino e não explicado da Rainha Vermelha pelos humanos.
Preocupado mesmo, estou eu, que sempre curti a história criada pela franquia para jogos de Playstation 1, adorei o primeiro filme e agora presencio sua auto-destruição sem poder fazer algo para impedir. A sequência já vinha demonstrando piora a cada lançamento, mas este quinto filme foi a gota d’água! Nem o subtítulo do encarte, O mal se tornou global, faz jus ao produto final, uma vez que os lugares onde a história se passou não demonstrou importância alguma.
E o que dizer dos zumbis, que, neste filme, só apareceram mesmo no comecinho do filme e no final? Eles estão cada vez mais “zoados”, com poderes e mutações que não condizem com a proposta inicial (primeiro filme), tampouco com o histórico de filmes que abordaram o mesmo tema. Eles simplesmente não passam realismo algum e, por isso, não permite que o telespectador “entre na história”, acredite no que está vendo.
Em uma rápida pesquisa, encontrei um artigo muito bem escrito por Yuna (a autora se apresenta desta forma) para o site brasileiro do filme ("Adoro Cinema" não permite divulgar links no corpo do texto). E o primeiro parágrafo do texto (transcrito logo abaixo) já resume minha opinião sobre o filme:
“A franquia de filmes de Resident Evil chega à sua quinta parte sem perder o fôlego, pelo menos nas bilheterias. RE5: Retribuição usa e abusa de efeitos para impressionar o público: cenas de ação monumentais, belos visuais, um belo time feminino, excelente uso do 3D. No entanto, o deleite é praticamente só visual. Os erros de filmes passados se repetem: roteiro pobre, história corrida, personagens secundários rasos e mal desenvolvidos”.
Como Paul Anderson não percebe isso? Uma resposta negativa nas bilheterias poderia tirar o diretor de seus fumos e “viagens mentais”, mas é preciso assistir ao filme primeiramente para odiá-lo depois. Não há como evitar a presença massiva de fãs e admiradores da saga iludidos com a qualidade dos games e dos dois primeiros filmes.
Resta a esperança de que Paul costure todas as milhares de pontas soltas de seu roteiro e cale a mim e aos críticos. Mas será que os que tiveram a mesma decepção que eu gastarão seus preciosos dinheiro e tempo em uma nova ilusão? Será que a curiosidade e a esperança superarão a experiência e conseqüente desconfiança? A resposta, só o tempo dirá. De qualquer forma, te agradeço desde já, Paul Anderson, pelas belíssimas primeiras obras de toda a saga Resident Evil. Foi bom enquanto durou...