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Enviada em 25 de junho de 2016
Toda vez que alguém comenta sobre o filme Perfume de Mulher vem na lembrança das pessoas o clássico moderno estrelado por Al Pacino, Scent of a Woman (Perfume de Mulher - 1992), que finalmente o consagrou com o Oscar de Melhor Ator. O que poucos sabem é que essa obra cinematográfica é um remake de um longa-metragem italiano, Profumo di Donna - 1974, adaptado do romance literário Il Buio e Il Miele - 1969, do autor Giovanni Arpino, e dirigido por Dino Risi (conhecido por Una Vita Difficile - Uma Vida Difícil - 1961, II Sorpasso - Aquele que Sabe Viver - 1962 e I Mostri - Os Monstros - 1963).

Perfume de Mulher conta a história do capitão Fausto Consolo (Vittorio Gassman, conhecido por I Soliti Ignoti - Os Eternos Desconhecidos - 1958, La Grande Guerra - A Grande Guerra - 1959, II Sorpasso - Aquele que Sabe Viver - 1962, L'armata Brancaleone - O Incrível Exército Brancaleone - 1966 e C'eravamo Tanto Amati - Nós que nos Amávamos Tanto - 1974), um militar reformado que vive sozinho com uma velha tia na cidade de Turim e decide realizar uma viagem de trem de 7 dias por Gênova, Roma e Nápoles. Por ter ficado cego em um acidente em uma operação militar, o exército designou um jovem soldado para acompanhá-lo no passeio, Giovanni Bertazzi (Alessandro Momo, ator de Malizia - Malícia - 1973), a quem Fausto apelida de Ciccio. Regradas a mulheres e bebidas, suas aventuras parecem inocentes e divertidas, mas à medida que a viagem transcorre, um propósito obscuro é revelado.

A atuação de Gassman é um dos grandes destaques do filme, recebendo inclusive a premiação de Melhor Ator em Cannes. O ator consegue transmitir de forma impecável todo o conflito interno do personagem principal: Fausto é um homem cego e maneta da mão esquerda, melancólico, cínico, exaurido da sua vida rotineira, comportando-se de maneira cruel e arrogante, apesar de ter adquirido notável facilidade de movimento e noção precisa da localização dos objetos. Irônico e desinibido, ele age de forma natural, como se pudesse ver, e se aproveita de sua condição privilegiada (cegueira) para zombar da dissimulação e do fingimento da sociedade, com desdém pelas convenções de compaixão das quais também é refém. Esse caráter ambíguo, de admiração e repulsa por um personagem de uma grandiosidade que por vezes nos faz até esquecer sua limitação física, mas que também é desagradável, amargo e sarcástico, reflete sua personalidade conflituosa, mas ao mesmo tempo carismática. Mulherengo e bebedor, a cegueira acentuou-lhe os outros sentidos, sobretudo o apurado olfato. Mesmo à distância, a presença das mulheres atrativas é percebida pelo cheiro, que o deixa em êxtase, fazendo uma analogia perfeita ao título do longa: Profumo di Donna (Perfume de Mulher).

O filme mostra os esforços que uma pessoa é capaz de fazer para esconder seus sentimentos e alimentar uma falsa aparência de força e segurança. A tensão interna que Fausto sofre pauta o seu comportamento e as relações com os indivíduos ao seu redor. Ao rejeitar a compaixão e a piedade ele acaba por também rejeitar o afeto e o amor. Assim, a jornada do personagem principal simboliza uma viagem em busca de si próprio, da auto-aceitação e do consentimento da afeição dos outros.

Com uma trama em paralelo, o longa ressalta o contraste entre o capitão e o jovem soldado. Enquanto Giovanni é um misto de inexperiência, ingenuidade e insegurança, Fausto se sobressai pela experiência, invulnerabilidade e segurança que aparenta ter. Ao invés de ser mais uma vítima de um infortúnio, o capitão se mostra como o verdadeiro guia na história, invertendo os papéis entre o cego e o seu acompanhante. À medida que a viagem decorre o jovem soldado vai aprendendo lições de vida, como saber distinguir entre aparência e realidade, amor e fraude, palavras e ações. A interpretação de Alessandro Momo é bastante convincente, tornando-o outro destaque no filme. Sara (Agostina Belli, conhecida por Mimì Metallurgico Ferito Nell'onore - Mimi, o Metalúrgico - 1972 e Telefoni Bianchi - Telefones Brancos - 1976) completa o trio de personagens principais. Ela é uma jovem apaixonada por Fausto que não se conforma com a sua enfermidade, sendo a única que conhece todas as suas facetas. Aqui cabe uma menção ao diretor Dino Risi, que consegue captar o melhor de cada ator, intercalando bons momentos cômicos com ótimas situações dramáticas.

A trilha sonora é belíssima, conseguindo transmitir os diversos sentimentos interpretados pelos atores nas cenas, além de envolver o espectador na narrativa. O roteiro trabalha muito bem os personagens, desenvolvendo diálogos brilhantes. Ganham evidência a gesticulação de Gassman, o comedimento de Momo e a sensualidade de Agostina. O filme conquistou duas vagas entre os Indicados ao Oscar nas categorias Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme Estrangeiro.

Com breves apontamentos, a fotografia retrata uma época casuística da sociedade italiana, repleta de significados. Nas ruas, nos trens, nos hotéis, nos terraços, nas festas e na própria língua, aos poucos vai surgindo um perfil de uma sociedade. Os italianos são alegres e receptivos, falantes, utilizam-se muito das mãos, falam alto e não poupam os palavrões em suas conversas. São religiosos, românticos e espontâneos, mas como toda sociedade patriarcal, possuem esteriótipos masculinos e femininos muito fortes. Fausto é um homem autoritário, que tem que se fazer ver como forte, uma figura que impõe. Sara reflete a situação feminina, na qual as mulheres sonham em se sentir indispensáveis para a vida do homem que amam. Todos esses aspectos traduzem com clareza o espírito mediterrâneo.

Por fim, como não poderia deixar de ser, uma breve comparação entre a versão americana (1992) com o original homônimo (1974) é inevitável. O remake de Perfume de Mulher é completamente diferente do longa italiano. Apoiando-se em aspectos hollywoodianos, como a necessidade de ter um episódio de julgamento, a versão americana estica demasiadamente a história, gastando tempo demais com o estudante, interpretado pelo fraco Chris O'Donnell (de Batman Forever - Batman Eternamente - 1995 e Batman & Robin - 1997). As cenas do tango e da Ferrari são alguns de seus pontos fortes, mas ao optar por reviravoltas melodramáticas, acaba caindo em alguns clichês. Seu grande destaque e razão de seu grande sucesso é a excepcional atuação de Al Pacino (para citar apenas alguns de seus filmes: The Godfather - O Poderoso Chefão - 1972, Serpico - 1973, The Godfather: Part II - O Poderoso Chefão II - 1974, Dog Day Afternoon - Um Dia de Cão - 1975, And Justice for All - Justiça para Todos - 1979, Scarface - 1983 e The Godfather: Part III - O Poderoso Chefão III - 1990). Os dois atores principais em cada versão (Al Pacino e Vittorio Gassman) estão impecáveis, mas o filme italiano tem um charme especial, sendo, em muitos aspectos, mais humano, sensível, despojado e envolvente. Uma pena que a refilmagem americana perdeu completamente a cultura italiana, tanto da vida cotidiana na Itália quanto do jeito italiano de se fazer cinema dos anos 70.
4,0
Enviada em 13 de setembro de 2022
Belo filme italiano da década de 70. Atuações convincentes, trilha sonora linda. Dessa vez, concordo com a crítica do Adoro Cinema. Profumo di Donna está disponível no YouTube com legendas em 4 idiomas, incluindo o português. Vale muito a pena conferir.
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