“As neves do Kilimanjaro” é um filme com enredo simples, mas notavelmente relevante para nos lembrar que existe uma grande diferença entre as ideias e as ações. O filme narra a história de um velho militante sindical o qual, estando prestes a se aposentar, ganha para ele e a esposa que comemoravam simultaneamente o aniversário de casamento, uma viagem à África. Ao mesmo tempo, em função da crise econômica que serve de pano de fundo para o enredo, segundo o critério do sindicato é sorteado juntamente com outro jovem colega para ser demitido. A partir daí o filme envereda pelo enfoque da falta de oportunidades de trabalho para os jovens, a crise da sociedade de consumo e o colapso dos sistemas de seguridade social europeus, sobre o quê se comenta constantemente nos telejornais. Essa crise empurra o protagonista para a resignação e o questionamento e o jovem para a marginalidade, colocando os dois em confronto, com questionamentos contundentes para o primeiro com relação ao legado de sua vida. O conflito se espraia para todos os que convivem no núcleo dos protagonistas, revelando de um lado o egocentrismo e a falta de sensibilidade para os problemas humanos decorrentes da desigualdade econômica e de oportunidades e de outro uma profunda revisão de conceitos. Filme imperdível para maior reflexão sobre os tais ”direitos humanos” e o sentido de ser Humano. Vale lembrar, no entanto, que o roteiro para tornar mais palatável assunto tão indigesto, optou pela solidariedade fácil que pode ser destinada a crianças, quando poderia ter encarado um desafio mais abrangente, ou seja, a todos os seres humanos, por isso mesmo mais difícil.