Este é um daqueles filmes que melhoram com a idade. Ele é de 1950, de uma época em que não havia necessidade de se recorrer a uma dúzia de escritores para se alinhavar um roteiro fora de propósito. No caso, coube a Joseph Mankiewicz (Júlio Cesar; Cleópatra; A condessa descalça) elaborar este roteiro que é uma autêntica obra-prima e que conta como a aspirante a atriz, Eva Harrington (Anne Baxter), atinge o estrelato num pequeno espaço de tempo. Para alcançar o seu objetivo, Eva se disfarça de cordeirinha e torna-se uma serviçal da atriz de teatro consagrada, Margo Channing (Bette Davis). Eva estuda cada detalhe das vida e das performances de Margo durante algumas semanas, para aí então, passar a manipular Bill Sampson (Gary Merrill), o namorado de Margo e Lloyd Richards (Hugh Marlowe), o melhor escritor do teatro norte-americano. Seu objetivo: alcançar a fama a qualquer preço. O que torna este roteiro diferente de tantos que vemos ocupar as nossas telonas e as telinhas é o fato dos diálogos serem brilhantes, além de exibir uma dramaticidade inigualável. Toda cena tem sua importância, não está ali apenas para encher linguiça. A atuação de gala deste filme, porém, é de Addison deWitt (George Sanders), que numa das falas mais brilhantes do filme que define o crítico de teatro - sua profissão - essencial para essa forma de arte da mesma forma que as formigas são importantes num piquenique. DeWitt é um vilão e ao mesmo tempo a consciência moral do filme. É o único que não se ilude com o que todos os personagens apresentam na superfície. Ele vê as pessoas através de suas "atuações" na vida real. Daí ele ser o único a não se iludir nem com Eva nem com ninguém. Sua arrogância é tão grande quanto a sua atuação. Um filme com e sobre atores, que para nosso infortúnio já não existem neste mundo cheio de aspirantes a celebridades. Caixa altíssima, 10 estrelas, adjetivos superlativos para este filme.