As mil faces de Javier
Eu nem curto muito filme de ação, mas caí na fila de “007 – Operação Skyfall” e, digamos, me surpreendi. Não que o filme, estrelado mais uma vez pelo Bond Daniel Craig, seja algo diferente e novo nas telonas – a produção continua com aquelas cenas que mais parecem videogame, em que todos vibram quando o sujeitinho principal, no caso, o sempre esperto James Bond, passa de fase e se prepara para lutar num novo nível. Mas gosto quando sento na poltrona do cinema sem muita informação sobre o que vou ver. Assim, às vezes, estamos passíveis de surpresas tão agradáveis que mudam o curso daquela noite de pipoca.
A grata surpresa ao assistir a “Skyfall” veio com o vilão louco e perverso Raoul Silva, vivido por Javier Bardem. Mesmo sendo fã desse ator espanhol que exala talento, não sabia que ele estava no elenco. E ele aparece em cena irreconhecível como um ciberterrorista possuído, de cabelos loiros oxigenados, cheio de trejeitos maquiavélicos que o apontam como candidato a ser o melhor vilão de Bond dos últimos tempos, segundo a imprensa britânica. Daí, pronto, toma conta do filme. Me desculpe o Craig, que, apesar das críticas, é um ótimo espião e que ainda tem dois 007s pela frente, mas os aplausos são todos para o seu opositor.
O que eu fico realmente impressionado é com a forma como atores como Bardem conseguem se envolver tanto com o personagem que levam para si toda a carga pesada daquela produção. Isso, sim, é ser ator. Ele aparece extremamente sedutor em “Vicky Cristina Barcelona”, como Juan Antonio, rapando ninguém menos que Rebeca Hall, Scarlett Johansson e Penelope Cruz, sua esposa na vida real, no melhor estilo “spanish lover”, ressurge transformado no ladrão, assassino e psicopata Anton, no ótimo “Onde os Fracos Não Têm Vez”, filme pelo qual recebeu o Oscar de melhor ator coadjuvante, passa pelo conflito do melancólico Uxbal com a paternidade, o amor, a espiritualidade, a morte, o crime e o sentimento de culpa, em “Biutiful”, e finaliza, novamente irresistível e apaixonante, como o brasileiro Felipe, em “Comer, Rezar, Amar”, ao lado de Julia Roberts.
Ou seja, nos cinco últimos filmes de Javier Bardem que vi, ele deixa uma marca inesquecível, que demonstra o real papel dele em produções hollywoodianas. Um presente para o fã de cinema de um ator de 43 anos que mostra vitalidade e desenvoltura de um jovem de 20. É por essas e outras que eu, cinéfilo até mandar parar, chego a uma sala de cinema para assistir de uma animação da Disney a uma história de terror na floresta, de um drama bonitinho a uma comédia escrota, de um filme cult francês a um lançamento indiano, de uma produção nacional aos romances da saga “Crepúsculo”... Tudo bem que, nesse fluxo constante, é provável que receba muitos trabalhos ruins. Mas vai que tem um Javier Bardem camaleão escondidinho bem ali, só esperando um brinde com você. Essas coisas, a gente não nega!