Não são necessários muitos minutos para a percepção clara do turbilhão de críticas sofismeiras que a este filme foram lançadas. Múltiplos comentários queixando-se da imoralidade do tema, numa atitude própria dos faltos de entendimento da causa final cinematográfica. Para os espertalhões, profundidades de narração/atuação e capacidade de retrato de maneira a evocar emoção ao espectador são caracteres desimportantes em comparação ao tema, e, não suficiente, dizem como se roteiristas e diretores simpatizassem com o espinhoso assunto da produção. Ora, o tema é mero; pode-se fazer obras cujo conteúdo seja polêmico? Sem dúvida. Mas, porém, precisa ser bom, o que não é o caso deste.
Aqui, acompanha-se duas amigas de infância e vizinhas, Lil (Naomi Watts) e Roz (Robin Wright), entre si muito conectadas afetivamente. Seus respectivos filhos, Ian (Xavier Samuel) e Tom (James Frecheville), cresceram juntos, como irmãos. Ambientado em belo cenário e casas à beira-mar, o princípio se dá com os filhos, surfistas, flutuando pelas águas a exibir seus portes atléticos, para a admiração de suas mães, que os observam da praia e propõem idealizações na medida em que os epitetam "deuses".
Revela-se relativa homeostase familiar, sendo o ciclo composto pelos quatro supracitados e, paralelamente, pelo marido de Roz, Harold (Ben Mendelsohn), que se diz desconfortável com a atitude da esposa, a qual, segundo ele, parece o tratar como um detalhe, a despeito de entendê-lo como uma razão de vida, delegando a culpa a um possível desejo ou ligação lésbica com sua amiga Lil.
A trama logo desponta em troca de olhares e perceptível desejo mútuo entre Ian e Roz. Absolutamente isento de profundidade psicanalítica ou mínima justificativa, a obra introduz um arco amoroso entre os dois, sendo seu início assaz enfadonho. Numa conveniência óbvia e cliché, vêem-se a sós e o jovem avança à mulher, o que antecede intercurso. Deslize imperdoável: a naturalidade com que se apresenta a consumação de tão impróprio evento. O filme fornece poucas cenas que justifiquem o ato do jovem, o que exalta inverossimilhança, ainda excrescida pelo teor intrafamiliar. Sem hesitar, o adolescente beija sua "segunda mãe" por nenhuma razão convincente.
Sucedendo-se, ocorre piora não exponencial, mas assintótica, dado que Tom, o qual havia levantado de madrugada e pôde ver sua mãe saindo do quarto com as calças em mãos, vai à casa de Lil, mãe de Ian, e a beija. Pouco tempo depois, intercurso. Agora, porém, zero justificativa do porquê Lil se sente atraída por Tom, embora se possa entender o feito do adolescente, que parecia procurar vingança.
Poupando o leitor do resto da história, que se torna mais um desses tediosos romances, percebe-se que a temática promissora semi-incestuosa fica subalterna, em benefício do desenrolar de mais uma história para a estatística das que envolvem traição, choro e questões de correspondência amorosa. Não explora a densidade e a complexidade das emoções potencialmente evocadas em situações de calibre tão escandaloso, muito menos é capaz de realizar aquele que vibre com a proposta lida na sinopse.
Facilmente esquecível.