"Mãe, onde quer que haja um policial espancando alguém,
onde quer que um recém-nascido faminto chore, onde houver uma luta contra o sangue e ódio que pairam no ar, procure por mim, eu estarei lá".
Assim cantava Bruce Springsteen em "The Ghost of Tom Joad" em 1995.
Talvez nem todos saibam que o personagem citado pelo "boss", escolhido como herói que luta em favor dos direitos dos oprimidos e indefesos, é um dos protagonistas do romance "As vinhas da ira" de John Steinbeck, livro que rendeu ao escritor enorme sucesso comercial e o prêmio Pulitzer em 1940 e no qual este filme dirigido por John Ford, vencedor de dois Oscars, é inspirado.
Estamos na América da grande depressão. Milhares de famílias estão se mudando em busca de um futuro melhor. Entre elas os Joad, arrendatários que perderam suas terras e seduzidos por um panfleto que promete trabalho bem remunerado na Califórnia, decidem sair do estado de Oklahoma rumo à terra prometida.
O filme propõe na sua tragicidade existencial uns dos pilares da narrativa fordeana: a viagem como metáfora da vida humana, a busca contínua por um ponto de chegada, a tensão rumo ao alcance de algo que foge continuamente. A peregrinação dos Joad pelas estradas desertas do Oklahoma, do Novo México, da Arizona e por fim da Califórnia é repleta de encontros que revelam uma humanidade desesperada em fuga.
Ao chegar à Califórnia, acampamentos e campos de trabalho onde os trabalhadores são explorados, sem respeito por sua dignidade e liberdade pessoal são o cenário símbolo da miséria vinda da crise econômica. Aqui os Joad encontram dor, sofrimento, morte, mas não a derrota. Na parte final da obra, Ford revela seus fins, até então escondidos, que se mostram ao espectador com toda sua força narrativa É nessa porção de história que o grande cineasta americano mostra o desejo de revanche, a capacidade do homem, cujo espírito é indômito e livre, de conseguir vencer as adversidades e olhar com otimismo para novos horizontes.
Uma obra prima.