Lançado como uma adição discreta ao catálogo do Prime Video, Fight or Flight chega com um atrativo que chama atenção de cara: Josh Hartnett. O ator, que vem tentando consolidar seu retorno a Hollywood após papéis de destaque como em Oppenheimer e no recente A Armadilha, de M. Night Shyamalan, assume aqui um papel que foge do convencional. Longe dos vilões ou personagens soturnos que marcaram suas aparições mais recentes, Hartnett encarna Lucas Reyes, uma espécie de anti-herói em um filme que aposta todas as suas fichas na ação visceral e na criatividade das lutas corpo a corpo.
Essa produção, no entanto, carrega consigo uma bagagem de inexperiência que é difícil ignorar. Dirigido por James Madigan, que faz sua estreia no comando de um longa-metragem, e com roteiro assinado por Brooks McLaren e . Cotrona — também praticamente estreantes na função —, o filme parece muito mais uma vitrine para talentos em início de carreira do que uma obra plenamente madura. Inspirado abertamente em franquias como John Wick e Missão: Impossível, o longa tenta replicar o estilo explosivo e estilizado dessas produções, e consegue, ao menos em parte, entregar cenas de ação com criatividade surpreendente, especialmente considerando o ambiente quase totalmente restrito de um avião.
É justamente nesse ponto que Fight or Flight brilha. A coreografia das lutas impressiona pela variação de estilos, pela forma engenhosa com que se utiliza o espaço confinado e pelos obstáculos que tornam cada combate único. A direção consegue tirar leite de pedra ao transformar compartimentos apertados e corredores estreitos em arenas de batalha imprevisíveis. Há, sim, exageros — e alguns efeitos visuais de sangue beiram o tosco —, mas isso acaba funcionando dentro da proposta mais cartunesca e intensa da produção. Em nenhum momento o filme esconde que quer entreter através do impacto, da violência estilizada e da adrenalina constante. E, surpreendentemente, consegue manter esse fôlego do início ao fim, sem repetir fórmulas ou deixar as lutas caírem na monotonia.
Entretanto, quando o longa tenta ir além da pancadaria, os problemas começam a aparecer. O roteiro é recheado de furos lógicos, e muitos deles se tornam difíceis de relevar por conta da ambientação restrita. A proposta de isolar cada sequência de ação em um cenário diferente dentro do mesmo avião acaba forçando a suspensão de descrença de forma exagerada. Em vários momentos, Lucas Reyes caminha por corredores e áreas do avião que parecem completamente vazias, mesmo com o roteiro deixando claro que há outros passageiros a bordo. A coerência espacial simplesmente não existe, e o filme opta por ignorar o impacto que uma série de tiroteios e brigas violentas teria em um ambiente fechado como esse.
Outro ponto falho está na tentativa de criar conexões emocionais que soam artificiais. O personagem “Fantasma”, que serve como catalisador de toda a perseguição, é brevemente humanizado por diálogos que buscam justificar suas ações, mas tudo soa superficial, como se nem o próprio filme acreditasse na profundidade que tenta alcançar. O mesmo acontece com o protagonista, cuja história pessoal é pincelada de forma tão genérica que não provoca qualquer envolvimento do público. Fica claro que houve uma intenção de trazer motivações mínimas para que o filme não fosse apenas um desfile de socos e chutes, mas a execução é rasa e prejudica o ritmo da narrativa sempre que tenta ser mais dramática ou reflexiva.
No fim, Fight or Flight é um filme de ação que funciona dentro da proposta que abraça: entretenimento direto, sem grandes pretensões. Seus maiores erros estão justamente em tentar oferecer mais do que a própria estrutura comporta. Quando se prende às lutas, à fisicalidade e à ação desenfreada, ele entrega um espetáculo divertido e até criativo. Mas sempre que tenta pousar no terreno das emoções, tropeça feio. Ainda assim, para quem sabe exatamente o que está buscando — ou seja, uma sessão de ação frenética sem exigir muita lógica ou profundidade —, a experiência pode ser satisfatória.