Bruce Willis foi a última opção para o papel principal: Ninguém imaginava que estavam diante de um dos maiores filmes de ação do século XX
Giovanni Rodrigues
-Redação
Já fui aspirante a x-men, caça-vampiros e paleontólogo. Contudo, me contentei em seguir como jornalista. É o misto perfeito entre saber de tudo um pouquinho e falar sobre sua obsessão por nichos que aparentemente ninguém liga (ligam sim).

Duro de Matar foi um projeto quase fadado ao fracasso. O protagonista foi contratado a contragosto, mas quem se arrepende agora?

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Duro de Matar começou como as melhores histórias: sendo um fracasso. Nasceu como a adaptação do romance intitulado Nothing Lasts Forever, de Roderick Thorp, que apresentava um detetive mais velho enfrentando um grupo terrorista real e tinha um estilo muito mais amargo. Queriam Frank Sinatra para o papel, mas ele recusou. E depois também foi rejeitado por Arnold Schwarzenegger. E Sylvester Stallone. E Clint Eastwood. Até Burt Reynolds e Richard Gere foram sondados e disseram não. No fim das contas, Bruce Willis apareceu como última opção e o estúdio teve que aceitá-lo.

Quem diria, para todos os envolvidos, que esse filme de ação pelo qual ninguém dava nada terminaria se tornando um clássico absoluto do gênero e o favorito de muitos espectadores para assistir no Natal.

O tema central do filme não é o terrorismo nem a ação vazia, mas sim como um homem quer pedir desculpas e não sabe como. Isso vem de um acontecimento real que ocorreu com o roteirista Jeb Stuart, que sofreu um grave acidente doméstico e uma forte disputa familiar. Stuart estava muito vulnerável quando escreveu o roteiro e essa tristeza foi transferida para John McClane. Depois, Steven E. de Souza juntou-se como co-roteirista e impulsionou a história para um ritmo mais leve, mais ágil e mais irônico, equilibrando o tom entre drama pessoal e entretenimento puro. O resultado foi um equilíbrio estranho: um herói falho inserido em uma máquina de ação extremamente precisa.

Os pequenos detalhes que o tornaram grande

No meio desse processo, houve curiosidades editoriais e de roteiro que ajudaram a moldar o tom final. O famoso “Yippee-ki-yay” surgiu quase como uma piada improvisada no set. A ideia de que os vilões fossem ladrões disfarçados de terroristas surgiu para evitar problemas com a censura e para manter um ritmo mais ágil. A figura de Holly, a esposa de McClane, passou por múltiplas revisões para evitar que fosse reduzida a um simples macguffin romântico. E a estrutura narrativa foi preenchida com pequenos inserções visuais: planos de pés descalços, planos do walkie-talkie, planos do relógio que depois seria chave para o desfecho. Cada uma dessas decisões, aparentemente menores, contribuiu para construir uma engrenagem de precisão narrativa que outros blockbusters invejaram durante anos.

As filmagens épicas foram outro fator que alimentou a lenda do filme. A torre utilizada — o edifício da Fox em Century City — não estava completamente terminada, o que permitiu usar áreas em construção para rodar cenas de explosões e tiroteios sem a necessidade de sets gigantescos. Willis, que filmava à noite após sua jornada televisiva, terminava muitas sequências exausto. Os dublês, coordenados por uma equipe experiente, criaram quedas que ainda hoje parecem perigosas. O filme não recorre à edição hiperfragmentada tão comum no cinema de ação atual. Deixa que o corpo do ator ou do dublê atravesse o plano, que a luz desenhe o movimento, que o espaço respire. Essa fisicalidade, essa textura tangível, é uma das razões pelas quais ele continua parecendo fresco. Até mesmo as limitações técnicas — como o uso de maquetes para as explosões exteriores — acabam somando à autenticidade visual do conjunto.

Quando Duro de Matar chegou aos cinemas em 1988, ninguém esperava que redefinisse um gênero inteiro. Era, aparentemente, outro filme de ação ambientado em um arranha-céu, com um policial cínico, um grupo de terroristas bem organizados e uma série de explosões calculadas para emocionar o público de verão. Mas o que parecia um produto rotineiro terminou se transformando em uma pedra angular do cinema comercial dos últimos quarenta anos, uma obra capaz de sustentar conversas sobre identidade, masculinidade, família, política e espetáculo com a mesma facilidade com que fazia explodir vidros na tela.

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