A sexta parte desta franquia - que funciona como um reboot - traz frescor, mortes mais engenhosas e algumas surpresas.

Após mais de uma década de silêncio, uma das franquias de terror mais bem-sucedidas retorna com uma inesperada energia renovada em Premonição 6: Laços de Sangue, uma nova entrega que não só busca reviver a fórmula de uma morte inevitável, mas também se atreve a expandir seu universo com novas ideias, muito mais doses de humor (e maldade) e uma clara ambição de maturidade narrativa.
Dirigido por Zach Lipovsky e Adam B. Stein, este novo capítulo mistura o terror de sempre com um olhar mais introspectivo às raízes do trauma compartilhado e da herança familiar, entregando assim ao espectador um dos filmes mais completos e demenciais da saga.
O filme começa com uma sequência ambientada nos anos 60 que, longe de ser um simples artifício narrativo, estabelece desde o primeiro minuto uma atmosfera carregada de fatalismo e humor negro. Iris, a protagonista do prólogo, experimenta uma visão de morte em massa em uma torre onde se encontra um luxuoso restaurante: um espaço fechado e muito alto, com pisos de vidro que rapidamente se transformam em uma armadilha mortal. Este início é sem dúvida um dos melhores de toda a saga, não só mostra a habitual destreza visual da franquia no planejamento de mortes absurdamente elaboradas (com quedas no vazio traumáticas e alguns esmagamentos que arrancarão sorrisos de muitos), mas também introduz o tema da maldição herdada pelos sobreviventes e seus familiares.
Iris não só sobrevive, como carrega um segredo que décadas mais tarde afetará sua neta, Stefani, que começará a ter visões semelhantes. Esta abordagem intergeracional permite que Premonição 6: Laços de Sangue se afaste do simples esquema "premonição e posterior morte em cadeia", para oferecer uma exploração do destino como uma maldição que se transmite de uma geração à outra. O roteiro introduz com acerto a ideia de que a morte não é apenas uma força externa e invisível, mas algo que pode se incubar na psique familiar, acrescentando outras camadas ao mito fundacional da franquia.
Um dos êxitos que esta sexta parte consegue é o tratamento mais cuidadoso dos personagens. Em entregas anteriores, as vítimas da Morte costumavam ser clichês ambulantes: o atleta, a garota popular, o nerd, etc. Em Premonição 6: Laços de Sangue, no entanto, observa-se uma clara intenção de construir papéis mais humanos e complexos.
Stefani (interpretada por Kaitlyn Santa Juana) é uma jovem marcada pela ansiedade, que tenta entender seu lugar em uma família que guarda muitos segredos. Seu irmão Charlie (Teo Briones) funciona como contraponto racional frente à paranoia que sua irmã sofre. A dinâmica familiar, somada à crescente perda de sanidade de todos eles, permite que o espectador se conecte com os membros deste peculiar clã.
Nesse sentido, o filme toma emprestados elementos do cinema de terror mais intimista, quase como se colocasse em uma coqueteleira a mecânica gore de Premonição com o pano de fundo psicológico de filmes como Hereditário ou Corrente do Mal. O resultado é um filme que mantém o divertimento sangrento, mas que também se preocupa em provocar desconforto emocional. Além disso, como é habitual, o roteiro reserva mais de uma surpresa que causa estupor e - outras vezes - a gargalhada esperada.
As mortes, como é de se esperar em qualquer filme desta franquia, continuam sendo o grande atrativo. Premonição 6: Laços de Sangue não decepciona neste quesito: cada morte está milimetricamente coreografada para maximizar a tensão e provocar mais de uma risada. Os diretores brincam constantemente com as expectativas do espectador, fazendo-o acreditar que a morte virá de um lado, para depois tomar um rumo completamente inesperado. Uma cena em particular - ambientada em um estúdio de tatuagem - é uma aula magistral de geração de tensão.
Aqui, o horror se transforma em um jogo macabro de possibilidades, onde cada objeto cotidiano é um possível algoz para os protagonistas. Além disso, há momentos em que o filme ri de si mesmo, de seu próprio legado e das expectativas do público. Este humor bem dosado, torna-se uma ferramenta não só para relaxar tensões, mas como uma piscadela para os fãs do gênero.
Como se não bastasse, a presença de Tony Todd como William Bludworth (o sinistro legista que apareceu em múltiplas partes) oferece uma conexão direta com o lore original. Sua aparição nesta ocasião, mais simbólica do que importante para o desenvolvimento, representa um encerramento emocional para a saga. Todd retorna com a mesma sobriedade de sempre, mas desta vez com um matiz mais reflexivo, quase como se fosse a voz da morte que aprendeu a observar em silêncio. É um momento que não só serve como fan service, mas como ponto de inflexão no tom do filme.
Em suma, Premonição 6: Laços de Sangue é uma surpreendente reivindicação de uma franquia que, para muitos, parecia esgotada. Não só consegue revitalizar a fórmula, como a eleva ao adicionar novas camadas, uma narrativa mais sólida e uma abordagem estética mais ambiciosa.
Embora continue sendo um filme formulaico (mortes em cadeia, tensão, um elenco jovem), a inteligência de sua execução e o respeito por seu próprio universo fazem com que seja percebido como um produto mais fresco. É uma homenagem, uma evolução, uma possível despedida e - para os fãs de longa data - é um retorno triunfal. Além disso, representa para os novos espectadores uma porta de entrada perfeita para este peculiar universo.
Trata-se, sem dúvida, de uma demonstração de que mesmo os formatos mais explorados do gênero podem reviver se tratados com respeito, engenhosidade e coração.