Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda

Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis divertem o público com as loucuras e emoções da continuação de Uma Sexta-Feira Muito Louca

por Katiúscia Vianna

Continuações tardias sempre despertam preocupações dos fãs. Enquanto a nostalgia é agradável na medida certa, o medo de estragar o legado de algo amado é bem alto. Nos últimos anos, já vimos de tudo voltando para as telonas: sagas de terror com o mesmo assassino mascarado, Tom Cruise em aviões e até o Karatê Kid dando seus pulos fora da Netflix. Agora, é a vez de Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis retomarem a comédia que marcou uma geração: Sexta-Feira Muito Louca.

Qual é a história de Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda?

Para quem não lembra, uma breve recapitulação: Freaky Friday (no original) acompanhou mãe e filha, Tess (Jamie Lee Curtis) e a adolescente Anna (Lindsay Lohan), trocando de corpos. Com o casamento da matriarca prestes a acontecer, elas precisam entender os sentimentos uma da outra para voltarem à normalidade.

Nesse sentido, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda segue a mesma base: cerca de 20 anos depois, Anna conta com o apoio de Tess para cuidar de sua própria filha adolescente, Harper (Julia Butters) - que, por si só, já apresenta bastante rebeldia. Jovens, não é mesmo? Mas a situação complica quando a garota cria rivalidade com a estudante britânica Lily (Sophia Hammons), filha de Eric (Manny Jacinto); um cozinheiro por quem Anna se apaixona.

Seis meses depois, o casamento de Anna e Eric está chegando, mas o relacionamento de Harper e Lily não melhora. Durante a despedida de solteira, o quarteto (avó, mãe, filha e futura enteada) conhece uma vidente (Vanessa Bayer) que acaba recriando o mesmo conflito mágico de anos atrás. No dia seguinte, Anna acorda no corpo da filha, Harper, e vice-versa; enquanto Tess troca de corpo com Lily. Enquanto as adultas (agora jovens) tentam descobrir a forma de resolver o problema, Harper e Lily surgem com seu próprio plano: aproveitar a situação para desfazer o noivado de Anna e Eric.

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda traz coisas novas pra algo já consagrado

O problema com essas “sequências-legado” é que elas não conseguem recriar aquilo que amamos da primeira vez para um novo público. Afinal, até para reconquistar os fãs originais é preciso perceber como eles também mudaram com o passar dos anos. A boa notícia aqui é quea direção de Nisha Ganatra em Freakier Friday (no original) consegue retomar boa parte do clima divertido do filme original. É legal ver como Tess e Anna progrediram desde o último filme, ainda tendo alguns problemas de mãe e filha, porém mais compreensivas uma com a outra. E agora se juntam para resolver o caos novamente, enquanto também lidam com seus próprios erros.

Para manter o clima musical, por exemplo, a carreira de Anna como produtora permite a participação de Maitreyi Ramakrishnan (da subestimada série Eu Nunca…) como Ella, uma estrela do pop que, em certo momento, usa conselhos e abusa de figurinos extravagantes com Harper e Lily. Outro detalhe importante é usar Manny Jacinto como o “mocinho” da história, já que ele esbanja simpatia e conquista seu espaço na trama - mesmo sem ter a mínima noção do que realmente está acontecendo.

Obviamente, a trama abusa da nostalgia em alguns aspectos, desde o retorno do hit “Take Me Away” da banda fictícia Pink Slip de Anna, até o retorno aleatório de Chad Michael Murray - galã queridinho dos anos 2000 que reprisa o papel de Jake, ex-namorado da protagonista, mas que também tem uma quedinha por Tess. Precisa dele ali? Absolutamente não. Mas gera umas piadas legais com Lindsay Lohan flertando da maneira que só uma jovem de 15 anos saberia fazer. Acredite, já passei por isso.

E esses pequenos furos de roteiro não atrapalham, pois o principal atrativo do longa mesmo é ver Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan se passando por adolescentes. É pra isso que a gente paga o ingresso.

Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan estão “possuídas” em comédia (no melhor sentido)

E, apesar de alguns defeitos no roteiro, a experiência da continuação é bem engraçada, também trazendo um clima descontraído. A gente já sabia que Jamie Lee Curtis podia fazer uma adolescente, mas ela se supera na sequência, sendo ainda mais absurda (e, sinceramente, seria uma vitória mais justa no Oscar de melhor atriz coadjuvante do que aquele recebido por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, digo mesmo).

A novidade é que Lindsay Lohan consegue carregar suas cenas junto com Jamie Lee Curtis, o que culmina em sua melhor performance desde o comeback da carreira de atriz. Ok, ela tem mais espaço para brincar aqui do que naquelas comédias românticas genéricas da Netflix, sendo o centro das piadas geracionais junto com Curtis, mas também trazendo certa empatia por Harper no corpo de Anna.

Revelação de Era uma Vez em… Hollywood, Julia Butters segura bem a responsabilidade de interpretar mãe e filha em momentos distintos, ao lado de Sophia Hammons - que, por sua vez, assume papéis bem mais diferentes. Por mais que suas possibilidades na trama sejam menos interessantes, ambas as jovens atrizes ainda encontram momentos para brilhar e fazer o público acreditar na troca de corpos.

Vale a pena ver Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda?

A confusão instaurada nas vidas dessas quatro mulheres representam justamente quais eram os pontos fortes e fracos do primeiro filme. Se a troca entre Anna e Harper reforça o atrito geracional já bem visto no primeiro filme, aquele entre mãe e filha que, finalmente, passam a “se comunicar na mesma língua”. Por sua vez, a troca de Tess e Lily - que parece bem mais forçada na teoria, mas faz um bom trabalho abrindo espaço para desenvolver melhor o conflito causado pela união de duas famílias. Afinal, não é apenas Eric: Lily também entra na equação.

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda dá passos confiantes ao repetir boa parte da estrutura do primeiro filme, com um clima descontraído e atuações loucas de Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan. Porém, o filme vai além para expandir essa história (e, consequentemente, essa família) para novos horizontes de forma que se relaciona com o público. Então, eu encerro essa review com alguns pedidos:

1º - Descobrimos aqui como dá para fazer piada com a geração Z sem ser “eles ficam nos celulares o tempo todo” por favor sigam assim!

2º - Escalem Manny Jacinto como protagonista de todas as próximas comédias românticas. Conto com o apoio dos fãs desse filme, de The Good Place e The Acolyte!

3º - Aceitem o fato que um filme pode ser apenas divertido! Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda não reinventa a roda, mas usa o espírito de algo amado para criar algo novo. Em momentos tão desastrosos, a sociedade precisa de filmes-conforto. Esse aqui seria um clássico da Sessão da Tarde, com certeza. Tal mãe, tal filha…