Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Então Morri

A vida nas entrelinhas

por Barbara Demerov

Na maioria das vezes, o cinema é a porta que nos leva para outra realidade. Para o novo e o mágico, o perfeito e o inesperado. Mas também há vezes em que a sétima arte nos surpreende ao abordar a intensidade do cotidiano de uma pessoa 'normal'. Dito isso, o cinema consegue exceder expectativas quando nos mantém na mesma realidade e, ao mesmo tempo, faz com que seja possível vermos com outra abordagem o que já está à nossa frente.

Então Morri traz, então, um outro tipo de magia para as telas: o tratamento de situações que, por mais especiais que sejam, por vezes também são consideradas banais. Bia LessaDany Roland rodaram o Brasil por um período de 20 anos e armazenaram uma quantidade imensa de imagens de pessoas comuns em locais simples. Com isso, o resultado se deu como um filme de flashbacks.

De forma observativa, os diretores flagram pessoas comuns em momentos diferenciados da vida. A morte, a vida, a celebração e a tristeza permeiam a narrativa, contada de trás para frente de forma distinta. A qualidade das imagens pode incomodar em certos momentos, mas é inegável que, chegando à resolução, a qualidade do conteúdo ultrapassa qualquer coisa.

Ao costurar diferentes etapas da vida com diferentes personagens femininas, e ao mesmo tempo tornando-as apenas uma mulher da infância até a velhice, Bia e Dany atingem o ápice da sensibilidade artística.

Não há atuações ou planos perfeitos, muito menos uma trilha sonora para acompanhar tudo isso, pois mostrar a vida como ela é, por mais angustiante que soe em algumas passagens, é o objetivo principal da dupla. Não que a obra seja isenta de falhas; ao utilizarem diversas situações e/ou personagens bem diferentes um dos outros, a estrutura do filme torna-se um tanto desnivelada.

No mais, Então Morri é um material poético que busca contar um pouco da história de cada mulher, e o mais interessante é que o filme não se estende somente a mulheres brasileiras. Todas as mulheres poderão se identificar com alguma fase, frase ou olhar - e isso só reforça o quanto o cinema pode ser verdadeiramente universal.

Filme visto na 1ª edição do Festival Internacional de Mulheres no Cinema em julho de 2018.