Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Columbus

Encontros e desencontros

por Lucas Salgado

Lançado em 2003, Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola, trazia um casal que se encontrava em meio a um cenário de solidão em uma terra estrangeira e desenvolvia uma relação inusitada. Agora, 14 anos depois, Columbus chega com alguns dos mesmos elementos do premiado filme. Mas também com características bem próprias e especiais.

Dirigido pelo americano de origem sul-coreana Kogonada, em seu trabalho de estreia, Columbus é o nome da cidade em que se passa a história. Trata-se de um local com menos de 50 mil habitantes, mas que é considerado um marco arquitetônico mundial, com inúmeros prédios pensados por nomes importantes da história da arquitetura. A cidade-título é quase que uma protagonista da trama, que se enlaça na natureza profunda e ao mesmo tempo vazia do local.

É neste cenário que Casey (Haley Lu Richardson) conhece Jin (John Cho). Ela trabalha numa biblioteca e passa boa parte do tempo preocupada com a mãe, uma ex-usuária de drogas. A jovem viu todos seus amigos deixarem a cidade rumo à universidade e parece presa no local. Já Jin é um tradutor sul-coreano que morou nos Estados Unidos na juventude e que chega à cidade após seu pai - um importante arquiteto - ser hospitalizado lá. Enquanto a saúde do pai segue incerta, ele acaba explorando os cenários de Columbus. E é como conhece Casey.

Solitários, com problemas familiares e sem grandes perspectivas, eles se encontram e logo desenvolvem uma relação inusitada. Não se trata de um romance, mas de um apoio mútuo, o que mais uma vez lembra Encontros e Desencontros.

A relação dos dois é muito bem pensada e os cenários diferenciados arquitetonicamente reforçam o lado incomum e contemplativo da produção. Neste sentido, é interessante notar que a fotografia de Elisha Christian utiliza-se principalmente de planos simétricos e fixos. A grande maioria das tomadas são paradas. Isso só muda quando acontece algo realmente importante no trama, como no primeiro encontro entre os protagonistas. A quebra do formato mostra o quão bem pensadas foram todas as cenas da produção, que tem um grande valor estético.

Outro destaque da produção é a trilha sonora do grupo musical Hammock, que conduz bem a narrativa em seus momentos fortes e também nos mais contemplativos. Destaca-se ainda todo o trabalho de som e mixagem da produção, especialmente quando opta por silenciar conversas em cenas importantes (alguém aí falou em Encontros e Desencontros?).

Columbus pode ter semelhanças com outras produções, mas é completamente original no seu jeito de ser. São poucas obras na atualidade que tratam de metanfetamina e modernismo. Esta é uma delas.