Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Os Dez Mandamentos - O Filme

O Carnaval da Record – numa tela maior do que a sua TV

por Renato Hermsdorff

O que esperar quando 176 capítulos de uma novela são comprimidos em duas horas de filme? Antes de mais nada, o resultado é uma novela, e não necessariamente um filme. Adaptado da bem-sucedida produção da TV Record, Os Dez Mandamentos, a versão que ganha agora os cinemas até contou com cenas exclusivamente filmadas para o novo formato. Mas elas servem mais como um “Continua...” – já usado na TV para anunciar a segunda “temporada”, aliás – do que justificam a transposição para a tela maior. 

Para dar conta de condensar a extensa trama de Moisés – a saga do profeta, que cobre mais de cem anos, e é adaptada livremente de quatro livros da Bíblia – em pouco menos de duas horas, os realizadores optaram por um ritmo “ágil”, cujo corte frenético lembra um extenso trailer (como se o “filme” estivesse para a novela, assim como um trailer está para um filme normalmente).

Personagens entram e saem de cena em um ritmo alucinante, sem que o espectador familiarizado com o folhetim tenha instrumentos para poder compreender exatamente o que se passa. Tudo é muito rápido. Mas isso é a primeira metade, que corre, como o diabo foge da cruz.

Conta a favor da plateia leiga a narração feita por Josué (Sidney Sampaio). A ele cabe o grosso das tais cenas adicionais. O personagem reúne seus semelhantes à beira do fogo para contar a história do passado de seu povo, ou seja, a história que veremos a seguir. É didático e, como cinema (e como bônus) um recurso preguiçoso, mas que "funciona": 1) para quem acabou de chegar; 2) para introduzir o que virá por aí, afinal, "A Terra Prometida" dará sequência à história na TV, com Moisés passando o cajado para Josué.

Já a segunda metade é focada nos dois personagens principais: o embate direto entre o protagonista, vivido por Guilherme Winter, e o meio irmão e vilão Ramsés (Sérgio Marone), rei que escraviza o povo hebreu. Sim, você leu “focada”. Depois do frenesi das cenas que se propõem a apresentar os personagens e conflitos, aqui, os takes duram mais do que um minuto, o que permite um vislumbre um pouco mais claro da trama.

O prometido “novo final” – fato que não deixa de ser curioso, haja visto que estamos falando da adaptação de um texto de amplo conhecimento público (é a bíblia!), de um produto que acabou de ir ao ar na televisão – não é exatamente novo, mas uma extensão de como termina(ria) a novela, caso os realizadores não tivessem optado por dar continuidade à trama, com estreia prevista para março na TV.

Do ponto de vista técnico, a caracterização incomoda. E muito. É baseada no exagero e, paradoxalmente, pobre (que atire a primeira pedra quem acreditar que a tiara de Ramsés é mesmo feita de ouro). Dos cenários ao figurino, tudo lembra um grande desfile de carnaval. E o pior: falta verossimilhança. A vestimenta de Moisés não suja nem amarrota mesmo depois de passar por uma tempestade de areia. Tudo é muito plástico.

Já os efeitos são... como a experiência de assistir nos anos 1990 a um filme de fantasia produzido na década de 1980 com a TV ligada no SBT (A História Sem Fim pode ser um parâmetro). Nesse cenário, o que dizer das atuações? São caricatas, no mínimo (com uma leve melhora para Winter na fase “de barba”). São cenas para o próximo capítulo.