Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Frantz

Um ‘Ozon’ aquém de François Ozon

por Renato Hermsdorff

O cineasta francês François Ozon não possui uma assinatura, propriamente dita. Mas construiu uma filmografia que, em sua quase totalidade, não passa despercebida, fazendo uso de expedientes ora ousados (Gotas D'Água em Pedras Escaldantes), ora sensuais (Swimming Pool - À Beira da Piscina), também espinhosos (O Tempo que Resta), irreverentes (Ricky), até, ou mesmo adotando uma linguagem fora do comum (8 Mulheres).

Frantz é uma das apostas mais caretas, em retrospecto, dentro do trabalho do diretor, que opta por uma narrativa clássica, não necessariamente problemática.

O filme, que se passa numa pequena cidade alemã do pós-guerra (Primeira Guerra Mundial) conta mais da história de Anna do que exatamente da de Frantz. Ela (Paula Beer) é a viúva dele, morto em combate que, num determinado dia, dá de cara com um “estrangeiro” prestando homenagens no túmulo de Frantz. Adrien (Pierre Niney) é um jovem francês (pela nacionalidade, inimigo em potencial dos alemães), também ex-combatente, porém pacifista, que se apresenta como amigo do falecido e acaba por fazer contato com a moça e os sogros dela, casal que a considera como filha.

A partir da premissa, duas histórias correm em paralelo, com o mesmo grau de importância. A primeira, pessoal, dá conta dos laços que são construídos entre esses personagens: são fatos, por assim dizer; a segunda, que engloba o contexto, aborda os traumas deixados pelo conflito: como análise, é o que o filme traz de melhor, num primeiro momento, servindo como de pano de fundo para que se discuta temas pertinentes e atuais, como a tolerância e o perdão.

Ozon constrói, como é de costume, um clima de mistério (e até certo homoerotismo) a respeito das reais intenções do francês. É uma forma (eficiente) de prender a atenção do público na primeira metade da projeção. Há muitas lacunas a serem preenchidas. Porém, no tempo que resta, o viés “pessoal” da história se sobrepõe ao contexto geral do pós-guerra e descamba para uma sucessão de reviravoltas que empobrecem a narrativa de uma forma geral. Não ofende, mas tampouco empolga.

Na forma, vale destacar (e como vale!) o uso do preto e branco, predominante no filme, não como mera pretensão estilística, mas como recurso narrativo de fato. Uma aposta simples, porém eficaz.

No fim um ‘Ozon’ aquém de François Ozon.