Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
O Espaço Entre Nós

Um marciano apaixonado

por Bruno Carmelo

No papel, este projeto apresenta grandes ambições. Ele tenta combinar a ação e a tecnologia de uma ficção científica espacial com um romance adolescente em moldes independentes, acrescentando elementos de comédia, drama, road movie e aprendizado familiar. A premissa também é criativa: uma astronauta viaja a Marte sem saber que está grávida, e dá à luz no planeta vermelho. Como o bebê não suportaria a viagem de volta à Terra, é criado em segredo em solo marciano. Mas chegando à adolescência, Gardner (Asa Butterfield) quer viver no planeta de seus pais e encontrar o amor de sua vida, a garota com quem se comunica pela Internet, Tulsa (Britt Robertson).

A trama não é adaptada de um romance literário, mas sofre com os problemas típicos de uma adaptação. O roteiro tenta compactar mais conflitos do que consegue desenvolver, deixando pouco espaço para que cada reviravolta exerça um impacto verossímil nos personagens. O diretor Peter Chelsom prende-se a uma estrutura de fatos, de ações sucessivas: 1. Uma astronauta vai à luz, 2. Ela vomita, o que obviamente significa que está grávida, 3. Ela está parindo, 4. A NASA declara que o bebê será mantido em segredo, 5. Gardner é um adolescente solitário, 6. Ele diz que quer voltar ao planeta Terra etc. São tantas elipses que talvez o humanismo tenha se perdido entre os cortes abruptos da montagem.

O roteiro abre brechas para a abordagem de temas importantes como o luto, o amor platônico entre dois jovens órfãos, o sentimento de inadequação, os limites éticos das viagens espaciais, a ganância da corrida tecnológica moderna, a metáfora do primeiro amor como um sentimento extraterrestre... Mas nenhum desses elementos é aprofundado. O resultado é uma galeria de figuras superficiais: Gardner apresenta poucos conflitos típicos de um adolescente, Tulsa é reduzida a uma garota problemática, a astronauta Kendra (Carla Gugino) não possui função além de cuidar do garoto, o engenheiro Nathaniel (Gary Oldman) convenientemente desaparece da história quando o roteiro não tem tempo para cuidar dele.

A mistura de gêneros também apresenta um funcionamento deficiente. Chelsom, perito das comédias românticas, fica à vontade na interação entre os adolescentes, extraindo momentos ternos da promissora dupla de atores. No entanto, seu imaginário da ficção científica é simplório em termos visuais e narrativos – muitas das descrições científicas são absurdas mesmo dentro do contexto fantástico. Paralelamente, as cenas de ação com Gardner sendo perseguido pelos Estados Unidos revelam-se particularmente mal filmadas. De modo geral, em cada momento que um desses gêneros assume o controle, o outro desaparece: temos menos uma fusão de estilos do que uma justaposição atrapalhada de ação, comédia, romance e ficção científica.

O resultado deve agradar mais aos fãs de histórias adolescentes do que ao público ávido por tramas interplanetárias. O Espaço Entre Nós constitui um projeto moderadamente eficaz, que nunca oculta suas falhas conceituais – o roteiro, em especial, precisava de muito mais desenvolvimento – nem a direção sem personalidade de Chelsom. Não é o tipo de produção ruim o suficiente para ser descartada, tampouco apresenta qualidades dignas de uma obra memorável. É surpreendente, inclusive, a presença de grandes nomes como Gary Oldman neste escapismo inofensivo.