Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Tristeza e Alegria

Filme-terapia

por Lucas Salgado

Johannes (Jakob Cedergren) é um cineasta que chega em casa um dia e se depara com uma tragédia. Em um surto psicótico, sua esposa Signe (Helle Fagralid) matou sua filha Maria, de apenas nove meses. A partir de então, ele tenta seguir com sua vida e apoiar a mulher, que é internada e está profundamente traumatizada.

A trama é dura e triste, mas é ainda pior: é baseada na história de vida real do diretor do filme, o dinamarquês Nils Malmros. Sim, o cineasta pegou tal experiência traumática e jogou na tela dos cinemas para todos verem, numa demonstração incrível de coragem. De certa forma, estamos diante de um exercício de terapia. Malmros enfrenta seus traumas da forma que consegue, fazendo cinema.

Um dos principais méritos da produção, e uma característica da cinematografia de países nórdicos, está no fato de não ser um melodrama com emoções à flor da pele. Tudo é muito frio e complexo. O personagem tem sua vida completamente abalada. Ele não sabe como seguir em frente. E o espectador embarca nesta jornada e vai se emocionar muito. As lágrimas surgem sem que tenhamos uma trilha muito pesada ou sequências forçadas, elas são naturais da dureza da situação vivida pelos personagens.

A situação é tão impensada e inesperada que Johannes pode parecer até passivo demais em alguns momentos, mas a verdade é que ele não consegue acreditar no que aconteceu. Ele só é obrigado a confrontar a realidade no momento em que tem que dar a notícia para seus pais, o que gera uma cena bela, mas triste.

Cedergren controi um Johannes repleto de dúvidas e inquietações, enquanto que Fagralid interpreta uma mulher frágil e abalada, obviamente. O elenco traz ainda boas participações de Ida DwingerKristian HalkenNicolas BroSoren Pilmark, mas são os dois primeiros que comandam a narrativa.  

A fotografia sem muitas corres de Jan Weincke ajuda na construção de um drama denso e repleto de melancolia. Também vale destacar o design de produção e a escolha dos cenários. Enquanto o apartamento da casal reflete frieza e tristeza, as locações das filmagens (dentro do filme) reforçam o local onde o personagem se sentia mais confortável, o set.

Trata-se de uma obra dura e corajosa. O título nacional é uma tradução literal do original. Ainda assim, deixa a dúvida ao filme: aonde está a parte da alegria?