Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
As We Were Dreaming

Juventude transviada

por Bruno Carmelo

Este filme alemão apresenta um grupo composto por cinco adolescentes, vivendo em bairros periféricos de Berlim. Eles brigam nas ruas, bebem, roubam carros, usam drogas, gritam com as pessoas ao redor. O clima é de diversão, de inconsequência: apesar de serem presos algumas vezes, eles são soltos logo em seguida. Segue-se então uma espiral de excessos, produzindo a sensação de euforia e liberdade.

O diretor Andreas Dresen tenta construir um filme conectado à juventude underground. O ritmo lembra uma rave, uma playlist de músicas eletrônicas. Cada pequena cena funciona como uma esquete independente, anunciada por letreiros coloridos e gritantes que invadem toda a tela. A câmera se agita para todos os lados, os enquadramentos estão sempre em busca de novos acontecimentos, a montagem acelera o ritmo entre os planos. Cada episódio termina em grito, sangue, lágrimas, risos. A juventude, pelos olhos do cineasta alemão, é uma época de catarses e de perda de si mesmo.

Embora adote uma estética ultrarrealista no intuito de chocar o espectador, As We Were Dreaming não esconde o seu discurso idealista, a começar pelo título. “Enquanto estávamos sonhando”, em tradução livre, remete ao mesmo tempo à nostalgia (vide o verbo no imperfeito) e ao sonho, em oposição à realidade. Dresen constrói uma história sobre a adolescência dura, mas divertida e inesquecível, destes jovens inconsequentes.

Isto poderia levar a um discurso pró-experiências extremas (em termos de drogas e sexo, por exemplo), mas o filme toma o cuidado de ser politicamente correto, de duas maneiras. A primeira delas diz respeito aos constantes flashbacks, revelando que os cinco rapazes – e uma garota por quem eram apaixonados – já foram anjinhos durante a infância, bem comportados e interessados em seguir um bom caminho. Mas depois, por questões familiares (muitos são órfãos, ou vítimas de pais ausentes), caíram no mundo das drogas.

O segundo aspecto politicamente correto aparece na conclusão. Sem entrar em detalhes, basta dizer que As We Were Dreaming toma o cuidado de conferir aos personagens um momento de redenção, um acesso de consciência quando decidem que é hora de abandonar a vida inconsequente e adotar um “bom caminho”. Sem transformações psicológicas que justifiquem tal mudança, o resultado soa moralista e conservador. Isso sem falar no machismo da trama, que enxerga mulheres apenas como prostitutas disponíveis ao prazer masculino. Somando à fraca atuação de Merlin Rose no papel central, este filme revela-se uma experiência menos “descolada” do que pretendia ser.

Filme visto no 65º festival de Berlim, em fevereiro de 2015.