Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Disparos

Criminalidade latente

por Francisco Russo

A criminalidade é um tema bastante explorado pelo cinema, seja no Brasil ou em outros países. Natural, afinal de contas ela faz parte do cotidiano de todos, em maior ou menor escala. Em Disparos, a diretora Juliana Reis foge do velho clichê do mocinho contra bandido para trazer a história de um embate moral. De um lado, o fotógrafo arrogante que foi vítima de assalto. Do outro, o policial que prolonga a investigação ao máximo como resposta ao nariz empinado do primeiro. É a partir deste conflito, sem uma única bala ser disparada – o título é uma referência ao disparo das máquinas fotográficas e também uma certa piada em torno da abordagem do tema principal -, que o longa-metragem é apresentado.

A história começa confusa, não-linear, com uma edição fracionada de forma que cada detalhe seja, pouco a pouco, revelado ao espectador. O personagem central é Gustavo, um fotógrafo conceituado – ao menos é assim que ele se apresenta – que deixa uma boate gay, após a realização de um trabalho. Já dentro do carro, ele e seu colega são assaltados por dois jovens numa moto. Em meio à tensão do momento, chega um carro e atropela os dois bandidos, fugindo rapidamente. Um deles morre, na hora, o outro consegue fugir. O mesmo faz Gustavo, mas ao perceber que o cartão de memória de sua máquina fotográfica ficou com o bandido, ele retorna ao local do crime para recuperá-la. É quando é questionado por um policial, que o leva a uma delegacia para prestar depoimento.

É na delegacia que o filme enfim ganha força, pelo conflito criado entre os personagens de Gustavo Machado, o fotógrafo, e Caco Ciocler, o policial. A ironia reinante nos diálogos, seja no sentido de subjulgar o outro ou pelo próprio desprezo, é o que o longa traz de melhor. Entretanto, com o passar do tempo a sensação crescente é que não há história suficiente para suportar tamanha tensão. A própria fragmentação do assalto, com pedaços ou novos olhares sendo revelados aos poucos, soa uma decisão muito mais para estender o roteiro do que propriamente estética. Além disto, Disparos traz subtramas com personagens coadjuvantes que são absolutamente desnecessárias, como o relacionamento da namorada de Gustavo com o colega de trabalho dele e ainda o golpe boa noite, Cinderela aplicado a um dos presentes na boate gay. Mais uma vez, fica a sensação de que se tentou esticar ao máximo uma história que, originalmente, não serviria a um longa-metragem.

Diante destes problemas, graves para um filme que dura apenas 82 minutos, Disparos cada vez mais perde força até chegar ao final apelativo, onde a diretora exagera bastante ao enviar um recado a todos sobre a criminalidade nas grandes cidades – o Rio de Janeiro, local onde tudo acontece, acaba servindo como exemplo. Fraco.