Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Os 33

Filme de resgate

por Francisco Russo

Foram 69 dias presos embaixo da terra, tendo que lidar com o inevitável calor decorrente de estar em um ambiente fechado e, durante boa parte deste período, com racionamento de comida e água. Tudo isto em um grupo de 33 pessoas, de diferentes crenças e nacionalidades, o que também trouxe dificuldades em relação ao convívio e tensão. A saga dos mineiros chilenos que, em 5 de agosto de 2010, foram soterrados na mina em que trabalhavam foi acompanhada mundialmente, não apenas pela torcida para que se salvassem mas também pela complexa e vitoriosa engenheira utilizada para retirá-los do local (alerta de spoiler vencido, pela popularidade do fato). Hollywood, é claro, não deixaria passar em branco tamanha comoção e logo correu para produzir a sua versão dos fatos.

Baseado no livro de Hector Tobar, jornalista americano que escreveu a versão oficial dos sobreviventes de Capiapó, Os 33 é um filme que, de antemão, peca pela autenticidade devido à opção em ser falado em inglês. Por mais que seja compreensível pelos interesses comerciais e também pela diversidade de atores presentes (do irlandês Gabriel Byrne à francesa Juliette Binoche, passando pelo brasileiro Rodrigo Santoro e o espanhol Antonio Banderas), há uma nítida perda de veracidade pelo simples fato da língua local não ter sido preservada. Mais ainda: o fato de nenhum dos principais personagens ser interpretado por um chileno, e nem mesmo a diretora Patricia Riggen, torna este filme um conto de estrageiros, que se apropriam de tal história. Por mais que Hollywood teime em achar que a América Latina é uma só, há peculiaridades locais que com certeza não foram aproveitadas.

Dito isto, Os 33 até surpreende pelo gigantismo da estrutura interna na mina, com suas diversas cavernas que servem de cômodo para os habitantes temporários. A cena em que tudo desmorona e os personagens-título ficam soterrados a 520 metros abaixo do nível do mar é digna de filme catástrofe, com a tensão inerente ao ocorrido. Desabamento consumado, é hora do lado emocional dominar a narrativa. Seja no clima claustrofóbico e soturno dos mineiros, temerosos da morte e cogitando a possibilidade de canibalismo, até o desespero de quem está acima da terra. É hora também de estabelecer os principais personagens deste filme de salvação.

Cabe a Rodrigo Santoro dar vida ao lado político da situação, o Ministro da Energia com jeitão de galã Laurence Golborne. Além de coordenar o resgate, é ele também quem serve de relações públicas do evento. Juliette Binoche é a irmã mais velha de um dos mineiros, com um sotaque espanholado impressionante, enquanto que Gabriel Byrne atende pela engenharia da operação e Antonio Banderas é o típico líder que mantém os mineiros sob controle (na medida do possível). Chama a atenção o desperdício de Adriana Barraza, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante por Babel, que mal aparece em cena.

Se a primeira metade do longa-metragem segue a fórmula tradicional do “todos juntos vamos”, em busca da vitória consagradora, é na reta final que Os 33 ganha ares mais interessantes. Mais exatamente, quando a broca enfim alcança a mina soterrada. A partir de então, o filme desenvolve melhor uma série de subtramas interessantes que já estavam ali plantadas, como os interesses de exploração financeira em torno do ocorrido, o uso político da vitória encaminhada e o circo da mídia montado em torno do acampamento – com direito a uma espéce de “Datena chileno”, que remete ao clássico (e necessário) A Montanha dos Sete Abutres. Tudo ao som da bela trilha sonora de James Horner, baseada em instrumentos de sopro.

No fim das contas, Os 33 atinge seu objetivo. Conta de forma adequada e com um quê de épico a saga dos mineiros chilenos, com direito a homenagens aos sobreviventes nos créditos finais. Por mais que tenha uma história de fácil apelo, a direção de Patricia Riggen não busca a emoção fácil do espectador, dosando as sensações até liberá-las de vez na reta final, com o inevitável tom apoteótico do resgate.