Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Branca de Neve

Filme mudo para ser falado

por Roberto Cunha

Certos filmes conquistam o espectador de cara por apresentar uma proposta diferenciada. Se você considera interessante a ideia de assistir um filme dos tempos modernos, em preto e branco, sem diálogos e com uma estética antiga, Branca de Neve é um prato cheio.

Na história, um famoso e implacável toureiro perde a esposa durante o parto e, traumatizado, rejeita a criança, para o deleite de uma cruel enfermeira (Maribel Verdú) de olho no dinheiro do viúvo. Criada pela avó, a pequena Carmen conhece a história do pai através dos recortes de jornais e revistas. Uma nova tragédia, porém, faz com que ela necessite morar na casa dele, sob o olhar atento da malvada madrasta, que fará de tudo para impedir qualquer tipo de reencontro.

A ausência de diálogos não compromete em nada o ritmo da trama, que investe no humor, fala de traição, vaidade, amizade e flerta com a fantasia. Além do uso da elementos do original dos irmãos Grimm, como anões (em número e visual bem diferentes) e fruta envenenada, o roteiro utiliza o polêmico esporte das touradas como elemento e ainda encontra espaço para uma possível citação de Atração Fatal, só que com um galo no lugar do coelho. Lembrou da cena? Falando em lembranças, é quase impossível não recordar do bem sucedido O Artista, mas o filme de Michel Hazanavicius tem mais densidade. Isso não significa dizer que este longa de agora seja vazio, talvez, menos emocionante que o ganhador de vários Oscar.

Escrito, produzido e dirigido por Pablo Berger, Branca de Neve conquistou dezenas de prêmios. Visualmente, tem muito dos clássicos, como uma bitola quadrada (típicas do cinema mudo) e usa um tradicional wipe em círculo (transição de íris) para fazer as passagens de cena. Dotada de papel semelhante a de um ator, a trilha sonora do premiado Alfonso de Villalonga faz parte de um elenco do qual se destacam as estreantes Sofia Oria e Macarena García, que interpretaram a protagonista nas duas fases da vida, além da (ótima) veterana Maribel Verdú, em seu primeiro papel de malvada da carreira. Assim, esse segundo longa do cineasta espanhol pode até não ter palavras ditas, mas não é fácil sair da sala sem falar nele.