Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Cortina de Fumaça

Debate fica na promessa

por Lucas Salgado

Não existe nenhuma regra, escrita ou implícita, falando que o cinema, seja ele documental ou de ficção, deve ser sempre imparcial. Isso é mera e estapafúrdia argumentação de quem discorda da visão de determinado filme.

A produção, no entanto, deve ser sempre honesta com o espectador. E é justamente nisso que peca este Cortina de Fumaça. O documentário já se inicia com uma narração do diretor Rodrigo Mac Niven falando que fez o filme para promover um debate inédito sobre a questão das drogas.

Ao conferir o longa você percebe que a noção de debate do diretor é totalmente equivocada. Um debate sério pressupõe em SEMPRE se ouvir todos os lados e não apresentar apenas uma vertente da história, que é o que acontece em Cortina de Fumaça. Aqui, assume-se uma posição panfletária cujos argumentos serão todos pró-legalização das drogas, em especial a maconha.

Como falei inicialmente, se o documentário se assumisse como o portador da opinião pró-drogas não haveria problema, bastava afirmar "este documentário busca contradizer as opiniões dos que defendem a criminalização das drogas". Mas não, ao mesmo tempo que organiza uma "marcha pela maconha" na nossa frente nos diz que está promovendo uma discussão sobre o tema. Exposição de opinião e debate de opiniões são coisas completamente diferentes.

Apesar da promessa não cumprida de promover um debate, o longa é válido no sentido de apresentar diversos argumentos em prol da legalização da maconha. Neste sentido, é inclusive bem sucedido ao não se ater a um ou dois argumento, buscando os fatores históricos, científicos, sociais e culturais da questão.

Outro mérito do filme está na escolha dos entrevistados, que também não estão ligados a apenas uma vertente neste problema. O filme ouve especialistas, policiais e políticos de todo o mundo sobre o tema, inclusive o sociólogo e ex-Presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso e o jornalista e Deputado Federal Fernando Gabeira.

Como podem ver, a produção cobre muito bem um dos lados do problema, pena que se propos a mostrar os dois. O lado que defende a criminalização das drogas, no entanto, ficou perdido, provavelmente atrás de uma cortina de fumaça.