Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Pronta para Amar

É pra rir ou pra chorar?

por Roberto Cunha

Não tem jeito. O resultado positivo das bilheterias faz com que muitos estúdios, produtores e até distribuidores optem por "vender" um filme como comédia romântica. Mas e se o conteúdo da obra tem uma carga dramática? Esconda. Essa parece ter sido a opção para esse título, que embora conte com atores acostumados a fazer rir, tem drama de montão. Marley Corbett (Kate Hudson) é uma publicitária bem sucedida, safadinha por natureza e rainha do sexo casual por uma única razão: não acredita no amor para sempre. Cercada de amigos que curtem seu jeito especial de ser, ela foi duplamente surpreendida ao fazer um exame de saúde: conheceu um simpático médico (Gael Garcia Bernal) todo anjelical e - pasme - entrou em contato com Deus (Whoopie Goldberg), que a avisou da gravidade de sua doença.

Na abertura, uma trilha típica do gênero situa o espectador no clima pra cima, apresentando personagens, a farra e unidade entre eles, mas na medida em que a história avança, esse colorido dá espaço para tons menos vivos e um preto-e-branco menos cool bate à porta da protagonista. É quando você descobre que a descrença dela em relação aos laços afetivos tem origem em casa, pois seus pais (Kathy Bates e Treat Williams desperdiçados) não se dão bem. Para piorar, uma das amigas (a boa Rosemarie DeWitt) está grávida, fazendo o delicado contraponto de que um está chegando enquanto o outro está partindo. Tristeza, alegria... qual sentimento prevalece? Mesmo dando continuidade ao jeitão dela de tocar a vida, a proximidade com a morte pesa na maioria das vezes, reduzindo a capacidade de rir e até tendenciando para um lado piegas. O roteiro insere romance, com estrela sem maquiagem e astro com derrière a mostra, além de esperança na luta contra o câncer, mas rola um humor (bizarro) com relação a região afetada, meio desnecessário.

A sequência com o anão Pedacinho de Céu, cujo nome em inglês A Little Bit of Heaven é o título original do filme, é altamente (sem trocadilho) de mau gosto. E este flerte com a bizarrice é uma constante, como revelam sequências envolvendo personagens travestis, transformistas e até piadinha com o "casal" Sigfried & Roy, mágicos de Las Vegas. No embalo de boas canções (tem até Bates cantando "Mercedes Benz", de Janis Joplin) e por conta da avalanche de situações, não será difícil o espectador ficar confuso com o andamento da trama, que descamba para o dramalhão, reforçando a tese inicial do gênero errado. Nessa salada de sentimentos, fica a certeza de que a dificuldade de se expressar nunca deve impedir que o amor se manifeste e seja sempre possível uma reconciliação. Mas permanece a dúvida se o filme é pra rir ou pra chorar.