Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Os Três Mosqueteiros

Invencionices

por Francisco Russo

Certos clássicos jamais saem de moda. Volta e meia Drácula, Frankenstein, O Morro dos Ventos Uivantes, Hamlet e outras histórias tão ou mais famosas dão as caras nas telas de cinema. São as releituras, versões que tentam apresentar algo de novo em relação ao original consagrado. Em certos casos tentando modernizar a história, inserindo elementos que, teoricamente, a torna mais agradável para o público atual. É o que acontece com Os Três Mosqueteiros, nova versão do clássico livro de Alexandre Dumas que ganha ingredientes bastante inusitados.

A começar pela grande novidade do filme: um dirigível com casco de navio, uma máquina de guerra criada por Leonardo Da Vinci (!!!) que sobrevoa Paris e Londres em pleno século XVII. Trata-se do atestado definitivo da falta de compromisso do filme com a veracidade da época, portanto esqueça tudo o que aprendeu na escola. A estratégia não seria necessariamente ruim, desde que as novidades ao menos fossem interessantes. Não é o que acontece. O tal dirigível serve apenas para criar cenas de ação vazias e pouco empolgantes, repetindo no ar batalhas entre navios já vistas em inúmeros filmes de piratas. A única boa cena com sua presença é quando fica preso em um ponto turístico de Paris, mais pela curiosidade do que propriamente pela qualidade.

Além disto, o filme tenta inovar trazendo piadas relacionadas aos dias atuais com vários personagens. Desta forma Aramis aparece dando multa pelo estacionamento de um cavalo em local proibido, o costureiro do rei é cheio de trejeitos afeminados, o próprio rei é extremamente afetado e pede conselhos amorosos a D’Artagnan, há uma disputa velada entre a realeza da França e da Inglaterra por quem está na dianteira da moda... Todos ícones dos dias atuais, que soam estranho ao serem inseridos no universo de Dumas e, pior ainda, fazem com que a história ganhe um ar de banalidade realçado ainda mais pela falta de idealismo nos personagens. Culpa de outra mudança importante na história clássica.

Logo de início Athos, Portos e Aramis são vistos em missão em Veneza. Eles são agentes secretos da França e acabam traídos por Milady, que serve a quem lhe pagar mais. Tal situação parte o coração de Athos, que posteriormente surpreende ao dizer que o amor está acima da lealdade à França. Como assim? A história de Os Três Mosqueteiros é justamente sobre acreditar e servir ao país, com D’Artagnan servindo de propulsor para que os mosqueteiros retomem o ânimo e ajudem o rei contra as artimanhas do cardeal Richelieu. Tal declaração pode até estar antenada com os dias atuais, onde o individualismo muitas vezes está acima de qualquer ideologia, mas vai de encontro à essência da história de Dumas e, também por isso, a torna menor.

Diante de tantas invencionices, o novo Os Três Mosqueteiros acaba sendo uma pálida amostra do original. A base da história está lá, mas sua força foi amputada diante de tantas modernizações sem função e de cenas que têm como único objetivo serem estilosas. Nem mesmo as lutas com espada conseguem empolgar, também pela coreografia explícita de cada uma delas. Com figurinos exagerados, especialmente nas roupas de Milla Jovovich, o filme ainda conta com vilões estereotipados e um elenco, em sua maioria, no piloto automático. O 3D, por sua vez, pouco acrescenta. Oferece ao espectador algumas cenas da espada indo em sua direção e só. Pouco para compensar a nítida escuridão que força sobre a tela.