Críticas AdoroCinema
4,5
Ótimo
O Escritor Fantasma

O Último Polanski ?

por Francisco Russo

O Escritor Fantasma carrega consigo uma forte história de bastidores, que não deve ser desprezada. Em primeiro lugar, pelas referências políticas nítidas envolvendo Adam Lang (Pierce Brosnan). Um personagem boa pinta, popular, ex-primeiro ministro que não está mais no cargo e é acusado de ter favorecido o governo dos Estados Unidos em detrimento dos interesses de seu próprio povo. Alguém pensou em Tony Blair? Pois é. Em segundo lugar, pela história de seu diretor. Roman Polanski foi preso poucos meses antes de seu lançamento e, da prisão, gerenciou o processo de edição. Atualmente em cárcere privado, este pode ser o último filme de sua carreira. Caso aconteça, será uma pena. Não apenas pelo afastamento forçado, mas também porque este filme não faz jus ao que Polanski já realizou.

Trata-se de um filme de mistério, ou seja, daqueles em que público e personagens ficam perdidos na história, sem saber ao certo o que está acontecendo. O clima paranóico é constante, intencionalmente amplificado pelo diretor. O que alivia tamanha tensão são as tiradas sarcásticas do personagem de Ewan McGregor, o escritor fantasma do título. Elas são quase que uma necessidade para sobreviver naquele ambiente asséptico e tão frio. Não só para o personagem como também para o espectador, pois servem de alívio cômico diante de tamanha pressão.

O problema é que O Escritor Fantasma tenta se sustentar apenas na ambientação. Com uma trama frágil, o personagem título se rende às várias paranóias envolvidas e passa a investir em toda e qualquer possibilidade que surja, mesmo a mais descabida. Para completar, as informações surgem de forma simplória. É o político britânico que repentinamente surge em território americano, dados reveladores encontrados em uma rápida navegada no Google... É aceitável que em cinema haja certas facilidades de roteiro, de forma que o personagem tenha um rumo mais simples dentro da trama. Mas há limites, que esbarram na coerência do contexto envolvido. Em um filme que prega que tudo pode estar sob controle, que ninguém está seguro em lugar algum, fica difícil de acreditar em certos descuidos que uma conspiração de tamanha complexidade deixa passar.

Este deslize faz com que este seja sempre um filme morno, sem empolgar. Bem dirigido pela construção da atmosfera de tensão e por algumas cenas em particular, como a perseguição na balsa e a final, onde o ato é apenas insinuado sem deixar dúvida alguma sobre o que aconteceu. Para piorar, há ainda um desfecho que parece extraído de O Código Da Vinci. É um insight tão brilhante e tão fora do normal que soa extremamente falso, ainda mais diante do personagem que o tem.

De positivo, há também as atuações de Ewan McGregor e Olivia Williams. A piada implícita envolvendo Brosnan é bacana, quando seu personagem diz que é um mau ator - e o próprio Brosnan é -, apesar de que não deve ter sido esta a intenção de Polanski. Seria de um cinismo enorme. O Escritor Fantasma é um filme de razoável para fraco, decepcionante por ser um trabalho de Roman Polanski. De diretores gabaritados sempre se espera algo mais.