Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
A Jovem Rainha Vitória

Amor aos 18

por Francisco Russo

Os filmes ingleses de época formam uma espécie de subgênero no cinema. É praxe que tenham o lado técnico caprichado, em especial direção de arte e figurino, devido à suntuosidade vivida no período retratado. Em A Jovem Rainha Vitória não é diferente. Do requintado cenário, que inclui castelos e passeios em carruagens, até o belíssimo figurino, com vestidos feitos especialmente para a protagonista, há um cuidado que reflete na percepção do espectador sobre o ambiente. Afinal de contas, trata-se da realeza, um setor da sociedade que vive à parte dos reles mortais. Ainda mais na Inglaterra, que cultiva a admiração a seus monarcas.

Esta vida à parte é bastante explícita no modo como Vitória (Emily Blunt, em boa atuação) é tratada, antes mesmo de ser coroada. Sua mãe a protege da corte do rei William IV (Jim Broadbent), em parte pelos interesses de seu companheiro, John Conroy (Mark Strong, em mais um papel malvado). O que aparentemente seria um cuidado benévolo esconde um interesse maior: que Vitória assine a regência, o que permitirá a ambos governar a Inglaterra até que ela complete 25 anos. Só que a futura rainha está prestes a atingir a maioridade, para alegria do tio monarca. A resistência em ceder aos apelos apresenta o caráter decidido da jovem Vitória, que sabe bem o que quer para si.

Só que Vitória, apesar da consciência sobre seus deveres, é uma jovem de 18 anos. E, como tal, tem atitudes típicas da idade. Ao longo do filme são facilmente percebidos alguns momentos de menina, onde reações inusitadas, mas perfeitamente compreensíveis, surgem. Há uma resistência à sisudez do meio, como a necessidade de que desça a escadaria de sua casa em companhia de alguém. Vitória quer liberdade, mas dentro de um certo limite. Além disto precisa aprender a lidar em um novo meio, onde, segundo suas próprias palavras, sente-se como "uma peça de xadrez em um jogo contra sua vontade".

Muito desta sensação atende pelo nome de lorde Melbourne (Paul Bettany). Galanteador, o atual primeiro ministro logo joga seu charme para a recém coroada rainha. Vitória tem por ele um misto de admiração e paixão, apesar desta nunca se concretizar. Há na mente da rainha uma clara divisão entre o afeto sentido por Melbourne e por Albert (Rupert Friend, bem em cena). E é a partir desta dúvida que o filme enfim ganha corpo.

Por um lado, pela imaturidade política da rainha. Ao tomar uma decisão pró-Melbourne, ela provoca uma crise institucional, e inesperada, no reino. É quando fortalece o sentimento por Albert. O melhor de A Jovem Rainha Vitória é acompanhar o nascimento e o fortalecimento do amor existente entre os dois, nascido a partir de sutilezas e pensamentos em comum. Trata-se de um amor maduro, seguro, que, de forma anacrônica, surge quando ambos são bastante jovens. E, é claro, enfrenta complicações.

Do medo de usurpação ao trono ao sentimento de inutilidade diante do poder da rainha, vários são os problemas a serem lidados pelo jovem casal. É através deles também que é possível conhecer melhor a personalidade de cada um. Emily Blunt e Rupert Friend conseguem levar às telas um casal nitidamente apaixonado, visível especialmente nas cenas da lua de mel, mas também de personalidade. E estas, por vezes, batem de frente.

A Jovem Rainha Vitória é um belo filme, que traz uma linda história de amor sob os bastidores políticos da corte britânica. Além de atender a curiosidade sempre existente sobre a vida particular dos antigos monarcas, mostra com delicadeza as dificuldades dos afazeres do posto maior da monarquia. Destaque para a cuidadosa direção de Jean-Marc Vallée, para a bela cena do pedido de casamento e para a iluminação, propositalmente escura para retratar a pouca luminosidade existente no período retratado. Um filme que não apenas informa, mas também emociona.