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3,0
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Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso

Clooney querendo ser Coen

por Renato Hermsdorff

Se tem um capital que George Clooney tem de sobra em Hollywood (além do dinheiro, claro), esse dividendo é o prestígio. Com esse poder, o ator/diretor resolveu desengavetar um roteiro corajoso dos irmãos JoelEthan Coen que toca a ferida do orgulho hipócrita norte-americano pós-eleição de Donald Trump, convocou um bando de amigos famosos (com destaque para um inspirado Oscar Isaac) para interpretar o texto e o resultado é Suburbicon.

Como o título sugere, a história se passa em um subúrbio - o arquétipo da comunidade verdejante e acolhedora símbolo do american way of life -, no fim dos anos 1950. Em tom de fábula, a localidade é apresentada como a terra das oportunidades. Nota-se, porém, que há algo de podre no “reino da Dinamarca” quando uma família de negros (a primeira), os Myers, decide migrar para a região e é recebida com hostilidade (subtrama que tem origem em um caso da vida real).

Paralelamente, a casa dos Lodge sofre uma invasão que resulta em uma tragédia, uma aberração que é amplificada pelo comportamento “banana” de Gardner (Matt Damon), chefe dessa  família. E o que tem início como um faz de conta infantil se desenrola em uma espiral de acontecimentos lisérgicos banhados a sangue. Ainda que não seja exatamente uma comédia, é inegável que há um forte tom de humor negro neste que é o sexto longa dirigido por Clooney.

Recheado de reviravoltas inesperadas, Suburbicon ecoa Fargo (1996) e o subestimado Queime Depois de Ler (2008), ambos dos Coen. Apesar de tratar-se de um filme de época, toda discussão a respeito da "supremacia branca" e do individualismo não poderiam soar mais atuais. Mas o filme falha em fazer a correlação entre o infortúnio do núcleo dos Lodge e o ataque aos Myers, o que causa a impressão de que o tratamento final do roteiro (assinado também por Clooney e Grant Heslov) se perde no meio do caminho.

Nas mãos do diretor George Clooney, o texto dos Coen resulta em um filme com uma assinatura que pende mais para o lado do trabalho da dupla do que para as realizações do conhecido ator por trás das câmeras (esqueça Caçadores de Obras-Primas!) Trocando em miúdos: Suburbicon mais parece um filme "dos" Coen do que do cineasta galã grisalho. Não é exatamente uma falha, mas tampouco dá pra se dizer que se trata de uma obra tão original assim.

Filme visto no 42º Festival de Toronto, em setembro de 2017