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    Tirem as crianças da sala! 10 animações para adultos

    Assim como Festa da Salsicha, esses filmes não são nem um pouco próprios para os seus filhos.

    No ano de 1908 o cartunista francês Émile Cohl produziu e lançou aquela que é considerada por alguns historiadores como o primeiro cartoon animado de todos os tempos, o curta-metragem Fantasmagorie que, apesar de lúdico, traz uma série de sequências propositalmente incoerentes e um enredo quase surrealista.

    A obra do pioneiro parisiense levanta uma bandeira interessante quase 100 anos depois: o formato animado não precisa, necessariamente, ser voltado para produções que devam ser bem assimiladas por crianças. Algumas animações apresentam temáticas adultas e um conteúdo gráfico e verbal que definitivamente não é adequado para os olhos e ouvidos dos pequeninos — e isso é muito bem vindo.

    Recentemente, o canal de TV por assinatura HBO programou uma série de exibições da elogiada e controversa animação Festa da Salsicha durante a manhã e tarde de sua grade, chocando alguns pais e mães desavisados que têm filhos pequenos em casa. É importante lembrar que é costume que o conteúdo adulto em canais fechados seja indicado pelas operadoras e os responsáveis tem ainda a opção de bloquear programas e canais com senhas.

    Festa da Salsicha é exibido nas manhãs e tardes pela HBO e revolta pais

    Nas redes sociais, a ativista Letícia Aguiar, que se descreve como "de direita, conservadora, pró vida, família e amiga da polícia", fez um vídeo onde critica a HBO e usa o seguinte argumento: "Se não é destinado à crianças porque então é uma animação infantil?". O filme evoca um estilo visual que definitivamente encontra pares nas animações infantis, mas trata-se de uma escolha estética dos diretores em função de sua mensagem absurdista. Todos os materiais de marketing do longa-metragem, incluindo cartazes e o trailer, ressaltam que o conteúdo da produção é adulto. 

    É um erro primal achar que animações são feitas apenas para crianças e alguns dos filmes mais interessantes do gênero em todos os tempos não foram feitos para audiências infantis.

    Assim como Festa da Salsicha, algumas animações aboradaram temáticas sexuais de forma mais frontal, como o controverso O Gato Fritz (1972), animação independente de Ralph Bakshi que atingiu um sucesso comercial com poucos precedentes para um filme de seu porte, arrecadando US$ 90 milhões com um filme orçado em US$ 850 mil. Baseado no subersivo personagem criado por Robert Crumb, o longa foi o primeiro filme animado a receber a classificação X (proibido para menores de 18 anos) nos Estados Unidos. Sua trama satírica é repleta de comentários políticos e sociais sobre a vida universitária na cidade de Nova York.

    Outro filme que também aposta no conteúdo sexual é Heavy Metal (1981), antologia de 10 episódios que investe em histórias de fantasia e ficção científica que não economizam no retrato da violência e nudez. Como o título sugere, a música tem um papel importante com canções de artistas como Blue Öyster Cult, Black Sabbath, Devo, Nazareth e Stevie Nicks.

    Os produtores Trey Parker e Matt Stone certamente devem muito a O Gato Fritz e a série South Park (1997 - presente) provavelmente não existiria se não fosse o trabalho pioneiro de Bakshi. No filme South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes, a natureza controversa da própria da série é examinada através de uma comédia musical irreverente. O longa entrou para o Livro Guinness dos Recordes como a animação com o maior número de palavrões em 2001 e recebeu uma indicação para o Oscar de melhor canção original.

    Baseada no premiado livro de Richard Adams, a animação Uma Grande Aventura (1978) pode enganar por seu traço delicado, mas trata-se de um filme sobre um grupo de coelhos que precisa encontrar um novo lugar para morar até que as coisas tomam um rumo sangrento em uma trama repleta de metáforas políticas.

    Há animações que não são a melhor opção para crianças não por conta de palavrões, violência ou sexo, mas porque são tão intensamente tristes e tocantes, como Túmulo dos Vaga-Lumes (1988). Obra-prima de Isao Takahata, o filme acompanha o vagar melancólico dos irmãos Setsuko e Seita, que ficaram órfãos após um bombardeio no Japão e precisam sobreviver no país derrotado pós-Segunda Guerra Mundial. Se adultos terão dificuldades em conter as lárgrimas, imagine as crianças? O mesmo pode ser dito sobre Mary & Max - Uma Amizade Diferente (2009), sobre a relação de uma menina australiana e um um homem novaiorquino com Síndrome de Asperger com quem a criança se comunica através de cartas.

    Além de Túmulo dos Vaga-Lumes, diversos outros animes poderiam figurar nesta lista, incluindo produções de Hayao Miyazaki, que, apesar de idealizadas para crianças, traumatizaram a infância de muitos (sim, A Viagem de Chihiro, estou falando de você). Animes como Akira e O Fantasma do Futuro são dois exemplos de ficções científicas de toque cyberpunk que traçam retratos violentos, perturbadores e profundamente densos sobre a humanidade e o futuro. Filmes incríveis que merecem muito a atenção dos adultos.

    Outras animações de temática adulta são o documentário israelense Valsa com Bashir, na qual o diretor e veterano militar Ari Folman usa depoimentos de soldados para reconstruir suas lembranças da 1ª Guerra do Líbano; o brilhante drama etéreo sem enredo e carregado de conversas filosóficas Waking Life, de Richard Linklater; e o complexo estudo sobre melancolia e solidão Anomalisa (2015), que tem Charlie Kaufman como roteirista e codiretor.

    Túmulo dos Vaga-Lumes (Hotaru No Haka, 1988), de Isao Takahata

    South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes (South Park : Bigger Longer & Uncut, 1999), de Trey Parker

    Waking Life (2001), de Richard Linklater

    O Gato Fritz (Fritz the Cat,1972), de Ralph Bakshi

    Uma Grande Aventura (Watership Down, 1978), de Martin Rosen

    Mary & Max - Uma Amizade Diferente (Mary and Max, 2009), de Adam Elliot

    Heavy Metal: Universo em Fantasia (Heavy Metal, 1981), de Gerald Potterton

    Valsa com Bashir (Vals Im Bashir, 2008), de Ari Folman

    Akira (1988), de Katsuhiro Ôtomo

    Anomalisa (2015), de Charlie Kaufman e Duke Johnson

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