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    Wakaliwood: Conheça a incrível indústria de cinema nascida na favela de Wakaliga, no Uganda

    Isaac Nabwaana é o Tarantino do Uganda, o Ed Wood da África, o realizador que transformou um sonho próprio no de dezenas à sua volta. Um exemplo.

    As definições de amor ao cinema foram atualizadas. Isso aconteceu quando um grupo de moradores da favela de Wakaliga, na capital do Uganda, se uniu — a despeito de todos os problemas que os cercam — e decidiu fazer arte. A sétima arte.

    Um belo dia, o criativo Isaac Nabwana decidiu ser cineasta. Isso aí, cineasta, do nada. Pegou uma câmera usada, um computador montado de peças velhas, recrutou sua mulher, filhos, vizinhos e deu asas ao seu grande sonho. Alguns anos e mais de 40 filmes depois, o diretor já virou biografia norte-americana que documenta a sua proeza: erguer do nada, sozinho, uma nova indústria cinematográfica. A incrível Wakaliwood.

    "Há tantas histórias no Uganda que são virgens, ninguém nunca realizou ainda", conta Isaac, fundador da admirável Ramon Film Productions. Sua ênfase à originalidade não é à toa. Da limitação de recursos, o cineasta autodidata encontra uma infinidade de maneiras, únicas, de transformar em filme o que sua imaginação projeta. O povo de Uganda visita Nova York, verte o Big Ben em jato, sobrevoa o Cristo Redentor, tudo através de colagens amadoras, sem nenhum filtro artístico pré-estabelecido, que transforma suas limitadas produções em algo único e muito divertido.

    Ação é o gênero predileto da Hollywood de Wakaliga, e onde se encaixa a obra seminal de Isaac Nabwaana, Who Killed Captain Alex?. Efeitos especiais caseiros, artes marciais inspiradas em filmes de Kung Fu com Chuck Norris, captação de som e imagem no improviso, tudo se funde ao ideal de cinema de seu criador: "Combinar a cultura do Uganda com a cultura dos western e dos [filmes] chineses", resume Isaac, mostrando que sabe bem o que quer, e que consegue o que quer. Basta conferir os trailers de seus filmes (ou eles inteiros) e ver que está tudo ali, à sua maneira.

    E se engana quem pensa que Isaac Nabwaana se acomoda em suas limitações — ou que a admiração por seu trabalho reside apenas numa visão lúdica do fazer cinema de modo independente. Do nascimento de Wakaliwood, em 2009, ao filme Ani Mulalu (Crazy World), de 2015, nota-se uma clara evolução no cinema do Uganda. E um objetivo.

    De modo colaborativo, os moradores de Wakaliga estão utilizando uma experiência de vida única, muito dura, para se inspirar, se unir e construir uma verdadeira indústria de cinema, séria. Assim, eles estão desenvolvendo a sua arte, criando os seus próprios ídolos (Uncle Benon incorpora "Bruce Yu: o Bruce Lee do Uganda" ao ensinar artes marciais às crianças) e erguendo Wakaliwood como algo que vai muito além do entretenimento — como uma alternativa, uma esperança, uma nova realidade.

    Veja você mesmo as imagens de Wakaliwood, e se encante com a criatividade dos moradores de Wakaliga. A essência do cinema, como não se vê muito mais por aí.

    Wakaliwood, a indústria de cinema erguida no subúrbio de Kampala, capital do Uganda.

    Isaac Nabwaana é o fundador de Wakaliwood.

    O cineasta autodidata tem todo o apoio da esposa Harriet e de seus filhos em Wakaliwood.

    Nada de astro de Hollywood. Os atores de Wakaliwood são os habitantes da favela de Wakaliga.

    Ramon Film Productions: homenagem às primeiras sílabas dos nomes das avós de Isaac, Rachel e Monica. É esse também o nome de seu primogênito.

    Nabwaana produziu cerca de 40 filmes ao longo de uma década.

    Cada produção de Wakaliwood custa cerca de 200 dólares. Quem se habilita a estimar que fração de um cachê do Michael Bay isso representa? rs

    O lançamento de Jambo Reddit é comemorado por homens mulheres e crianças.

    Volta e meia, tem um animalzinho no meio da bagunça (e nos filmes!) também.

    Preservativos fornecidos pelo posto público de Wakaliga são utilizados para armazenar o sangue cenográfico utilizado nas cenas de ação.

    Cápsulas no maior estilo Rambo feitas de madeira.

    A tela verde é feita de tecido, enquanto todas as modificações necessárias nas câmeras são realizadas pelo mecânico local, Dauda Bisasso, o maior garimpeiro dos ferros-velhos de Kampala.

    "Nós tentamos e conseguimos construir tudo que quisemos aqui", orgulha-se Nabwana.

    A maior dificuldade do realizador está em escalar mulheres, devido à cultural local e à preocupação dos maridos das atrizes.

    "Bolice": não um erro de ortografia, mas uma crítica proposital aos problemas enfrentados pelos habitantes de Wakaliga com a polícia local.

    Nada como um bom café da manhã para iniciar um (sangrento) dia de filmagens...

    Uncle Benon, o Bruce Lee do Uganda, ensina kung fu a um grupo de crianças.

    Alan Hofmanis decidiu abandonar sua vida nos Estados Unidos e partir para o Uganda após assistir ao trailer de um dos filmes de Wakaliwood. Na cena em questão, ele interpreta uma vítima de um ataque canibal.

    Isaac brinca com a filha caçula num trilho para câmeras improvisado.

    Nada mal pra uma geringonça.

    Invejosos dirão que é montagem...

    Essa vai pra capa do DVD.

    Falando nisso, eis a capa de um dos lançamentos de Wakaliwood, Tiger Mafia.

    Who Killed Captain Alex?, o filme que revolucionou o cinema no Uganda.

    Como você já pôde notar, o carro-forte de Wakaliwood são os filmes de ação.

    O objetivo de Isaac Nabwaana é mesmo o de investir em filmes de ficção repletos de fantasia. Retratar a realidade do Uganda numa obra dramática, comovente, não é a sua intenção — ao menos no momento.

    Antes o Darth Vader.

    Em 2012, o experiente produtor Ben Barenholtz — encantado pelo novo cinema de Uganda — decidiu estrear na direção com o documentário Wakaliwood: The Documentary.

    Veja o trailer!

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