Minha conta
    Ratched: Crítica da série da Netflix

    Inspirada no clássico Um Estranho no Ninho, a série traz alguns pontos positivos, mas não entrega história envolvente.

    NOTA: 2,5/5,0

    Construir uma obra cinematográfica ou televisiva a respeito de algum personagem específico anos depois da criação original do mesmo é, quase sempre, uma via de mão dupla. Por um lado, sempre pode ser bom explorar outras histórias e atribuir novas perspectivas a tal personagem, mas, por outro, costuma ser fácil acabar caindo no lugar comum: em Ratched, nova série da Netflix desenvolvida pelo Ryan Murphy (American Crime Story), acontece um pouco das duas possibilidades.

    Derivada de Um Estranho no Ninho, um dos maiores clássicos da história do cinema (fator que já coloca um peso extra na produção), a série Ratched conta sobre a trajetória da enfermeira Mildred Ratched, uma das figuras mais marcantes do filme de Milos Forman, montando o quebra-cabeças que a levou até a ala psiquiátrica de um hospital no interior, em 1947.

    Para contextualização geral, vale ressaltar que não é estritamente necessário ter assistido a Um Estranho no Ninho para conseguir entender a série — e, diferente da maior parte dos casos, talvez sua experiência com Ratched seja ainda melhor caso você não o tenha assistido. Isso porque, entrando no primeiro problema da série, ela acaba falhando sempre que tenta traçar uma conexão com o clássico dos cinemas, especialmente pela insistência de Ryan Murphy em colocar referências vazias ao longo da trama.

    Uma fala que remeta ao filme, um elemento cenográfico, um parente distante de algum personagem, tudo está diretamente ligado a Um Estranho no Ninho, mas nada é consistente o suficiente para que esta conexão funcione além do campo da superficialidade. É um problema ser independente do filme? Com toda certeza não! Muito pelo contrário, saber se sustentar como uma obra que não se apoie em sua referência de origem é uma tarefa positiva e difícil, o problema é quando a série traz uma história que não seja capaz de fazer jus à razão de sua existência mesmo após se utilizar do filme o tempo inteiro como pano de fundo e estratégia de marketing.

    A partir disso, Murphy faz questão de inserir easter-eggs e diálogos que não acrescentam como se fossem lembretes constantes que dizem: "hey, não se esqueça de que esta série é derivada daquele filme!". Consequentemente, todas as ações acabam soando como justificativas, especialmente as da protagonista, que em O Estranho no Ninho é uma das personagens mais cruéis ali presentes. A narrativa até funcionaria bem, mas no fim das contas ela acaba servindo mais para nos dizer as razões pelas quais Mildred supostamente teria se tornado tão ruim do que para qualquer outro propósito.

    Indo às partes boas de Ratched, por mais que a direção e o estilismo de Ryan Murphy sejam consideravelmente repetitivos, ele acerta ao reproduzir uma estética independente mas que, ao mesmo tempo, consiga se aproximar um pouco do cenário setentista no qual a inspiração foi feita. Mesmo com uma história um pouco confusa, boas atuações como a da Sarah Paulson, por exemplo, acabam ajudando a compensar.

    Murphy também reproduz bem a imagética que tanto rendeu críticas positivas ao filme original, colocando a mudança sutil e gradativa na personalidade da enfermeira Mildred sendo mostrada através de pequenos detalhes técnicos presentes no figurino, penteado, e até mesmo na "troca" para evidenciar a passagem dos anos.

    Mesmo em meio aos problemas de diálogos, a série sabe sustentar suas decisões e até mesmo encontra alguns bons momentos de suspense de boa qualidade. Seja nas boas sequências dentro da ala psiquiátrica ou no desenrolar da subtrama do que aconteceu com a família do antagonista, a série se encontra rapidamente e oferece um bom entretenimento nos últimos episódios: o problema é que para chegar até lá, passamos por algumas boas pedras no caminho.

    facebook Tweet
    Links relacionados
    Comentários
    Back to Top