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    Crítica: Westworld aposta em cenas de ação e simplifica enredo em sua 3ª temporada

    Leia nossa crítica da série da HBO.

    Nota: 3,0 / 5,0

    ATENÇÃO! O texto a seguir contém spoilers da terceira temporada de Westworld.

    A jornada de Dolores Abernathy (Evan Rachel Wood) aparentemente chegou ao fim, em uma terceira temporada de Westworld repleta de altos e baixos. Marcada por atuações femininas marcantes e cenas de ação muito bem coreografadas, o novo ano da série da HBO foi uma montanha-russa de emoções que culminou em uma derrocada decepcionante nos seus três últimos episódios, principalmente em sua season finale “Crisis Theory”.

    Não é nenhuma novidade que a produção criada por Lisa JoyJonathan Nolan ficou conhecida, em suas duas primeiras temporadas, por quebrar a cabeça do público e apresentar reviravoltas chocantes. No entanto, o terceiro ano da série — que migrou do parque de Westworld para o mundo real dos humanos — trouxe uma trama mais simplificada, sem muitas diferenças temporais, e um tanto quanto explicativa. Não que apresentar respostas para as questões importantes seja um problema, o decepcionante é que Westworld não deixou nenhuma margem de interpretação para os espectadores em relação a seus principais elementos, subestimando a capacidade do público de chegar a uma conclusão. Ainda assim, o que de fato ficou sem justificativa foram elementos narrativos convenientes demais para a trama, e a presença de personagens que desapareceriam no capítulo seguinte — como foi o caso da Clementine de Angela Sarafyan, cuja aparição beirou entre servir muleta para o avanço do roteiro e agradar o público com um fanservice.

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    Westworld tentou se reinventar

    Diante da concorrência no mundo do entretenimento atualmente, é natural que Westworld queira se reinventar a cada temporada. Porém, as mudanças sentidas em seu terceiro ano dão ares de uma série completamente diferente — que parece beber de fontes de filmes de ficção científica dos anos 80 e 90, assemelhando-se inclusive aos próprios filmes que deram origem à série: Westworld - Onde Ninguém Tem Alma e sua sequência Ano 2003 - Operação Terra (ou Futureworld, em inglês). Como uma obra de ficção científica, é um bom entretenimento. Mas definitivamente não é mais o Westworld que deixa o público ansiando por novos episódios a cada semana.

    Até mesmo dentro da própria temporada, os episódios foram ficando menos profundos, e cada vez mais aquém das revelações que Westworld trouxe anteriormente. Os primeiros capítulos do ano, como “The Absence of Field” e “The Mother of Exiles”, por exemplo, tinham títulos filosóficos que remetem à textos poéticos, assim como sua bela abertura. Depois, os nomes passaram a ser mais simples, explicativos. O mesmo aconteceu com a trama.

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    O roteiro da série da HBO foi repetitivo

    Ainda que tenha trazido elementos apresentados ao longo dos anos anteriores, como o fato de robôs e humanos lutarem para buscar o seu livre-arbítrio, uma personagem (Dolores) praticamente ficar cega com seu complexo de Deus — assim como acontecera com Ford (Anthony Hopkins) e posteriormente Serac (Vincent Cassel), o roteiro foi repetitivo e parece que não chegou a lugar nenhum. Enquanto a primeira temporada tinha o mistério em torno do “Labirinto” e a segunda explorou “A Porta”, esta terceira abordou o plano de Dolores (ora de destruir a humanidade, ora de salvá-la de si mesma). Tal trama tinha muito potencial de chegar a algum lugar, mas ironicamente acabou presa em seu loop (tal como os anfitriões de Westworld e os humanos controlados por Rehoboam) e perdeu muito tempo explorando a máxima humanos x máquinas para simplesmente correr com o enredo nos 45 do segundo tempo.

    A melhor atuação de Tessa Thompson

    Frente a uma trama que envolvia diferentes versões de Dolores — que em geral foram dispensáveis ao longo da temporada, e o mistério sobre a última pérola simplesmente foi jogado como um fanservice no capítulo final com a presença de Clifton Collins Jr. — uma se destacou: a Charlotte Hale (ou Halores/Charlores) de Tessa Thompson, que protagonizou um dos episódios mais concisos da temporada, “The Absence of Field”. Interpretando uma personagem dividida entre quem ela era antes e quem deve assumir agora, tocada pela família da Hale original, a atriz entregou um trabalho fenomenal. 

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    Quem é o vilão de Westworld?

    A jornada de Charlotte foi a mais interessante, o que nos leva a uma das questões principais: quem foi o verdadeiro antagonista da temporada? Westworld sempre apresentou personagens ambíguos, tanto que Dolores já carregava a sina de ser uma heroína-vilã. Em sua terceira temporada, não foi diferente. A série apostou em um antagonismo dinâmico, que transitou entre Dolores, Serac, Maeve (Thandie Newton), Charlotte, o Homem de Preto (Ed Harris) e até mesmo Rehoboam. Foi um lance certeiro nos cinco primeiros episódios, mas se tornou um elemento forçado nos três capítulos finais. Enquanto foi empolgante ver o embate entre Maeve e Dolores em “Crisis Theory”, a motivação das duas e seus retornos para o status de “mocinhas” não foi bem construído. Da mesma forma, Serac, que a princípio se mostrou um personagem forte e muito bem interpretado pelo excelente Vincent Cassel, teve uma derrocada decepcionante e clichê.

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    O elenco de Westworld

    Tessa Thompson e Vincent Cassel não foram os únicos a entregarem atuações marcantes. Apesar do fraco roteiro, Westworld tem como trunfo atores fenomenais. Evan Rachel Wood brilhou mais uma vez como Dolores, entregando sua melhor forma quando fez menção a seu eu do parque. Thandie Newton roubou a cena em “The Winter Line” e nos demais capítulos em que protagonizou. Jeffrey Wright, por sua vez, foi engolido em meio a tantos planos da personagem de Dolores, mas ainda conseguiu entregar um Bernard conciso. O mesmo aconteceu com Ed Harris, trazendo um Homem de Preto fragilizado e bem diferente daquele carniceiro seguro de si no parque da Delos. Ironicamente, William e Dolores têm finais similares, praticamente juntos, finalizando o arco e a conexão de ambos.

    A principal adição do elenco foi o premiado Aaron Paul (Breaking Bad), que brilhou no melhor episódio da temporada, “Genre”. Sua entrega precisa para Caleb foi o que salvou o personagem de suas motivações dúbias e praticamente inexistentes, ainda que o enredo não tenha contribuído para que o público gerasse identificação emocional com ele, ou qualquer outro papel dentro da trama.

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    Série traz mensagem otimista

    A terceira temporada foi bem sucedida em abordar a linha de raciocínio de que cada personagem pode ter várias facetas, e que somos produto do nosso meio. Seja pela influência de uma máquina, ou fazendo cópias de nós mesmos, o produto final no fim do túnel será diferente dependendo das experiências. Foi o que distinguiu Caleb antes e depois da descoberta do Rehoboam, e o que diferenciou as atitudes de Dolores das de Charlotte. No geral, a série tentou passar uma mensagem otimista, que ressoa bastante nos dias atuais: de que a mudança é possível e que temos escolha mesmo quando estamos sendo controlados pela tecnologia. E também de que temos que ver o lado bom e belo das situações, ainda que diante de situações horríveis, violentas ou sem esperança.

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    Curiosamente, Westworld conseguiu voltar às origens e instigar novamente aquele sentimento de singularidade em sua cena pós-créditos da terceira temporada. Não sabemos o que está por vir, mas parece empolgante. A expectativa é que o dia de amanhã seja melhor que ontem, e que a próxima temporada seja superior do que a anterior.

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