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    Critica: Hollywood, nova série de Ryan Murphy para Netflix, é uma fantasia sobre o mundo do cinema

    Darren Criss, Patti Lupone, Laura Harrier e Jim Parsons são só alguns dos nomes envolvidos no projeto.

    Nota: 3,0/5,0

    Ryan Murphy é um produtor conhecido por questionar normas impostas pela sociedade. Seja pelo legado de representatividade que Glee teve dentre os jovens, ou mostrar o lado de Marcia Clark no mundo machista de American Crime Story, ou dar brilho e voz para uma parte completamente marginalizada da sociedade no belo Pose. Em Hollywood, sua nova produção para Netflix, ele leva tal característica a um novo ponto, usando duas palavrinhas chaves: "e se".

    E se a diversidade, que começa a encontrar seu lugar na mídia a passos lentos, tivesse surgido 80 anos atrás? A Era de Ouro da indústria cinematográfica surge como cenário, quando as vidas de três jovens talentosos se cruzam. O público é introduzido ao ambiente de Hollywood através de Jack (David Corenswet), que sonha em ser um grande astro das telonas, mas logo se encontra preso numa vida de gigolô, num posto de gasolina de fachada comandado por Ernie (Dylan McDermott, roubando cada cena).

    Por causa disso, ele conhece o roteirista Archie (Jeremy Pope), um homem negro e gay que também passa a trabalhar no local — ate que seu script é selecionado pelo idealista diretor Raymond (Darren Criss), que busca trazer diversidade no cinema. O tal roteiro é um filme inspirado na história real de Peg Entwistle, jovem atriz que cometeu suicídio, pulando da letra H do letreiro de Hollywood, em 1932.

    Hollywood mistura ficção com realidade

    Envolvendo diferentes personagens ao longo da história, é na concepção do filme Peg — que, depois, viria se chamar Meg — que a série de Murphy e Ian Brennan (Glee) encontra seus melhores momentos. Mostrando os dilemas da hesitação em escalar uma jovem atriz negra, Camille (Laura Harrier) para o papel principal; a repercussão que isso iria causar na época, a ambientação de como funciona um estúdio de cinema... Mas, principalmente, a inserção de personalidades reais, que sofreram na pele o preconceito da sociedade, como Roy Fitzgerald/Rock Hudson (Jake Picking), Anna May Wong (Michelle Krusiec) e Hattie McDaniel (Queen Latifah). Ou melhor, a imaginação presente na hora de contar essas histórias, se elas tivessem a chance que sempre desejaram em suas vidas. 

    Está claro que Hollywood deseja ser uma fantasia positiva sobre como a década de 40 poderia ter sido, se um grupo de pessoas não tivesse medo de promover a diversidade nas telonas. E, por mais que seja uma ideia realizada de forma simplista demais, é impossível não sorrir quando as coisas começam a dar certo. Por outro lado, é um contraste surreal com os primeiros episódios, que são dedicados a explorar a subversão presente numa Hollywood obscura, dominada por sexo, abuso e poder.

    Como Ryan Murphy nunca foi a definição de sutileza, o início da série é recheado de cenas explicitas mostrando como os bastidores de tal universo apresentam um sistema pervertido e equivocado — mas que pode ser curado com o sucesso de Meg, como num conto de fadas. A narrativa demora muito para engrenar, somente para entregar uma resolução superficial e inocente demais. Menos focada na exatidão histórica, como Feud apresentou, a liberdade tomada por Hollywood desafia limites, mas acaba construindo uma trama irregular.

    Darren Criss e Jim Parsons estão no elenco

    Mesmo com os problemas, não é difícil se apaixonar pelo universo construído de Hollywood. Visualmente, o trabalho de design é impecável, enquanto o roteiro é recheado de easter-eggs para os fãs de cinema. Porém, é o elenco que sobe o nível do projeto. Jeremy Pope é uma revelação para quem não conhece seu trabalho na Broadway. Depois de seu papel em The Assassination of Gianni Versace, Darren Criss surge com menos destaque, mas ainda encantador. Já David Corenswet tenta trazer o charme que lhe fez conquistar todos em The Politician para um papel quadrado demais.

    É uma pena que as personagens femininas não sejam tão desenvolvidas, com a exceção de Avis (Patti Lupone, sempre com grande presença na tela), esposa do dono de um grande estúdio de cinema. Laura Harrier tem o estilo de uma musa dos anos 40, mas é surpreendente como o espectador conegue encontrar mais emptia na jornada de transformação de sua "rival" Claire Wood (Samara Weaving). Ao mesmo tempo, é triste ver o desperdício de Maude Apatow (uma revelação de Euphoria), como Henrietta, a esposa de Jack que mal ganha tempo suficiente de tela.

    Por fim, se Joe MantelloHolland Taylor formam uma dupla dinâmica, é o personagem de Jim Parsons que promete causar polêmica. Ele vive a figura real Henry Wilson — uma figura a lá Harvey Weinstein de sua década, que usa seu poder e contatos para abusar de seus clientes. Seu intérprete até consegue fazer algo bem diferente de seu clássico Sheldon Cooper, com a ajuda de suas afiadas falas. Porém ele é apresentado como um vilão maquiavélico por muitas vezes, para depois tentar torná-lo humano a ponto de uma redenção em menos de um episódio. 

    Hollywood é claramente uma carta de amor para uma época clássica, tentando trazer o lado bom da modernidade em sua essência, imaginando um mundo melhor. Só que não consegue equilibrar os dois lados da moeda, por mais envolvente que seja. Porém, se inspirar uma geração a não cometer os mesmos erros de seus antepassados, já terá valido a pena.

     

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