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    Você: Critica da 2ª temporada

    Repetindo a mesma fórmula, a série de Penn Badgley fica ainda mais absurda e irresponsável.

    Nota: 1,5/5,0

    Em determinado momento da segunda temporada de Você, um personagem levanta as mãos para o céu e questiona o que há de tão especial em Joe Goldberg (Penn Badgley). Seja proposital ou não, tal momento descreve perfeitamente o perfil do espectador da série. Sua reação diante do drama depende do quanto você (sem trocadilhos) compra a jornada do personagem e está disposto a aceitar seus absurdos.

    Dessa vez, Joe abandona sua vida em Nova York, após a morte trágica de Beck (Elizabeth Lail) e o retorno de Candace (Ambyr Childers) — uma ex que ele acreditava estar morta, determinada a se vingar. Assim, o protagonista assume o nome de Will Bettelheim e vai parar no lugar que mais odeia, a fim de se esconder: Los Angeles. Apesar de estar determinado a não se "apaixonar de novo", Joe não consegue resistir à tentação de se aproximar de chef Love (Victoria Pedretti), sua nova obsessão.

    Ninguém pode acusar de You (no original) de não saber que tipo de série é. A segunda temporada reprisa a mesma fórmula do primeiro ano, orientando o thriller a partir do ponto de vista do protagonista — cuja vaidade e paranoia estão exageradas ao máximo. Logo, isso também se reflete na narração, que perde seu charme na constante repetição. Outros aspectos da trama também encontramnovas versões neste ano. Se ele "cuidou" de Paco (Luca Padovan) na primeira temporada, agora ele cria uma conexão protetora com a jovem vizinha Ellie (Jenna Ortega, ótima). Dessa vez, não temos uma amiga possessiva como Peach (Shay Mitchell), mas Love está num relacionamento codependente com o irmão problemático, Forty (James Scully, que faz o melhor com um personagem que muda de opinião dependendo da vontade do roteiro). As conveniências seguem auxiliando um efeito dominó sangrento na vida de Joe, enquanto Love se prova como uma personagem bem mais interessante e complexa que Beck — com boa parte dos créditos indo para a performance de Pedretti.

    O roteiro tenta se mostrar inteligente, apontando suas próprias falhas o tempo todo, mas isso não é o suficiente para absorvê-lo de sua irresponsabilidade. A tentativa de humanizar Joe não desmistifica sua figura a fim de compreendê-lo melhor, apenas constrói vilões "piores" que o protagonista, quase transformando-o num anti-herói justiceiro. Por exemplo, ele se vê na missão de "proteger" Ellie de uma celebridade capaz de abuso sexual com menores. É uma hipocrisia clara da trama, cujo resultado final não é auto-crítico o suficiente para abordar os dois lados da questão. Joe sempre sai como aquele como pode ser perdoado ou que, pelo menos, merece nossa torcida. Em determinado momento, tal homem responsável por relacionamentos agressivos e matar mulheres de forma brutal é, literalmente, aquele que encoraja determinada personagem a revelar sua história de abuso.

    Por mais que Robin Lord Taylor tenha uma boa performance (num arco o qual não iremos detalhar por motivos de spoiler), sua participação surge como uma forma de reforçar a "boa consciência" de Joe, incapaz de se enxergar como o vilão da própria história. Uma forma de balancear o estudo de personagem seria dar o mesmo tempo de reflexão para o lado ruim do protagonista. Como investir no elo gato e rato entre Joe e Candace, mostrando mais as consequências dos atos dele — no caso, o trauma que causou na ruiva, mostrando o lado dela. Mas não espere um jogo de vingança a lá Garota Exemplar, esse filme surge como inspiração para outro aspecto da trama. Já Candace é desperdiçada, perdendo a chance de desenvolver um retrato real do abuso. Ao invés de aproveitar tal dinâmica, seguem colocando Joe em situações inusitadas (principalmente no sétimo episódio, "Crise ex-istencial", que parece ter sido retirado de uma comédia romântica e caiu nessa série sem querer), tudo para reforçar uma possível conexão do espectador.

    Mas o que torna a jornada de Você tão problemática? Afinal, ele não é o primeiro vilão protagonista de uma série, basta perguntar para Dexter (Michael C. Hall) ou Walter White (Bryan Cranston). A grande questão é que Joe não tem desenvolvimento, apenas fica preso num loop onde repete os mesmos erros e não enfrenta consequências, usufruindo das vantagens de ser um homem branco. Ele afirma que quer ser um homem melhor por Love, mas utiliza das mesmas práticas, machucando cada vez mais pessoas. Ao invés de surgir um aprofundamento do personagem, surge uma série de flashbacks para justificar (ainda mais) seu comportamento e pronto. Seu intérprete até se esforça, mas a única qualidade real de Joe é ser bonito e charmoso — o que funciona para um psicopata conquistar suas vítimas, mas não é o suficiente para sustentar uma série de TV.

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