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    Filhos da Pátria: Família Bulhosa retorna mais ácida e politizada do que nunca na 2ª temporada (Primeiras impressões)

    Repleta de “memes” e frases de efeito de políticos atuais, série ambientada em 1930 poderia muito bem se passar em 2019.

    Globo / Paulo Belote

    Filhos da Pátria acompanhou, em sua primeira temporada, uma família de classe média desbravando o Brasil pós-independente no ano de 1822. O segundo ano da produção traz os mesmos personagens, desta vez no início da década de 1930, durante a Era Vargas. Usando e abusando do humor, a produção estrelada por Fernanda TorresAlexandre Nero busca provar novamente sua importância atual, apesar de ser ambientada no passado. O AdoroCinema assistiu ao primeiro episódio da nova temporada da série da Rede Globo, e você confere aqui as nossas primeiras impressões.

    Na trama do capítulo, a família Bulhosa e os demais personagens da série reagem à chegada às tropas de Getúlio Vargas ao Rio de Janeiro — e à eterna pergunta: “foi golpe ou revolução?” — acabando com a política do “café com leite” (o acordo de políticos de São Paulo e Minas Gerais) e trazendo o “chimarrão” para terras cariocas.

    Coroada com uma nova roupagem, não só nos figurinos mas também nos cenários e em uma bela e colorida abertura inédita, a série continua se destacando pelo humor que transita entre o refinado e o escrachado — uma comédia precisa e exagerada, por vezes, passando um pouquinho do ponto. Sem a necessidade de reapresentar os personagens, o texto de Bruno Mazzeo consegue dar mais profundidade à trama e ser mais ácido, trazendo, inclusive, uma série de referências à política atual. Não se espante com a presença de piadas sobre panelaço, “tchau, querido” e até mesmo a já famosa frase sobre roupas “rosa e azul”.

    Globo / Paulo Belote

    Dentro do politicamente incorreto, a produção consegue inserir “alfinetadas” que atingem ambos os lados do conflito social e político que se instaurou na época e se repete hoje em dia entre os cidadãos brasileiros — especialmente à direita conservadora, mas também com algumas menções à esquerda. O viés machista defendido pela matriarca Maria Teresa (Torres) e também por seu filho Geraldinho (Johnny Massaro), por exemplo, é contraposto pelas atitudes feminista da moça de família, Catarina (Lara Tremouroux), e pela sororidade com sua amiga e empregada dos Bulhosa, Lucélia (Jessica Ellen).

    As reflexões são bastante atuais, bebendo inclusive de fontes de “memes” e frases de efeito de políticos, o que é ótimo para o momento em que vivemos. Entretanto, podem tornar a série datada. Será que os episódios de Filhos da Pátria terão sobrevida para futuramente serem exibidos em reprises como acontece com A Grande Família ou Sai de Baixo?

    Globo / Paulo Belote

    O mais interessante sobre Filhos da Pátria é que a série não tem a pretensão de ser um retrato histórico completamente verossímil do Brasil, mas segue com o intuito de gerar identificação e incitar o sentimento de que o “agora vai!” sempre foi o lema do brasileiro, assim como “o Brasil não vai pra frente”. Tanto que sua trama poderia acontecer em 1822, 1930 ou 2019.

    Mesmo quem não assistiu à primeira temporada consegue acompanhar a trama, já que a série não funciona como uma sequência direta do ano anterior, apesar de trazer os mesmos personagens, com uma camada mais profunda. Difícil não se identificar ou reconhecer algum dos personagens. Afinal, trata-se da famigerada “tradicional família brasileira”.

    Globo / Paulo Belote

    Nota-se uma evolução na produção, não só no texto e nas atuações, mas também na parte cinematográfica, em relação ao primeiro ano. Principalmente no arco envolvendo Geraldo “recebendo” as tropas de Getúlio Vargas no Palácio do Catete, a direção e a fotografia de Filhos da Pátria consegue passar um clima de tensão e urgência, que acaba ganhando ares de “pastelão” com influências em O Gordo e o Magro, muito graças à performance de Alexandre Nero.

    Destaca-se ainda a atuação exagerada, porém verossímil de Fernanda Torres como Maria Teresa, falando barbaridades e acreditando que o mundo gira em torno do seu umbigo. Detalhe para uma hilária e mórbida cena de funeral envolvendo Torres e Letícia Isnard, que interpreta a irmã de Teresa, Leonor.

    Globo / Paulo Belote

    Matheus Nachtergaele, por sua vez, domina as cenas com seus ares vilanescos como o corrupto Pacheco — com direito até a uma arrepiante risada maléfica. Jessica Ellen e Serjão Loroza que, por sua vez, interpretam afilhada e padrinho na série (ela, empregada dos Bulhosa; ele um sambista tentando ganhar a vida), não ganharam tanto espaço durante esse primeiro episódio, mas prometem ser ponto central da construção das comunidades no Rio de Janeiro e da transformação do samba como ritmo oficial brasileiro.

    Filhos da Pátria é um prato cheio de comédia, com humor exagerado, mas necessário, repleto do “politicamente correto e incorreto”. Certamente um retrato do Brasil em diversas épocas, cada vez mais atual.

    A segunda temporada estreia no dia 8 de outubro na Rede Globo. O primeiro episódio já está disponível no Globoplay.

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