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    Catch-22: Crítica da série dirigida e estrelada por George Clooney

    Nova série produzida e dirigida por George Clooney adapta uma das obras mais célebres do século. Leia a nossa crítica.

    Nota: 3,0 / 5,0

    Catch-22 é uma grande sátira anti-bélica, e chega às telinhas com uma nova versão produzida por George Clooney e Grant Heslov. A ideia é exatamente mostrar os horrores da guerra, mas fazê-lo através de um viés irônico e invertido. A série consegue atingir este objetivo, mas não com os melhores resultados possíveis.

    A história acompanha a jornada do jovem bombardeador John Yossarian (Christopher Abbott) durante a Segunda Guerra Mundial. O objetivo de Yoyo em meio às suas missões é apenas um: conseguir sair daquele lugar e ir para casa. E é aí que ele cai em uma cilada na forma da lei Ardil 22, que classifica o medo diante do perigo como algo racional. E se você é racional, está apto para enfrentar determinada questão, e não pode ser dispensado do dever. Logo, para ser considerado insano, o protagonista precisa continuar aceitando as missões sem questionamento — o que também não é exatamente o ideal, pois a partir do momento em que não questiona, nunca mais conseguirá se livrar da situação.

    Com direção compartilhada entre Clooney, Heslov e Ellen Kuras, Catch-22 enche os olhos à primeira vista porque está determinada a mostrar aquele mundo através do ponto de vista de Yossarian, sem poupar o espectador do terror e do desespero que vão tomando a perspectiva do protagonista aos poucos. Por isso, os episódios são recheados de closes e tomadas fechadas que acabam mostrando a beleza que existe na tragédia.

    A intenção, é claro, é incomodar, e isso a fotografia faz muito bem ao obrigar o público a enfrentar as consequências, tanto físicas quanto psicológicas, da guerra. Todas as tomadas são extremamente claras, e ganham intensidade no contraste de cores muito bem empregado. A hiper-exposição, aliás, seja na arte, nas expressões faciais ou no texto quase cômico deixa sempre a ironia trágica desta história beirando a superfície. E este é exatamente o maior problema: a graça nunca atinge em cheio, fazendo com que os episódios percam boa parte do charme que deveriam ter tido.

    Philipe Antonello/Hulu

    Desta forma, mesmo quando deixa algumas das piadas surtirem efeito — que se fazem presentes com Major Major Major Major (Lewis Pullman) ou Major de Coverley (Hugh Laurie), por exemplo — a série constantemente volta para explicar o que está fazendo ou se repete demasiadamente, o que não deixa as partes cômicas realmente mostrarem todo o seu potencial.

    Isso faz com que até mesmo toda a bola de neve da lei em que a trama se baseia fique de lado. Ao invés de os protagonistas entrarem cada vez mais imersos na teia criada pelo Ardil 22, a confusão proposital da cruel cláusula — que supostamente deveria fazer os soldados ficarem cada vez mais envoltos à medida que tentam se livrar dela — fica levemente esquecida. Há um divertimento sádico na forma em que, quanto mais ciente Yoyo fica de sua situação, mais difícil vai ficando para ele sair dela. Mas tudo isso acaba ficando superficial em um texto que se preocupa demais em não complicar a história, o que acaba tendo um resultado oposto ao desejado, e entrega uma trama fria e que pouco faz para que o público tenha empatia com os personagens.

    O contraponto, no entanto, é que o elenco segura muito bem e traz atuações consistentes, amparadas em uma direção que possivelmente tira inspiração dos Irmãos Coen e de Wes Anderson. A transição entre comédia e drama parece ser um lugar completamente confortável tanto para Hugh Laurie quanto para George Clooney, e o mesmo vale para o elenco coadjuvante e, é claro, Abbott, que domina o querido Yossarian com perfeição. Por isso, mesmo quando a história fica repetitiva — há dois ou três episódios ali no meio que se perdem no objetivo de impulsionar a história, e acabam soando genéricos e desinteressantes — há muito material para se decifrar e em que se deliciar.

    O maior objetivo de Catch-22 é mostrar um labirinto sem saída na jornada de Yoyo, e isso ela consegue fazer. Os seis episódios — aos quais o AdoroCinema teve acesso — conhecem bem o que são os terrores psicológicos da guerra, mas parecem ter medo de mergulhar fundo no que ela mesmo havia se proposto a ser: a perturbadora justaposição do humor e da tragédia. Uma pena.

     

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