Minha conta
    Everything Sucks! tem um começo tropeçado, mas promissor (Crítica da 1ª temporada)

    A comédia traz de volta a década de 1990.

    Scott Patrick Green/Netflix

    Nota: 2,5 / 5,0

    Tori Amos, Alanis Morissette, Wonderwall e calças de cintura alta. Caso você ainda não tenha entendido, estamos em meados da década de 1990, e de acordo com os adolescentes, tudo é um saco.

    Everything Sucks! é a nova série de comédia da Netflix, que se apoia fortemente na nostalgia para transmitir sua mensagem. A ideia de trazer a década de 90 aos holofotes de fato soa mais refrescante que a onda de paixão pelos anos 80 que (de forma eficaz) tomou o cinema e a TV nos últimos tempos. Mas apenas a recordação isolada nunca é suficiente para justificar uma narrativa. Aqui, a memória afetiva parece ter exercido um grande papel na idealização dos criadores, Ben York Jones e Michael Mohan, e embora isso se esvazie aos poucos ao longo dos episódios, a história eventualmente encontra fôlego e um potencial maior para o futuro.

    O centro da trama é Luke O’Neil (Jahi Di'Allo Winston), recém chegado no Ensino Médio e desesperado para encontrar a sua turma. Ele e os amigos McQuaid (Rio Mangini) e Tyler (Quinn Liebling) se inscrevem no Clube do Vídeo, e a partir daí a história segue um caminho bastante previsível de paixões adolescentes não correspondidas e inimizades do colegial, mas apenas por um certo tempo. Ele demonstra interesse por Kate (Peyton Kennedy), que está passando por seus próprios conflitos e questionamentos, e tem mais de um motivo para não querer namorá-lo, e na verdade não querer atenção alguma. Afinal, ela é a filha do diretor, Ken Messner (Patch Darragh).

    Scott Patrick Green/Netflix

    O maior problema de Everything Sucks! fica óbvio na primeira parte da temporada, justamente porque parece haver um esforço exagerado para se tornar uma referência. Os episódios são carregados de gatilhos afetivos, num desespero claro e fatigante para que sejam aceitos na ‘turma’. Ela encontra mesmo o seu ritmo quando abandona tais tentativas, justamente por deixar de lado o arco particular de Kate e Luke e dar atenção a todos os personagens como um grupo.

    Desta forma, ela se estabelece como uma junção de referências. O mais óbvio, é um pouco Stranger Things, mas também existe ali um quê de One Day At A Time e muitas lembranças de dramas de TV de high school. A forma como cada um daqueles adolescentes vai encontrando um lugar e uma trama traz riqueza de detalhes — mesmo estes detalhes sendo simples e não muito distantes do comum.

    Isolados, a maior parte dos personagens é extremamente caricata. Tyler, por exemplo, parece uma versão de outra década de Dustin (Gaten Matarazzo) de Stranger Things, enquanto McQuaid é tão excessivo que beira o desconfortável e traz lembranças de Sheldon Cooper (Jim Parsons), de The Big Bang Theory. O confronto entre o Clube do Vídeo e o Clube do Teatro — assim como as investidas de Luke em Kate e as exibições desmedidas de Emaline (Sydney Sweeney) e Oliver (Elijah Stevenson) — cansam rápido, e assim que todos passam a trabalhar juntos não há mais aquelas tentativas absurdas de ‘aceitação’, e a história enfim encontra um ritmo agradável.

    Scott Patrick Green/Netflix

    Isso faz até com que estes personagens caricatos encontrem novas camadas, com desenvolvimentos inesperados para McQuaid e Emeline, por exemplo. Em momento nenhum a história deixa de se ancorar em Luke e Kate, e ambos os atores fazem trabalhos excelentes com o que lhes foi dado. Mas a temporada salta aos olhos no momento em que a história de romance dá uma guinada que foge do óbvio, inclusive de forma muito bem-vinda. Infelizmente, muito disso foi entregue no trailer principal, antes mesmo da estreia da temporada, o que definitivamente compromete a experiência. Mas a jornada se desenvolve de uma forma muito sensível e dá até a impressão de ser algo extremamente intimista. A forma como Kate lida com os tabus de sair do armário na década de 90, por exemplo, longe da internet e com pouco acesso a informação, é cuidadosa e preocupada com a mensagem que transmite a um público mais jovem.

    Indo de encontro ao clichê do gênero, Everything Sucks! demonstra uma tentativa honesta de não deixar que os adultos sejam personagens superficiais e meros símbolos. Ken Messner e Sherry O’Neil (Claudine Mboligikpelani Nako) têm profundidade e seu relacionamento (que também foi jogado de bandeja no trailer) é desenvolvido com cuidado e acaba se conectando ao arco dos adolescentes (e de Luke principalmente) para dar um sentido final à narrativa dos dez episódios.

    No fim das contas, a primeira temporada de Everything Sucks! é mais uma tentativa do que um resultado concreto, mas é encantadora quando descobre o potencial dos personagens que tem ali. E se ela aprender com os erros, tem tudo para brilhar daqui em diante.

     

    facebook Tweet
    Comentários
    Back to Top