Minha conta
    Treze Dias Longe do Sol: Selton Mello, Carolina Dieckmann e Debora Bloch explicam a crítica social da minissérie (Entrevista)

    O AdoroCinema também conversou com Paulo Vilhena e Fabrício Boliveira no lançamento da nova produção da Rede Globo.

    Rede Globo de Televisão

    Um prédio desaba durante um dia de forte chuva. Embaixo dos escombros, sobreviventes estão soterrados em busca da saída. Entre blocos de cimento e muita poeira, bombeiros tentam ajudar as vítimas numa tensa corrida contra o tempo. Do lado de fora, mídia e familiares tentam descobrir quem é o culpado de tanta tragédia. Infelizmente, esse retrato já foi visto diversas vezes nos jornais. Mas a roteirista Elena Soárez e o diretor Luciano Moura (A Busca) perceberam ali que existe uma história humana a ser contada.

    Esse é o pontapé inicial da minissérie Treze Dias Longe do Sol e o AdoroCinema teve a chance de falar com o elenco durante a coletiva de lançamento, realizada quinta-feira (26/10) no Rio de Janeiro. Os próprios criadores definem tal projeto como a vontade de "colocar bons atores em situação limite" e quem lídera tal experiência é Selton Mello - figurinha já carimbada em séries da Rede Globo.

    Ele interpreta Saulo, um dos nove sobreviventes que estão presos no subsolo do prédio destruído. Ao mesmo tempo, foi a ambição deste homem que causou tal tragédia: ele é o engenheiro responsável pela obra, que investiu em mão de obra barata e material de baixa qualidade para economizar dinheiro e comprar a construtora onde trabalha. Agora, se encontra soterrado com outros funcionários e Marion (Carolina Dieckmann), filha do dono do edifício com quem ele teve um romance no passado.

    "Meu personagem é interessante porque é herói e vai líderar o grupo soterrado, porém, ao longo da série, você percebe que tem mais coisas a descobrir em sua história. Naquela tragédia surgem ressentimentos, frustações, a iminência da morte e todos tem que se unir para voltar a ver a luz do sol. Tem uma crítica bem atual. Tem a catástrofe física, mas [Elena e Luciano] se preocupam em focar nos dramas pessoais dos personagens", conta Selton.

    Isabella Pinheiro/Gshow

    UM RETRATO DA REALIDADE

    É importante ressaltar que Treze Dias Longe do Sol é uma obra de ficção, porém é impossível não perceber certas inspirações em casos reais como o Palace II (prédio que desabou no Rio de Janeiro em 1998) e o Edifício Liberdade (cuja queda no centro do Rio de Janeiro afetou outros dois prédios em 2012). Diante de uma realidade tão palpável, surge a questão  sobre como o ser humano reage diante de uma adversidade. "A maior crítica é sobre o desdém em relação à tragédia. Coisas horríveis acontecem todo dia no Brasil e a gente acha que é normal. Não estamos acostumados a pensar e agir a respeito sobre isso. Não temos compaixão ou estudamos a história. Invertemos os valores, é só ver em nosso cotidiano", declara Paulo Vilhena.

    O ator é responsável pelo papel de Vítor, herdeiro da construtora que precisa lidar com as complicações da tragédia na reputação de sua construtora. Ao mesmo tempo, Gilda (Debora Bloch), diretora financeira da empresa, busca uma forma de fugir das consequências legais do desastre, causadas por sua falta de responsabilidade e a ambição de Saulo. Para a veterana atriz, é importante contar tal história:

    "A história é muito boa. Fala de algo que vimos acontecer em 'nossas esquinas'. Então, eu acho interessante quando você pode falar de algo relevante em seu trabalho. E também ter a chance de representar o drama dessas vítimas, de certa forma. O maior desafio [em viver Gilda] foi humanizá-la, pois temos a tendência de vilanizar as pessoas. Porém, é mais intrigante observar os outros de uma forma humana e fugir do estereótipo".

    Ramon Vasconcellos/Globo

    O AMOR COMO RESPOSTA

    A grande intenção do show é transmitir como a compaixão pode ser a resposta para superar os problemas. Essa questão é representada em Marco Antônio (Fabrício Boliveira), tenente dos bombeiros que luta para resgatar as vítimas. "Ele enxerga a todos de forma igual: como seres humanos. Ele sempre luta pelos outros, num espirito muito parecido com a resistência coletiva do brasileiro. Essa série é uma metáfora boa desse novo mundo que está sendo construído, a partir desse capitalismo caindo em crise. Como queremos ver esse novo mundo? Aqui fica claro: é com o coração. É quase Interestellar!", brinca o ator, fazendo uma referência ao filme de Christopher Nolan.

    Quem também compartilha dessa opinião é Carolina Dieckmann, que retoma a parceria com Selton Mello treze anos depois da novela Tropicaliente. O relacionamento de seus personagens, diante das adversidades, tem a chance de ser reconstruído no meio dos escombros (Paradoxal não?): "Nessas horas, percebemos como é tão necessário se sentir seguro. Só que essas coisas acontecem e não tem como controlar. É do ser humano culpar o outro, porém, cada vez mais, vejo como não é isso que faz a gente andar para frente. Você tem que sempre buscar como resolver as coisas que surgem, tomar sua própria iniciativa. A gente vê isso na união daqueles soterrados."

    Ramon Vasconcellos/Globo

    A RESISTÊNCIA DOS SOBREVIVENTES

    Para Selton Mello, a minissérie também teve a chance de trazer algo inédito em sua carreira: grande esforço corporal. Afinal, a jornada de Saulo envolver subir tampas e elevadores, descer dutos, quebrar coisas, enfrentar inundações e outros desafios para sobreviver: "Isso foi puxado, nunca tinha feito um trabalho tão físico antes. E foi uma das coisas que mais me agradaram nesse trabalho. Era algo que exigia muito da gente. Sempre machucado, sempre sujo e com cenas dramáticas, era tenso. É um tema pesado, mas gostei muito de ter essa experiência."

    Sem querer estragar a ilusão da televisão, é importante falar que os intérpretes dos sobreviventes gravaram suas cenas nos escombros em estúdios em São Paulo, com o acompanhamento de fisioterapeutas e preparadores físicos. "Foi um trabalho muito corporal, de muita resistência e muito desesperadora para os personagens, já que eles não sabem se vão sobreviver. Óbvio que quando uma pessoa passa por esse tipo de tragédia, não há preparação. Mas a partir desse momento, ela tem que lidar com coisas que nunca imaginou antes. O importante da nossa preparação foi ter esse panorama, fazer a gente conhecer, nem que seja teoricamente, a gama de emoções que surgem", conta Dieckmann.

    Com Lima DuarteEnrique Diaz e Camila Márdila no elenco, Treze Dias Longe do Sol só estreia na Rede Globo em janeiro de 2018. Porém, estará disponível para os assinantes do serviço de streaming Globo Play a partir do dia 2 de novembro.

    facebook Tweet
    Links relacionados
    Comentários
    Back to Top