Minha conta
    13 Reasons Why: Atores falam sobre diferenças com o livro e possibilidade de segunda temporada (Entrevista)

    Conversamos com Dylan Minnette e Christian Navarro. A série estreia na Netflix no dia 31 de março.

    Mais nova série da Netflix, 13 Reasons Why é uma adaptação do famoso livro Os 13 Porquês, de Jay Asher. O AdoroCinema foi até Miami, nos Estados Unidos, e conversou com dois atores da produção: o protagonista Dylan Minnette, que vive Clay Jensen, e Christian Navarro, intérprete de Tony Padilla. A dupla falou sobre como foi realizar uma série voltada para adolescentes que toca em temas bem pesados. Trataram de algumas diferenças entre a produção e a obra original, e ainda destacaram a possibilidade de continuar a história, por mais que o livro não tenha uma sequência.

    A série é baseada em um livro. Vocês tiveram que ler o livro ou a história da série é diferente?

    Christian Navarro: Acho que cada membro da série tem um histórico diferente. Li o livro antes de fazer o teste para estar bem preparado.

    Dylan Minnette: Para mim, foi diferente. A jornada de Clay no livro e na série são diferentes. No livro, ele ouve as fitas deixadas por Hannah em uma só noite. Na série, ele as ouve no decorrer de uma semana e meia, duas semanas. Então, há muito mais sobre Clay na série e os produtores foram muito abertos, me disseram que eu não tinha que necessariamente ler o livro. O Clay que foi escrito por eles, que tem características do Clay do livro, é o Clay que eu interpreto. Então, eu decidi terminar de ler o livro depois de filmar todos os episódios para não ficar confuso ou ser influenciado pelo personagem do livro. Mas, quando finalmente li, tudo o que fizemos fez muito sentido para mim. Foi bom ter lido depois. É um ótimo livro. E depois de ter interpretado Clay, depois de estar tão ligado ao projeto durante seis meses, me emocionei muito mais com o livro. Chorei bastante. É um livro muito emocionante mas não sei se eu teria chorado se tivesse lido antes. Mas, depois de ter interpretado Clay, tornou-se outro livro. Foi incrível.

    Atualmente, as histórias infanto-juvenis são muito mais maduras, mais realistas. O que vocês acham da transição do “felizes para a sempre” para histórias como essa para a sociedade que assiste a essas séries?

    CN: Você disse perfeitamente. Não quero diminuir nenhuma outra série ou filme, mas você não pode lidar com a vida se olhar sempre pelo lado bom. Acho que fazer isso, lidar com a vida de uma maneira pouco realista, é um desserviço às pessoas que você está tentando atingir. Nossa série é muito realista, é muito dura. É difícil vê-la às vezes. Assim é a vida. Creio que, de muitas maneiras, tratamos de uma pequena parte das coisas que os jovens precisam enfrentar todos os dias. É uma série, é entretenimento, mas os jovens passam por essas coisas em todos os dias de suas vidas. Certamente não é entretenimento para elas. A nossa responsabilidade, portanto, é fazer séries cada vez mais realistas.

    DM: Prometo que isso não é conversa furada: tudo isso é graças à Netflix. Fora da Netflix, não é sempre que você pode contar sua história da maneira como deseja, você tem certas regras, limites. Os personagens jovens vão se drogar, fazer sexo e fazer coisas terríveis às outras pessoas porque é isso que eles fazem, mas, hoje em dia, em muitos filmes e séries cujos protagonistas são adolescentes, regras precisam ser seguidas e esses produtos acabam não sendo tão realistas quanto poderiam ser. Os jovens acabam sendo muito bonitos, unidimensionais, mas não porque os roteiristas e diretores não têm talento e sim porque não podem fazer mais. Acho que, nesta série, nós não tivemos limites e conseguimos atingir esse nível mais alto de fazer com que esta série seja realmente realista e difícil de se assistir.

    CN: Não é sobre os índices de audiência.

    DM: Exato.

    CN: Não fizemos essa série para termos um ibope excelente. Brian Yorkey, nosso showrunner, deixou isso bem claro desde o início. Não fizemos essa série para conquistar o público ou reunimos um elenco bonito para agradar as pessoas, mas para passar uma mensagem muito concisa. Nosso elenco é um reflexo do que são os Estados Unidos dos dias de hoje: multiculturais, de cores e de orientações sexuais diferentes que coexistem. Fazer essa série dessa forma é algo muito corajoso. As outras pessoas querem seguir a receita e nós não precisamos fazer isso. Podemos quebrar o padrão de muitas formas.

    Dylan, você interpreta Clay em dois momentos diferentes na série. Como foi essa dinâmica no set? Como foi construir o personagem?

    DM: Existem duas linhas narrativas diferentes, o passado e os dias de hoje. Clay cresce de maneira similar nas duas linhas temporais, mas de formas diferentes. Em ambas, ele descobre mais sobre si mesmo. Antes, nos flashbacks, por causa da ação de Hannah que faz com que ele saia de sua reclusão, eventualmente se apaixonando por ela, e depois de ela morrer, Clay ergue um muro ao seu redor. É aí que o encontramos, quando a série começa. Quando ele começa a ouvir as fitas, ele começa a sair de dentro desse muro. Ele se torna um guerreiro conforme a temporada avança. Ele tenta trazer justiça para Hannah. É muito interessante ver Clay se desenvolver dessa forma, especialmente sendo ele um personagem que você nunca imaginaria que se desenvolveria desse jeito. Foi ótimo poder interpretar isso. E como são muitas emoções variadas, queria ter certeza, desde o início, para onde Clay estava indo. Fiquei muito atento a isso para sempre interpretar o Clay certo nos momentos certos. Não partimos do melodrama, começamos em um lugar realista e terminamos em um lugar realista. Clay tem grandes momentos dramáticos e eu precisava saber onde eles entrariam para não atingi-los antes da hora certa. Acho que conseguimos fazer isso muito bem porque todos estavam na mesma página, todos sabiam para onde a história iria e Bryan estava muito aberto às nossas ideias. Além disso, Tom McCarthy, que dirigiu os dois primeiros episódios, disse para todos nós: deixem as coisas leves. Ele nos disse isso porque nossos personagens ainda iriam enfrentar muitas coisas. Isso que ele nos disse foi muito importante, não saiu da minha cabeça. Quando chegamos aos episódios finais, do nono em diante, a série ficou muito sombria e o conselho de Tom nos ajudou muito. Se ele não tivesse nos dito aquilo, se estivéssemos em outra emissora, a produção podia ter começado com o pé esquerdo, podia ter se tornado algo exagerado, melodramático. Mas todos nós tentamos ao máximo fazer com que tudo fosse realista, fazer com que nossos personagens parecessem ser pessoas de verdade. Enfim, foi essa a minha preparação.

    Vocês acham que a série auxiliará as pessoas ou servirá como um meio de informação quanto à temática que vocês abordam?

    CN: Espero que sim. Acho que nós fizemos de tudo para tornar a série mais acessível para todos, para se tornar uma ferramenta de informação. Quando os treze episódios terminarem, as pessoas vão conversar sobre eles. De certa forma, a série convida ao debate e eu sou a favor disso.

    A série se passa nos dias de hoje, mas ao mesmo tempo adota elementos bem retrôs, começando pelas fitas. Como foi trabalhar com isso?

    CN: Tenho 25 anos, mas, felizmente, fui criado por pessoas que têm almas mais velhas, então eu também sou mais velho do que realmente sou. Por isso, foi fácil me conectar com essa nostalgia. Tony dirige e conserta o seu próprio carro, um Mustang; gosta de ouvir fitas porque a qualidade do som é melhor… Eu não costumava ouvir música pop até Dylan me apresentar várias ótimas canções porque as letras de hoje em dia são pouco substanciais, as melodias são monótonas. É por isso que, para mim, é fácil entender o amor pelas coisas dos anos 70 e 80, pelo passado. Hoje em dia, tudo é muito instantâneo, tudo acontece aqui e agora. Assim, o tempo passa e nós não paramos para pensar sobre isso. É por isso que, de certa forma, Tony ama essas coisas, ele gosta de pensar. Atualmente, ninguém quer que a gente pense, quer que liguemos nossos cérebros. Tudo o que desejam é que nós façamos as coisas sem pensar. Tony gosta do passado porque gosta de pensar.

    DM: Concordo com você. E também acho que é importante ter esse sentimento de atemporalidade na série porque queremos que a maior parte das pessoas se identifique com a nossa história. Ter esses momentos que poderiam se passar nos anos 70 ou 80 ou hoje em dia, em 2017, é ótimo porque mais pessoas, inclusive as que são mais velhas, podem se conectar com o que fizemos, podem gostar do que fizemos. É bom ter esse aspecto retrô. Fizemos a série assim por esse motivo mas também porque a atemporalidade nos permite ver que a questão que abordamos também é atemporal. É atual, mas não é nova. Ainda, ajuda a série a ser um entretenimento melhor. A trilha sonora é incrível: temos Joy Divison no primeiro episódio, The Cure mais à frente e muitos covers fantásticos durante a temporada. Bryan é uma pessoa muito musical e muita aberta. Ele trouxe essas músicas mais antigas e ouviu as minhas opiniões quanto às músicas que eu acho que Clay ouviria, aos artistas com os quais ele se identificaria. Alguns pôsteres da parede do quarto de Clay foram escolhidos por mim, outros por Bryan. Adicionamos então Arcade Fire, The Shins, Bon Iver, The Cure, Broken Social Scene, que é uma banda que eu adoro e que tem muito a ver com a temática. Nas paredes do quarto de Hannah também existem alguns dos mesmos pôsteres, algo que está lá para conectar os dois. Acho incrível fazer com que a música seja uma forma de conexão entre os personagens de uma série. E muitos momentos importante da série são impulsionados por canções. Adoro ouvir música e fico muito feliz que parte das músicas da série tenham vindo das minhas sugestões.

    Vocês têm grandes nomes ligados ao projeto como Selena Gomez e as expectativas são altíssimas. Como vocês lidam com isso? Como Selena se envolveu com a série?

    CN: A Selena esteve totalmente envolvida no projeto, mas não encontrávamos muito. Ela apareceu mais no final das filmagens, pois estava em uma turnê mundial. Mas estava claro que ela sabia tudo o que estava acontecendo. Conhecia todos nós e estava por dentro de tudo. Para responder à primeira pergunta: sei o que fizemos, sei por quê fizemos, sei o que queremos passar, como estamos tentando ajudar as pessoas e que, no fim das contas, é um bom entretenimento. Então, estou orgulhoso disso. O que vier além disso é lucro.

    Podemos esperar uma segunda temporada? É uma história completa mas que também deixa espaço para uma continuação…

    CN: Acho que essa é a beleza da série. Pode ser uma história completa e pode ter uma continuação.

    DM: Não importa o que aconteça, acho que no fim as pessoas, como eu, terão o desejo de saber o que acontece com os personagens. Há muito a ser contado ainda. Temos que esperar para ver. Depende da Netflix. Veremos.

    O AdoroCinema viajou a convite da Netflix.

    facebook Tweet
    Links relacionados
    Comentários
    Back to Top