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    Desventuras em Série: Confira nossa crítica da primeira temporada da série

    Neil Patrick Harris é um dos destaques da produção.

    Após fazer toda campanha de divulgação de Narcos em cima do spoiler de que Pablo Escobar iria morrer na segunda temporada, a Netflix resolveu inovar mais uma vez na promoção de Desventuras em Série. Aqui, fizeram toda divulgação investindo na ideia de que "você não deve assistir esta série". E não ficou apenas na publicidade, vários episódios da produção contam com avisos do tipo, pedindo para o espectador desviar o olhar, parar de assistir ou aceitar de que aquela não era uma história feliz.

    E não era mesmo. Muito fiel aos livros de Lemony Snicket (pseudônimo de Daniel Handler), a série é bastante sombria e consegue unir bem os elementos do suspense e da comédia. Sim, há bastante humor na produção, principalmente no que diz respeito ao absurdo, afinal traz um personagem que se disfarça de diferentes tipos e que consegue enganar muitos com isso. Mas não as crianças.

    Chegamos então ao ponto alto da série, as crianças. É claro que o principal chamariz é Neil Patrick Harris, irretocável na pele do Conde Olaf, mas o foco está em Violet, Klaus e Sunny Baudelaire. A última, vivida por Presley Smith, é um bebê, cuja função é basicamente ser adorável. Um dos elementos mais divertidos da produção acabam sendo os sons emitidos pela bebê, que são traduzidos com legendas excelentes e por vezes bem complexas. Mas os destaques são mesmo os dois irmãos mais velhos, interpretados por Malina Weissman e Louis Hynes, que lembram muito Emily Browning e Liam Aiken, que viveram Violet e Klaus no filme de 2004. NPH, no entanto, oferece um Olaf diferente do de Jim Carrey, um pouco mais sombrio e violento.

    Outro personagem fundamental para a história é Lemony Snicket. Embora não tenhamos todas as respostas sobre ele na primeira temporada, Lemony surge como um narrador muito participativo e envolvente. Patrick Warburton entrega uma narração incrível, aparecendo inúmeras vezes em cena, sempre quebrando a quarta parede e conversando diretamente com o espectador. Mais do que dar base a história, a narração apresenta funções opinativas e até informativas, como no momento em que explica a diferença entre literal e figurado. Oferece frase maravilhosas, como "o alegado entretenimento que está assistindo é lamentavelmente desagradável" ou "não é porque você não entende que não faz sentido."

    A trama gira em torno de Violet, Klaus e Sunny, três jovens de uma boa família que recebem a notícia que seus pais morreram em um incêndio que destruiu sua casa. Eles, então, são obrigados a mudar para a casa do parente mais próximo, no caso o Conde Olaf, um ator fracassado que não pode esperar para colocar as mãos na herança dos órfãos. Após ter seu plano revelado, Olaf acaba perdendo a guarda das crianças, que passam a pular de casa em casa, sempre encontrando figuras inusitadas, como o especialista em répteis Monty (Aasif Mandvi) ou a fanática por gramática Josephine (Alfre Woodard). Por cada lugar que aparecem, as crianças são seguidas por Olaf, sempre com um disfarce ridículo, que engana os adultos, mas não o trio.

    Além do grande elenco, que conta ainda com K. Todd FreemanDon JohnsonJoan Cusack e Catherine O'Hara - e duas participações especiais surpresas de atores bem conhecidos -, a série oferece um trabalho técnico realmente extraordinário, especialmente no que diz respeito ao design de produção, os cenários, o figurino e a maquiagem. A fotografia do francês Bernard Couture também deve ser ressaltada, investindo num tom cinzento que só reforça o ambiente sombrio. A trilha sonora do consagrado James Newton Howard é outro elemento que deve ser lembrado.

    A série foi criada, produzida e dirigida pelo ótimo Barry Sonnenfeld e, de certa forma, retorna ao ambiente que o consagrou em A Família Addams e A Família Addams 2, que também trazia personagens que eram divertidos e fascinantes no modo em que eram maldosos. 

    A Series of Unfortunate Events (no original) conta com um roteiro excelente, mesclando bem intervenções do narrador, trama principal e flashbacks. E brinca constantemente com o espectador, seja através da narração, seja com referências específicas. Em determinado momento, Stefano (um dos disfarces de Olaf) fala que não quer ir ao cinema, por prefere assistir TV em casa, no conforto do próprio lar. Na cena, vemos NPH olhar brevemente para a câmera e soltar um sorrisinho, afinal é uma clara referência a Netflix.

    Mas a série também têm seus problemas, como algumas variações de ritmo, consequência de alguns episódios exageradamente alongados. A maioria dos capítulos possuem pouco mais de 40 minutos, mas temos um de 64 e outro de 53 minutos. A Netflix nunca se prendeu ao padrão de 40 minutos da TV americana, mas aqui o espectador vai sentir um pouco esta maior duração.

    Outro problema, que não diz respeito diretamente à produção, mas sim à forma como consumimos produtos do tipo, é o fato de que Desventuras em Série não funcionar tão bem como maratona. São apenas oito episódios, então é relativamente fácil assistir tudo de uma só vez. Mas isso, provavelmente, irá prejudicar sua experiência. A primeira temporada engloba quatro livros de Lemony Snicket, sendo um a cada dois episódios. Diante disso, nos parece que a melhor forma de conferir a produção é ir de dois em dois capítulos. Lembrando, é claro, que cada um monta sua programação da forma como bem entender, o que é um dos trunfos da Netflix e outras companhias de streaming. Apenas apontamos que a experiência pode ser mais prazerosa se bem dosada.

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