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    Mostra de São Paulo 2015: Confira nossa crítica dos dois primeiros episódios da série Zé do Caixão

    Matheus Nachtergaele é o intérprete de José Mojica Marins no projeto.

    É bem provável que Zé do Caixão seja o personagem mais icônico da história do cinema brasileiro. Por mais que tenha a disputa ferrenha de Zé Pequeno (Cidade de Deus), Vadinho (Dona Flor e Seus Dois Maridos), capitão Nascimento (Tropa de Elite) e outros tantos, o vilão criado por José Mojica Marins se tornou extremamente popular não apenas por mexer com o imaginário coletivo do medo, mas também pelas características peculiares de seu intérprete. Entretanto, curiosamente a figura do Zé do Caixão é mais conhecida do que os filmes em que aparece, ou até mesmo a vida de Mojica. Zé do Caixão, a série, surge justamente para suprir esta lacuna.

    Protagonizada por Matheus Nachtergaele, a série de apenas seis capítulos tem por objetivo retratar os bastidores das produções de Mojica no cinema e, é claro, apresentar um pouco sobre sua vida e jeito de ser. Cada capítulo aborda um longa-metragem, iniciando por A Sina do Aventureiro (1958). Época do cinema mambembe, em que Mojica não tinha o menor pudor em cobrar dos “atores” para que pudessem estrelar o longa-metragem e até mesmo mudar o título do projeto caso surgisse um investidor endinheirado. O importante era fazer cinema, da maneira que fosse possível. Para tanto contava com a ajuda dos eternos parceiros Mário Lima (Felipe Solari) e Dirce (Maria Helena Chira), que faziam o possível para tornar realidade suas ideias mais loucas.

    Um dos grandes atrativos da série é justamente a persona de seu personagem principal. Não apenas pelo fato de Matheus Nachtergaele ter capturado tão bem os trejeitos e o tom de voz utilizados por Mojica, mas principalmente pelo espírito inquieto que o norteava. Se por um lado havia esta necessidade de fazer cinema, tão comum em artistas que precisam extravasar o que sentem de alguma forma, por outro há a contradição de que ele fazia absolutamente de tudo para que sua arte exista – até mesmo se vender, o que automaticamente põe em dúvida a própria arte. A este conflito moral, inexistente na mente de Mojica, soma-se também seu modo de pensar sobre a vida. Frases como “casamento só vale quando a mulher tem filho” ou a necessidade do famoso teste do sofá para toda e qualquer atriz que trabalhasse com ele revelam o pensamento machista que tão bem o definia – algo que, também, ajudou a compor Zé do Caixão. Ao mesmo tempo, seu palavreado próprio e o jogo de cintura intrínseco à própria profissão lhe dão um delicioso ar cômico.

    Estas desventuras da arte de fazer cinema com José Mojica Marins são muito bem exploradas nos dois primeiros episódios da série. Não apenas pelos fatos inusitados que surgem, mas também pela própria trupe de crentes que se forma em torno dele. São sequências divertidíssimas, como o delegado sendo convidado a integrar o elenco de A Sina do Aventureiro, mescladas com outras que ensaiam o surgimento do Zé do Caixão – algo que só acontece no segundo episódio, que aborda À Meia-Noite Levarei Sua Alma. Os pesadelos de Mojica impressionam pelo impacto visual, bem com a primeira aparição de Nachtergaele com o visual típico do personagem título.

    Com um texto ágil e muito bem humorado, Zé do Caixão apresenta uma produção caprichada e um elenco coeso. Se Nachtergaele é o grande destaque pela caracterização bastante fiel, inclusive sendo mais teatral como Zé do Caixão e dosando (um pouco) o sotaque como Mojica, os demais atores do elenco são essenciais na caracterização deste universo em que cinema é feito na raça e na base do improviso. Se os dois primeiros episodios divertem (bastante) e mostram a ascensão de José Mojica Marins, eles deixam também a curiosidade em saber mais detalhes sobre como será seu auge e também sua derrocada, na vida e na sétima arte.

    O primeiro episódio de Zé do Caixão será exibido em 13 de novembro, às 22h30, no canal de TV por assinatura Space.

    O AdoroCinema viajou a convite da organização do festival.

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