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    Entrevista - Selton Mello, Rodrigo Santoro, Cauã Reymond e Mauro Lima

    MESA REDONDA - REIS E RATOS - O AdoroCinema participou de uma roda de conversa com o diretor Mauro Lima e mais os atores Selton Mello, Rodrigo Santoro e Cauã Reymond, do filme Reis e Ratos, que estreia no dia 17 de fevereiro nos cinemas.

    Reunidos no hotel Windsor de Copacabana, no Rio de Janeiro, para divulgar Reis e Ratos, que estreia em 17 de fevereiro, o diretor Mauro Lima e mais os atores Selton Mello, Rodrigo Santoro e Cauã Reymond receberam jornalistas para um bate-papo. O AdoroCinema estava lá e conversou com a trupe sobre esse novo e diferente trabalho, que reúne ainda Otávio Müller, Rafaela Mandelli, Kiko Mascarenhas, Paula Burlamaqui e Seu Jorge, entre outros. Dividido em dois momentos, um grupo conversou com Lima e Mello em uma sala, enquanto outro fazia o mesmo com Santoro e Reymond em outra, para depois fazer a troca de lugares.

    O JEITÃO DE FALAR E O ESTILO DE ATUAR

    "Brinquei de algo mais nobre"

    Assunto inevitável, devido a uma das características principais do filme, veio à tona a semelhança do jeito de falar do personagem Troy Somerset (Selton Mello) com os personagens Fucker & Sucker (programa Casseta & Planeta). Mello começa a sua resposta perguntando a idade dos presentes para dizer que a curtição com o jeito de falar parecido com o de dubladores, feito pela turma do programa, já não era novidade na época. "Eu não brinquei de fucker and sucker. Brinquei de algo mais nobre", querendo evitar qualquer vínculo com tais personagens.

    Na verdade, segundo ele, ajudou o fato de ter trabalhado boa parte de sua carreira como dublador. "Dos 12 aos 20 anos fui dublador da Herbert Richers", lembrando que tinha trabalhado com dubladores incríveis e que o próprio Mauro (diretor) também gostava muito do trabalho desses profissionais. Sobre a atuação, contou que buscou "uma onda dos anos 40", com aquele olhar fixo (de míope) e citou como exemplos as atuações de Robert Mitchum, Humphrey Bogart e James Cagney. E finalizou dizendo que Bruce Willis e Michael Madsen (Cães de Aluguel) fazem a mesma coisa.

    DUBLADORES EM ALTA

    "É a voz do Michael Douglas, é a voz do Woody Allen"

    Questionados sobre essa visão de que o filme parece também ser uma grande homenagem para os dubladores, o diretor lembrou que existem no filme dois deles muito famosos, como o Hélio Ribeiro, que faz o Embaixador, mas pode ser reconhecido "auditivamente" por ser a voz do Robert De Niro e Steve Martin, entre outros. "E tem o Élcio Romar, que é a voz do Michael Douglas, é a voz do Woody Allen e um monte de outras vozes. E eles são atores bons também", completou.

    ECOS DA DITADURA

    "Era o cara que mandava prender e mandava soltar"

    Sobre o fato do  personagem de Selton não ter o sotaque tão carregado no americano, Mauro comentou sobre o coronel Vernon Walters, chefão da CIA que vivia no Brasil e falava português perfeito na época da ditadura. "Era o cara que mandava prender e mandava soltar", disse ele, lembrando que qualquer problema que acontecia ele estava no meio e dava entrevistas portugues perfeito.

    POR QUE FILMAR ESSA ÉPOCA?

    "Sempre tem um livro negro"

    O AdoroCinema comentou com o diretor que ele tinha feito o infantil Tainá 2 - A Aventura Continua (2005) e o drama Meu Nome Não é Johnny (2008). Perguntamos então qual se era um desejo pessoal essa coisa de abordar o golpe militar de 64. O cineasta contou que já estava com o roteiro sendo trabalhado antes mesmo de Tainá.

    "Quando filmei Taina, já tinha escrito metade dele e, pessoalmente, eu tenho um certo gosto pela Guerra Fria". Mauro completou dizendo que acha importante abordar o "lado negro" da história, lembrando que a interferência da CIA existiu em outros países também, sempre com os Estados Unidos meio que decidindo os destinos do mundo na época que existiam esses dois lados. "Não acho possivel contar uma história através da oficial e ponto. Sempre tem um livro negro", alfinetou.

    OS PERSONAGENS

    "Os elementos não são inventados. É real. É o PC Farias"

    Mauro queria que o filme tivesse um lado sedutor, de um grupo de canalhas que estavam ali nas vésperas do golpe de estado. O desejo era que a história do Brasil estivesse ali, que não fosse algo delirante. Afirma que os personagens são inventados, que aquilo tudo é loucura, mas os elementos não são inventados e sim reais.

    Afirmou, por exemplo, que não inventou marinheiro da CIA infiltrado fazendo discurso para o golpe sair mais rápido. "Eu inventei uns personagens, maluquices, como crimes passionais ... também não inventei, é o PC Farias aquilo", disse rindo. Sobre o radialista mediúnico (Cauã), lembrou que em Leningrado, os agentes eram treinados para psicografar e uma das falas do filme é real. "Era um mito da guerra fria. Esse projeto existiu, se deu certo eu não sei."

    SOMENTE 17 DIAS PARA FILMAR

    "Pessoas que trabalham se divertindo"

    Perguntado sobre o fato de ter rodado o filme em apenas 17 dias, Mauro contou que não sofreu nada. "A gente não estourava as diárias, não teve hora extra, não teve sofrimento nenhum". Para ele, os problemas são os comuns de qualquer produção, seja ela rodada em 17 dias ou em 170 dias. Segundo ele, a equipe ajudou muito. "Um elenco de pessoas que trabalham se divertindo faz com que o negócio renda".

    A ESCOLHA DO ELENCO

    "Uma ação entre amigos"

    "O Selton e o Otávio eu falei no dia que a insanidade bateu em mim e na produtora". Segundo ele, os dois já eram parceiros, conheciam o roteiro e bastou um "vamos nessa". Daí em diante, contou que foram pintando umas coincidências, conspirando a favor. O nome do Cauã surgiu numa conversa com Selton, mas eles não conheciam o jovem ator. Selton acabou encontrando ele em um avião e o assunto brotou. No mesmo dia, já em terra e depois de ter lido o roteiro, a decisão já estava tomada com um significativo: "Tô dentro".

    Com Santoro, o encontro aconteceu numa churrascaria numa mesa de amigos em comum. Papo vem, papo vai, veio o roteiro em pré-produção e Rodrigo pediu para ele enviar. "Não achei que ele ia ler", disse Lima. Selton encontrou Rodrigo e deu mais força: "Vai ser rápido. Não vai ser aluguel. Bora fazer um filme em duas semanas". Mauro contou que Seu Jorge entrou faltando um dia e meio para começar a filmar e ainda estava com os cabelos compridos. "Tudo bem. É um pretexto para eu cortar o meu cabelo", teria dito o cantor.

    ATMOSFERA NOIR E O CIGARRO

    "Há uma esperança de que volte"

    Puxando a brasa para a fumaceira em cena, o AdoroCinema perguntou para Selton se ele tinha achado difícil atuar em meio a tanta fumaça e aquele climão cinema noir. Brincalhão e fumante, o ator respondeu que duro mesmo era estar ali sem fumar e provocou uma risada geral. Em seguida, confirmou a inspiração a ainda no clima da brincadeira, Mauro comentou que tinha visto um edição sem cortes de Alien, o 8º Passageiro, de Ridley Scott, que se passa no futuro, os astronautas saíam dos casulos e logo fumavam. "Ou seja, Há uma esperança de que volte". (mais risos)

    PRETO E BRANCO OU COLORIDO

    "Eu não sabia [...] se ia atrapalhar a compreensão"

    Pelo fato de boa parte do filme ser em preto e branco e, por conta disso, existir a possibilidade de causar estranheza nas pessoas acostumadas ao colorido, o AdoroCinema perguntou se a ideia desde o começo era ser preto e branco. Mauro contou que rodou tudo em cores e que durante o processo de finalização foi assistindo as imagens sem cor, já visualizando a ideia original. "Eu não sabia o que ia ser preto e branco. Se ia ser tudo. Se ia atrapalhar a compreensão. Basicamente, eu pensei em preto e branco", disse. A entrada da cor, explicou, acabou sendo útil para pontuar a existência de passado e presente na história.

    A PRIMEIRA VEZ

    "Isso foi o pretexto para fazer toda essa maluquice"

    O AdoroCinema quis saber também como tinha sido a experiência de aproveitar o set de filmagens de O Bem Amado (2010) e brincou se tinha sido "bom para ele". Rindo, Mauro disse que "isso foi o pretexto para fazer toda essa maluquice". Selton lembrou do longas que Lima fez, como Loura Incendiária (1996), também em preto e branco e que "conversa" com o projeto atual.

    "Era mais louco ainda porque eu fiz em quatro dias", brincou o diretor, afirmando que "o cinema estava em coma nesta fase. O filme era lançado com uma cópia". Selton falou que Mauro era "meio Ed Wood", citando o cineasta famoso por produzir filmes baratos e que foi interpretado por Johnny Depp em Ed Wood (1994). No embalo, descobrimos que Reis e Ratos chegará com duzentas cópias "porque mudou o cinema brasileiro", concluiu Lima.

    EXPECTATIVA DE PÚBLICO

    "Gostaria que batesse o Tropa de Elite 2"

    O AdoroCinema perguntou sobre qual era a expectativa de público para eles. Na verdade, queríamos saber qual seria um montante de ingressos que já seria satisfatório. "O Selton é mais produtor do que eu. Eu acho 500 mil legal para caramba". Perguntado se gostaria de entrar no clube do milhão, disse que já tinha feito isso (com Johnny), mas que seria muito bom entrar no clube dos milhões. "Gostaria que  batesse o Tropa de Elite 2, mas obviamente isso não vai acontecer", disse. Mostrando serenidade, ponderou se o seu filme conversaria com um milhão.

    JUNTOS OUTRA VEZ

    "Adoraria fazer o Tim Maia"

    Como repetiram a parceria de Meu Nome Não é Johnny, o AdoroCinema perguntou se já era "um caso de amor". Melo disse que existe uma identificação enorme entre eles com essa coisa do humor e que é tudo meio louco entre eles. Lima diz que é um dialeto, enquanto Mello afirma que eles não se falam muito. "A gente toca de ouvido. Vai ver que é porque somos músicos".

    Perguntamos se já podíamos pensar em novos projetos deles, Mello sacramentou: "Adoraria fazer o Tim Maia, mesmo sendo branco. Será que tenho chances?", provocando risos e se referindo ao longa sobre o cantor que será dirigido por Lima, baseado no livro "Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia".

    DESCONSTRUINDO O GALÃ

    "Não queria ficar só no visual"

    Devido ao fato de seu personagem Rony Rato ter um imagem bem repugnante, questionaram como tinha para Rodrigo se olhar no espelho com a maquiagem. Santoro afirmou que se sentiu muito bem. "Quando era pequeno brincava de índio, astronauta, Indiana Jones... ali eu tava brincando de Rony Rato".

    Lembrou que o convite foi feito em cima da hora, bem perto do filme começar e sem tempo para muitas preparações. A proposta era essa e o personagem já estava delineado, com os dentes estragados e fui pesquisar mais sobre a anfetamina. "Não queria ficar só no visual. A onda mesmo era quem era o carinha que vivia no buraco, famoso meliante".

    O GRILO COM A PRÓTESE

    "Eu sou só não queria que o personagem se reduzisse ao dente"

    O AdoroCinema perguntou sobre o contato com as próteses. Disse que foi a primeira vez e que não tinha nem tempo para pensar muito. Era maquiar e rodar. Contou que foi inventando as coisas aos poucos e que o personagem Ratso, de Dustin Hoffman em Perdidos na Noite (lembrado por uma jornalista) foi uma das referências, indicadas pelo próprio Selton. "Eu já tinha visto, mas não com esse olhar".

    "Eu sou só não queria que o personagem se reduzisse ao dente. Eu fui buscando o rato, o cara do bueiro, das consequências do uso", disse.

    O LOCUTOR

    Sobre a preparação para fazer a voz diferente, Cauã contou que não podia errar e contratou uma fonoaudióloga. Alem disso, disse que ouviu muito nas horas vagas o famoso Repórter Esso, programa jornalístico no rádio e na tv que teve Heron Domingues entre seus famosos locutores.

    Ele contou também que não conhecia Rodrigo e Selton na época das filmagens e confirmou que o convite para o projeto foi feito por Mello durante uma viagem de avião para Salvador, no Carnaval. "Ele falou que estava gostando do que eu estava fazendo como ator e que tinha vários papéis interessantes num projeto novo com Mauro Lima".

    O PAGAMENTO

    "Foi simbólico e quando der paga"

    Com relação ao pagamento de um cachê baixo, Rodrigo foi taxativo e disse que "foi simbólico e quando der paga. "A ultima coisa ai foi a questão do cachê". Eles disseram que todo mundo topou fazer meio que no amor. Santoro disse que a proposta desde o início era essa, de aproveitar o set, o figurino e que eles compraram a ideia. E isso aconteceu com todos os envolvidos.

    PERSONAGEM INDEFINIDO

    "O roteiro permitia"

    Como  a sexualidade de seu personagem é um tanto quanto duvidosa, Cauã diz que tentou ir para "um caminho menos óbvio porque o roteiro permitia". E citou exemplos da vida de pessoas que ele diz encontrar e ter certeza de que ela seria mais feliz se saísse do armário, "ficaria mais tranquilo se relaxasse". Ainda sobre o papel, contou que quando rodava a cena da espada, a lâmina se soltou e que isso deve virar cena extra porque foi um grande susto.

    Quando perguntaram se Rodrigo tinha dado alguma dica, uma vez que já tinha interpretado um gay, ele contou que eles nem se encontraram. Que foi uma cena somente e tudo muito rápido. Rodrigo pergunta até se tem essa cena no filme porque ele só tinha visto um primeiro corte. Sobre ficar amigos no filme, disseram

    Sobre dica para o caua, rodrigo disse q nem se encontraram. Falam sobre uma cena do filme se ela estava. Rodrigo contou que nem viu o filme e perguntou sobre a existencia dela. Caua disse q eles nem se conhecia. Sobre ser amigos, disse q não q eles se conheceram. E que eles se conheceram mesmo foi em Meu País.

    O FLERTE COM A COMÉDIA

    "Gostaria de fazer mais"

    O AdoroCinema lembrou que em sua filmografia Santoro tinha somente três filmes com uma pegada de humor, citando Simplesmente Amor (2003), Recém-Formada (2010) e o ainda inédito O Que Esperar Quando Você Está Esperando (2012), título em português informado por ele mesmo, referindo-se ao nome do livro.

    "Comédia eu não fiz muito. Gostaria de fazer mais". E sobre este título novo com Jennifer Lopez e Chris Rock, mostrou-se bem animado. "Tem uma história paralela que eu não posso revelar para não estragar. Os caras estão fazendo comédia da minha situação. Foi um exercício cômico que eu nunca tinha feito. É a coisa de improvisar, de estar ligado".

    Quando perguntamos o humor teria ajudado a topar o projeto, Cauã disse que foi uma libertação porque tinha acabado de fazer a novela A Favorita, com cenas pesadas. E aí para ele foi meio fácil pensar em ir para um caminho oposto. "Vamos fazer algo diferente", disse, citando ainda a oportunidade de trabalhar com a experiência de Selton no gênero. Rodrigo arrematou dizendo que Selton foi um fio condutor. "Ele que botou pilha. É um exercício. É um experimento!".

    Crítica

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