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    Entrevista com Maurício de Sousa

    O desenhista mais bem sucedido do país fala de projetos do passado e do futuro

    Nos anos 80, o sucesso estrondoso dos quadrinhos da Turma da Mônica levou o seu criador Maurício de Sousa a se aventurar no cinema com dois filmes de sucesso: As Aventuras da Turma da Mônica, 1982, e A Princesa e o Robô, de 1984. Infelizmente, os anos 80 foram os piores da história do cinema nacional no que se refere a ganhos financeiros. Agora, mais de vinte anos depois, a realidade é outra e o cinema nacional tem a sua melhor fase desde a época das chanchadas da Atlântica. O retorno da Turma da Mônica aos cinemas vem com cara de definitivo, mais que isso, a mira agora é para o mercado internacional. É o que afirma seu criador Maurício de Sousa, que já foi chamado de "O Disney brasileiro" e seguramente é o chargista de maior sucesso em todo o Brasil.

    O filme no caso é Turma da Mônica em Uma Aventura no Tempo, onde os personagens precisam viajar numa máquina do tempo para recuperar os "quatro elementos da Natureza" e salvar o mundo do congelamento total. Muita aventura e confusão esperam a turminha nessa jornada. Seja enfrentando os perigos da pré-história com o Piteco, ou ajudando o Papa-Capim a salvar a floresta, seja lutando com o Astronauta contra piratas do futuro ou até mesmo encontrando suas versões baby no passado. Maurício conta ainda que o novo filme da Turma da Mônica chega inovando mais uma vez trazendo uma mistura perfeita de animação 2D com tecnologia de ponta em 3D.

    Entrevista:

    Adoro Cinema - Você é o chargista mais bem sucedido do país e a Turma da Mônica é um sucesso internacional, traduzido para vários países. Falta alguma coisa para ser realizada?

    Maurício de Sousa - Falta tudo. Nessa atividade a gente está sempre no começo. Sempre quer uma coisa nova, novos objetivos para ser atingidos e, mesmo quando atingir tudo, a gente vai inventar outra coisa. (risos)

    AC - Apenas no Brasil existe essa discriminação de considerar Histórias em Quadrinhos como algo infantil. Mas a verdade é que muitos adultos também lêem a Turma da Mônica, não é?

    MS - Na verdade eu nunca quis ser autor de histórias infantis. As minhas histórias começaram a atrair a criançada porque tinham crianças como protagonistas. Hoje temos este mercado fantástico no Brasil que é uma exceção. Estamos trabalhando para que ampliar este mercado no exterior. Acho que deveria ter no mundo mais histórias em quadrinhos para crianças.

    AC - Mas existem, dentro do universo da Turma da Mônica, as histórias da Tina, do Rolo e da Pipa que são mais direcionados ao público adolescente. Existe uma intenção de sua parte em investir mais neste filão?

    MS - Sim, a gente fez uma reimpressão das melhores histórias da Tina e foi um sucesso muito grande. Foi o almanaque de reimpressões que mais vendeu. Descobrimos que tem um nicho muito forte aí e, por isso, estamos nos preparando, isto é, montando uma equipe especialmente para fazer as histórias da Tina em uma revista exclusiva dela.

    AC - Com todo o sucesso da Turma da Mônica, existe uma lenda urbana que diz que o Maurício de Sousa possui todo um complexo sistema para impedir outros quadrinhos. O que você pensa disso?

    MS - A primeira parte da frase esta correta. Eu criei um complexo modelo de produção de histórias em quadrinhos que acidentalmente acaba criando uma barreira para um quadrinho novo. A não ser que o quadrinho seja muito bem bolado, muito bem feito, criativo e que seja uma opção a mais no mercado. Ou seja, ninguém está proibindo ninguém de entrar no mercado, de produzir ou de editar, mas talvez a nossa qualidade esteja dificultando o surgimento de alguns trabalhos ainda não muito amadurecidos. Porque fatalmente há uma comparação. E quando há uma comparação quem está inferiorizando, tecnicamente e na narrativa, perde. Então quem está aparecendo tem que brigar pelo que nós estamos brigando: um trabalho popular, bem feito, com bom preço, distribuição boa... Ninguém proibiu ninguém e não há muro de Berlim. Há a necessidade de qualidade: quem vier, que venha com boa qualidade também. O fato é que fazemos um quadrinho bom. Eu peço que os concorrentes façam quadrinhos tão bons também.

    AC - Você já pensou em investir em outros trabalhos além da Turma da Mônica, seja de outros autores, seja seus?

    MS - Pensei sim. No início das nossas atividades eu queria fazer um trabalho diversificado. Com história do Brasil, histórias de aventuras, histórias românticas. Eu então convidei alguns colegas para produzirem tiras e eu comecei a distribuir. Foram Getulio Delfim, Vilmar, Flávio Rolin, Julio Shimamoto, foram alguns desenhistas clássicos do Brasil que eu convidei e eu comecei a distribuir. Mas ficou uma coisa muito desagradável. Porque o nosso material vendia muito mais do que o material deles. Dava a impressão de que eu estava empurrando o meu material e o material deles estava lá para atender uma necessidade política. E não era isto. Em vista deste problema, de não vender em termos sustentáveis o material destes desenhistas, resolvemos interromper este processo porque estava pegando mal. Os desenhistas entenderam bem, mas a imagem que sobrava era essa. Mas se fosse tornar a fazer algo do gênero, eu não faria novamente junto com a Turma da Mônica porque ela realmente esmaga. Não só esmaga outros desenhistas, com também esmaga outras famílias de personagens meus também.

    AC - Falando agora do filme. Por que retomar o projeto de cinema após tantos anos?

    MS - Eu retomei o projeto de cinema como estava planejado desde a década de 80. O Brasil não tinha condições de fazer cinema na década de 80. Nem eu nem ninguém. Quando não deu, paramos. Agora vamos recomeçar, mas recomeçar com vistas principalmente para o mercado internacional. O novo filme é um material de categoria internacional de animação.

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