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    Chega ao fim o 50º Festival de Roterdã com interessante seleção e aprovação do formato online

    O perfil da principal competição e opiniões de cineastas sobre a experiência virtual.

    Encerrou no domingo (07/02) a parte competitiva do Festival Internacional de Cinema de Roterdã (IFFR). Com uma programação mais enxuta e formato completamente online, o festival conseguiu apresentar seleções cheias de frescor artístico e promover encontros internacionais. A edição de 50º aniversário do festival retorna em junho para mostras não competitivas e eventos festivos, com a esperança de que sejam dessa vez presenciais, trazendo também exposições e outras atividades.

    Com a acessibilidade para imprensa internacional e público local em mente, a organização decidiu focar em um número menor de mostras nesta sessão de fevereiro, apresentando a Tiger Competition, a Big Screen Competition, as sessões Limelight e a seleção de curtas Ammodo Tiger Shorts. A programação também contou workshops online, entrevistas coletivas, plataforma para encontros e confraternização, e as Big Talks, conversas com grandes nomes da seleção, disponíveis para o mundo inteiro. Tudo procurando manter ao máximo viva a experiência de participar de um festival internacional pelo computador.

    Dentre os cineastas com filmes presentes na competição, a opinião é unânime: exibir os filmes online não é o ideal, mas é o melhor que se pode fazer no momento. O diretor libanês Selim Mourad, do filme “Agate Mousse”, complementou em coletiva de imprensa: “No fim das contas, o que importa é se um filme toca uma pessoa”. O privilégio ficou com os membros dos júris, que assistiram aos filmes em salas de cinema especialmente preparadas para a ocasião.

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    À respeito da principal mostra de Roterdã, a Tiger Competition, a seleção deste ano seguiu fiel ao perfil do festival de buscar um cinema independente e ousado, repleta de novos nomes para prestar atenção nos próximos anos. É notável o nível pessoal presente em quase todas as 16 produções integrantes da competição, seja partindo de um lugar de origem, como no brasileiro Madalena de Madiano Marcheti, de um depoimento de uma avó que lutou contra o nazismo entrelaçado com cartas pessoais no documentário Landscapes of Resistance de Marta Popivoda, ou de uma doença, caso no filme de Selim Mourad. Como se não bastasse, não é só o diretor libanês que se coloca como personagem em seu filme, Pascal Tagnati faz o mesmo em seu I Comete - A Corsican Summer, que recebeu o prêmio especial do júri.

    A diversidade também é característica forte com 22 países de todos os 5 continentes, e quase metade dos filmes selecionados para a Tiger Competition dirigidos por mulheres. Essa diversidade se reflete na tela, sendo responsável pela apresentação de histórias específicas, como as complexas relações familiares de uma família em meio à pobreza na Índia em Pebbles, de Vinothraj P.S., que levou o maior prêmio da competição. Mas também revela sentimentos universais, como a emancipação da protagonista de Looking for Venera em um contexto familiar machista. Do Kosovo, a diretora Norika Sefa, também vencedora do prêmio especial do júri, vem se entusiasmando com a identificação das audiências ao redor do mundo com a história de sua personagem.

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    Falando em cinema independente e autoral, não faltam as experimentações visuais. Neste quesito, um dos maiores expoentes é o artista visual Tim Leyendekker, que em Feast, realiza um ensaio/documentário/experimento para explorar um crime que chocou a Holanda, quando dois homens propositalmente infectaram outros com HIV. E percebe-se também uma recorrente manipulação da razão de aspecto nas imagens em muitos desses filmes, seja para formatos mais usuais como o 4:3 de película caseira em intervenções na narrativa de Gritt, de Itonje Søimer Guttormsen, ou nos formatos mais diferentes utilizados, até exaustivamente, em Agate Mousse.

    EXPERIÊNCIA ONLINE PERMITE VISLUMBRAR FUTURO DOS PRÓXIMOS FESTIVAIS

    O bom funcionamento do formato online desta edição de Roterdã é mais um exemplo de sucesso para os organizadores de festivais pelo mundo. Depois de um 2020 que serviu para testar as possibilidades de se realizar festivais de cinema em meio à pandemia, com alguns em formato híbrido como foi o caso de Toronto, em 2021 há uma maior segurança para exibir os filmes virtualmente, seguindo o caso elogiado de Sundance. Esta vem sendo a estratégia até pelo menos o final do primeiro semestre, para quando já estão planejadas, assim como no caso de Roterdã, exibições presenciais do Festival de Berlim, enquanto Cannes adiou sua data para julho. O que muitos profissionais comentam é que, frente ao sucesso da acessibilidade de festivais online à um público mais amplo, e não só à aqueles que vão até o local do evento, vai ser difícil não vermos exibições virtuais acontecendo, ao menos parcialmente, nos próximos anos.

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