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    Realidade que parece ficção: Cigarro do Crime ganha novos episódios e pressiona debate sobre soluções

    Em uma série de episódios investigativos, o principal objetivo é tentar responder: como o Brasil pode frear esse crime?

    Conhecido por se aprofundar em temas que envolvem dramas sociais, o cineasta João Wainer foi atrás de cada uma das peças do quebra-cabeça que forma o cenário do  contrabando de cigarros no Brasil. Tudo para produzir Cigarro do Crime, documentário que apresenta uma realidade tão chocante, que parece até obra de ficção. A novidade mais recente é a mini série de mesmo nome, disponibilizada gratuitamente no canal do YouTube do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). Em 4 episódios, o principal objetivo é tentar responder: como o Brasil pode frear esse crime?  

    Mas, primeiro, onde começa esse crime? Se você imaginou aquela cena de sacoleiros atravessando a ponte da amizade em carros de passeio, trazendo cigarros paraguaios e ilegais escondidos embaixo do banco, você ficou no passado. Hoje, o contrabando de cigarros é operado por grandes organizações criminosas e – pasme – tem a mesma importância econômica do tráfico de cocaína. É com a venda do cigarro ilegal que os criminosos movimentam mais de R$ 12 bilhões todos os anos.

    “O contrabando de cigarros financia a compra de armas e o tráfico de drogas, alimentando um mercado grande o suficiente para comprar quase cem mil fuzis em apenas um ano com o desvio arrecadado”, conta Edson Vismona, presidente do FNCP, entidade responsável pela produção da mini série em parceria com a Vice Brasil.

    Os quatro episódios de Cigarro do Crime dão continuidade à discussão trazida no filme homônimo lançado em maio, incluindo cenas inéditas. São eles: Paraguai, Fronteira, Crimes e Soluções. Todos estão disponíveis gratuitamente e podem ser conferidos aqui: http://www.cigarrodocrime.com.br/

    Não é só um cigarrinho. Como vencer o contrabando?

    O mercado de cigarros ilegais é gigantesco e, com a travessia ilegal do cigarro paraguaio, o crime vem junto, envolvendo até mesmo ex-chefes de estado, sonegação de impostos, suborno das polícias, e o financiamento de facções criminosas e milícias. 

    A história ganha ares de séries de ação, mas o enredo mostra a realidade do contrabando de cigarros do Brasil, que tem entre seus chefões ninguém menos que Horacio Cartes, ex-presidente do Paraguai e dono da Tabesa, maior fabricante de cigarros do país - produtora do Eight, que – acreditem se quiser - é o cigarro mais fumado no Brasil.

    A produção de cigarros em terras paraguaias acontece em larga escala e ultrapassa o consumo local. Anualmente, são 71 bilhões de cigarros produzidos para um mercado de apenas 2,3 bilhões de consumidores. O restante da produção (justamente a maior parte), 63,4 bilhões de cigarros, serve ao contrabando e o Brasil é o principal destino.

    Já sabemos qual o problema. O desafio está em como barrar o cigarro ilegal

    “É preciso tornar o cigarro nacional competitivo com relação à mercadoria vendida no Paraguai”, afirma o delegado geral da PF de Foz do Iguaçu, Mozart Fuchs, no quarto episódio, que aborda as soluções para o contrabando de cigarros. O fato é que o contrabando é um crime complexo e que não se combate apenas com ações na fronteira entre os dois países, melhor detalhadas no segundo episódio. 

    Apesar de efetiva, a fiscalização encontra dificuldades em absorver todo o volume do contrabando, até porque a extensão da fronteira brasileira é bastante ampla e a ação criminosa é corrosiva e constantemente “recruta” mais pessoas. As medidas dependem também do poder público, em conjunto com as forças de segurança.  

    “Por que no Brasil se taxa em 70% e no Paraguai em 18%. É essa diferença que alimenta a indústria do contrabando. Se tivéssemos impostos equivalentes, não teríamos tanto contrabando”, opina Mauri Konig no episódio Soluções. O jornalista investigativo dedicou parte de sua carreira acompanhando a rota do crime organizado.

    Cabe ressaltar que o contrabando de cigarros no Brasil não é um problema recente e, além disso, tem aumentado gradativamente a cada ano: segundo levantamento do Ibope realizado em 2019, de cada 10 cigarros consumidos, 6 são ilegais, o que corresponde a 57% do mercado.  

    MAIS SOBRE OS NOVOS EPISÓDIOS DISPONÍVEIS

    Uma visita ao site do Cigarro do Crime e você terá acesso gratuito a todos os conteúdos – do documentário homônimo a mini séria recém lançada. Falando um pouco mais sobre a temática de cada um, no Episódio 1, “Paraguai”, explica-se um pouco de como o Paraguai se tornou um produtor tão grande de cigarros. 

    Para entender como a indústria do cigarro do crime se sofisticou em tão pouco tempo, a série começa com a equipe da Vice no país vizinho, conversando com Emilio Fuster, Ministro no Combate ao Contrabando, e Miguel Prieto, prefeito da Ciudad del este, além de jornalistas e outros políticos, que contam como a indústria bilionária do cigarro se fortaleceu, incluindo a ligação direta do contrabando de cigarros com o ex-presidente do Paraguai, Horácio Cartes.

    No Episódio 2, “Fronteira”, a equipe investiga como o cigarro do crime chega ao Brasil. A logística envolve diversos atores e grandes organizações criminosas. Do lado de cá, o trabalho intensivo das Polícias, Receita Federal, Ministério da Justiça e Segurança Pública avança e faz com que o país alcance vitórias expressivas no enfrentamento ao crime organizado. Mas serão elas suficientes? 

    No Episódio 3, “Crimes”, entendemos quem são os personagens que fazem parte desse ciclo criminoso. Envolve ex-chefes de estado, sonegação de impostos, suborno das polícias, e o financiamento de facções criminosas e milícias. A pergunta que fica é: o crime compensa? 

    Por fim, no Episódio 4, “Soluções”, explora-se a difícil tarefa de entender como acabar com o contrabando de cigarros no Brasil. Este talvez seja o episódio mais importante – e polêmico - da série, pois trata das medidas que dependem, dos governos - brasileiro e paraguaio, mas que contam também com a conscientização e a luta de cada cidadão.

    Confira “Cigarro do Crime” e divida com a gente a sua opinião. 

     

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